terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Uma peça solta está...

Uma peça solta está. Os colchões e os cantos não adiantam mais. O sono não vem. A gata borralheira não virou nenhuma princesa, continuou, pois, uma gata borralheira. Os metais, não se tornaram ornamentos de bronze, ouro ou prata, apenas sucata morna e velha.
Os olhares, meros adornos de rostos sem nada para expressar, com bocas sem nada para dizer. As doenças e seu romantismo prometido, hoje não fazem mais do que corroer a carne de forma asquerosa e purulenta.
O sol, a chuva, o vento, são separados por notícias da televisão. Os olhos não os percebem mais na rotina promissora.
Os livros não dizem nada de novo. Nada de realmente novo. As almas se acostumam com o que há de pior, e assim o que há de pior já não parece tão pior assim, visto que é o que há. As almas se acostumam a esquecer que são almas e assumem a forma de números, estatísticas mentirosas e confortantes.
O mecanismo de defesa é, senão, apenas conformismo. E nos acostumamos a nos acostumar. Nos acostumamos a querer nos acostumar, a precisar nos acostumar, e a nos sentirmos bem quanto a isso.
E nos acostumamos a morrer, não porque não há outra saída, mas porque nos acostumamos a nos acostumar com tudo.


(15.09.2006)

[Por mim mesma, K.]

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