quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um desabafo legítimo, de Roger Viliano.

Compartilho aqui as palavras de meu marido, que resume muito desse nada que vem tomando conta de tudo:

A dignidade de uma pessoa pode ser facilmente medida não pelas palavras agressivas e indignadas de quem se defende amargamente, mas sim pela sua capacidade de entender que todos os nossos atos, por mais frívolos que possam ser, têm e sempre terão efeito sobre os outros. Saber entender o outro e buscar conciliação, isso sim é um ato digno.
A personalidade de uma pessoa pode ser sentida e "curtida" não pelas suas dezenas de imagens jogadas despretensiosamente num perfil social; ora em defesa de animais maltratados, outrora a foto de um sonho de consumo caríssimo. 
A personalidade é sentida na coesão de todas as nossas escolhas. Saber fazer a diferença, seja numa rede social, seja na vida real é um talento de poucos. A grande maioria, sem nem se perceber, faz tanta poluição virtual como faz barulho no cotidiano, e não consegue acrescentar nada a mundo nenhum. Creio que isso é feito para tentar encobrir no virtual aquilo que consegue maquiar no real. Se por um segundo víssemos a verdadeira pessoa por trás de seus pós e seus posts, veríamos uma quimera, e não uma personalidade forte como querem apregoar.
A educação vem de casa. A capacidade de se relacionar educadamente com mais pessoas do que o seu núcleo familiar, essa vem da escola. Claro, isso vale para aqueles que fizeram da escola uma oportunidade de crescimento e aprendizado, e hoje podem contribuir para o social, real ou virtualmente.
Aos demais, fica a minha quase total indiferença. Digo quase total, pois não me é indiferente o fato de que essas mesmas criaturas estão conseguindo estragar virtualmente aquilo que já o fazem no dia a dia da vida. 
Por favor, voltem lá para o Orkut. Criem as suas comunidades imbecis de "eu como chocolate deitado" , ou "Eu sou antepática, e dai?'', e deixem o Facebook voltar a ser o que todos acharam que poderia ser: Um lugar para se conhecer e compartilhar um pouco mais de cada um, e não o velho ''mais do mesmo'', o ''ui amiga, adooooroo!!!
Acredito que seria isso um primeiro passo para que façam alguma diferença em qualquer um desses mundos.

Roger Viliano 

Sobre Belo Monte

Então, assinei a campanha do Movimento Gota D'água na semana passada. Mas não sem antes dar um boa pesquisada sobre o tema, principalmente pelo fato de serem atores globais. Afinal, sabemos, cá pra nós, que os atores globais não têm nenhuma autonomia, e só fazem o que a Globo lhes permite. Sabemos também que a Globo é suja até o fundo, e também que está fortemente comprometida em ferrar com o governo populista que se constrói no Brasil desde a "Era Lula".
Procurei então sobre o tema, para realmente saber se concordava ou não, e para saber mais informações sobre energia hidroelétrica, afinal, não sou nenhuma engenheira ambiental, e não vejo muito mais além do óbvio nessas questões.
O fato é, que mesmo que os motivos da campanha não sejam lá os mais nobres e estejam ligados a razões mascaradas da Rede Globo, mesmo assim, e independente disto, eu concordo com ela. Sou contra a construção, sim.
Daí, veio toda uma corja criticar a campanha, dizendo que é antipatriótica, pois a usina vai favorecer o crescimento econômico do Brasil, vai levá-lo ao status de grande potência: 



Ah, daí já é outra história né! Sou absolutamente contra essa prisão econômica que o homem se impôs. Toda a vida está condicionada agora a um crescimento econômico que é bom mesmo, e sempre, apenas para os ricos. Que perde cada vez mais o sentido, e que é cada vez mais absurdamente contraditório com as questões humanitárias. Nos dias de hoje, é quase impossível se preocupar com o mundo e não acabar sendo hipócrita. 
É preciso pôr um fim nessa lógica porca [ambição utópica], baseada num crescimento indefinido de números e indicadores econômicos que à nós, reles seres das camadas de baixo, nem é permito entender. Números e fórmulas frios e distantes que determinam nossas vidas todos os dias!

É importante que ao menos mostremos que estamos entendendo o que está acontecendo, que sabemos da gravidade da situação e o que representam tais acontecimentos.

A apatia da indiferença é que é perigosa!


Afinal, como diria o sábio Galeano:

"Onde se recebe a renda per capita? Tem muito morto de fome querendo  saber. Em nossas terras, os numerozinhos têm melhor sorte que as pessoas. Quantos  vão bem quando a economia vai bem? Quantos se desenvolvem com o desenvolvimento?"


Vídeo bastante esclarecedor:


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Como nasce um paradigma

Essa historinha é meio velha, mas vale a pena relembrar para renovar nosso olhar sobre o mundo que nos cerca:

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa  jaula, em cujo centro puseram  uma escada e, sobre ela, um cacho de  bananas. 
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. 
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de porradas. 
Passado mais algum tempo, nenhum macaco  subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. 
Então,  os cientistas substituíram um dos cinco macacos. 
A primeira coisa  que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado  pelos outros, que o encheram de porradas. 
Depois de algumas surras, o novo  integrante do grupo não mais subia a escada. 
Um segundo foi  substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto  participado, com entusiasmo, da surra ao novato. 
Um terceiro foi  trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos  veteranos foi substituído. 
Os cientistas ficaram, então, com um  grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio,  continuavam batendo naquele que tentasse chegar às  bananas. 
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam  em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não  sei, as coisas sempre foram assim por aqui..." 



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Século XX-XXI

   [...] as pessoas mais simples desta época se orientavam por uma vigorosa moralidade secular tão forte quanto qualquer moralidade religiosa que eu já conhecera. Os intelectuais carregavam as bandeiras. Mas pessoas inteiramente comuns em toda a América se preocupavam apaixonadamente com a “paz”, os “pobres” e “o planeta”, como se estivessem possuídas por um zelo místico.
   Tencionavam acabar com a fome neste século. Erradicariam as doenças a qualquer preço. Questionavam ferozmente a pena de morte e o aborto. E combatiam as ameaças da “poluição ambiental” e da “guerra de holocausto”, com tanta violência quanto em épocas passadas combateram a bruxaria e a heresia.
   Quanto à sexualidade, já não era mais uma questão de superstição e medo. Ela estava sendo despojada dos últimos traços de religiosidade. Era por isso que as pessoas andavam meio nuas. Era por isso que se beijavam e se abraçavam nas ruas. Agora conversavam sobre ética, responsabilidade e beleza do corpo. A procriação e as doenças venéreas estavam sob controle.
   Ah, o século XX. Ah, o giro da grande roda. Superara os sonhos mais desvairados este futuro. Transformara em tolos os profetas sinistros de épocas passadas.
   Eu pensava muito nessa inocente moralidade secular, nesse otimismo. Neste mundo brilhantemente iluminado onde o valor da vida humana era maior do que havia sido antes.


Lestat

[RICE, 1984]

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Minha pequena ladra de carros...

       Toda vez que minha irmã (Luíza, 8 anos) vai lá em casa, ela se acaba jogando playstation, com bem maior entusiasmo e dedicação quando se trata do jogo Grand Theft Auto. No início gerou muitos debates familiares. Minha mãe achava um absurdo, e defendia que acabaria influenciando minha irmã a ser violenta. Meu pai só ria, sem saber muito bem o que dizer. Minha vó também achava muito violento. 
       Enfim, eu sempre achei que isso não tem grandes coisas a ver não. Primeiro porque sempre joguei coisas bizarras quando era criança e nem por isso saí assassinando ninguém. Segundo, porque, há uma geração atrás de criminosos, a maioria deles nem teve contato com essas coisas. 
       Em suma, a educação e o caráter são, sim, algo que se relaciona com o exemplo prático e não com discursos vazios, moralistas e demagogos. Minha família é muito honesta, de caráter muito sólido. Simples e humilde, mas limpinha e honrada. Tudo isso no dia-a-dia, na prática cotidiana, no que realmente interessa. Meus pais não dizem a Lu pra agir de determinada forma que julgam ser a certa enquanto eles próprios fazem o total contrário. Talvez more aí o segredo de uma boa educação. Ou não, posso estar completamente errada. Enfim, de qualquer forma a prova cabal de tudo, que nos calou a todos sobre a questão foi a seguinte situação:

(Luíza matando uma prostituta no jogo para conseguir o dinheiro dela)

Luíza: Morre, morre!

Eu: Ô Lu, como é que faz pra conseguir dinheiro? (pescando, né?)

L: Na vida real ou no jogo?

Eu: No jogo.

L: A gente tem que assaltar e matar as pessoas na rua.

Eu: E na vida real?

L: Na vida real a gente tem que estudar e trabalhar.


Sem mais perguntas meritíssimo. 


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Envergo, mas não quebro - Lenine


Se por acaso pareço
Que agora já não padeço
De um mau pedaço na vida

Saiba que minha alegria
Não é normal todavia
Com a dor é dividida

Eu sofro igual todo mundo
Eu apenas não me afundo
Em um sofrimento infindo

Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mas volto depois sorrindo

Em tempos de tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilibro e requebro

É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambu, taquara
Eu envergo mais não quebro

Eu envergo mas não quebro

Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem

Tudo acaba, se inicia
Temporal e calmaria
Noite e dia vai e vem

Quando é mar a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto nem queixo

E tal qual um barco solto
Salto do alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo

E em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro

Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo mas não quebro

Eu envergo mas não quebro
Eu envergo mas não quebro
Eu envergo mas não quebro


...

Então não há nada que resista a essa carga de morte constante e implacável que o tempo despeja em nossa vida? [...] O presente, como tal, é apenas a soma do ultra-instantâneo de cada momento isolado, que se converte de não nascido em já morto. Mas então onde é que está a vida nisso tudo? Então ela é apenas uma quantidade de coisas mortas acumuladas - pensamentos, palavras, homens e cachorros, mulheres e livros, tudo morto, ultrapassado? Esmagado? Então a gente vive mesmo ruminando o que não existe, mastigando coisa morta, apodrecida?

(Carta de Fernando Sabino para Otto Lara. In: Sabino, 2002)


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