quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ser mãe, so far...

     Apesar de ter sido criada quase sempre pela minha avó, passei algum tempo com minha mãe, e logo nos primeiros anos de vida, com as duas. Minha mãe é do tipo super protetora, e quando digo super protetora, é super protetora mesmo. Do tipo que não me deixava nem tomar banho de chuva. 
Não dá bem pra saber se eu fui uma criança cheia de problemas de saúde por destino, ou porque minha mãe me isolou demais. Então, era asma, renite, sinusite, garganta, anemia (isso que eu era obrigada a tomar suco de beterraba), e por aí vai... O lance é que sempre ri muito dela, lembrando das vezes em que eu acordei com a mão dela no meu nariz pra ver se eu estava respirando. "Coisa de mãe". Ou então, ela me acordava pra ver se eu estava só dormindo. É, a coisa é meio doida assim mesmo. 
      O fato é que de certa maneira hoje chego a compreender essas pequenas atitudes dela. Meu filho completa um mês amanhã - 22/10. Agora posso dizer que o "pior" - ou o não tão bom - já passou. Digo isso porque esse início foi muito complicado. É uma fase de adaptação, e tu tá tão confusa e atabalhoada, em parte por uma questão hormonal, em parte porque não consegue dormir e por isso não consegue mais pensar nas coisas com a mesma clareza, e em parte, claro, porque é uma PUTA mudança na tua vida, afinal chegou um serzinho que depende inteiramente de ti. Trocando em miúdos, a partir de agora, até mijar é supérfulo, porque tu só vai ao banheiro quando dá. Li um post sobre maternidade que falava em uma sensação de refém da situação, e realmente é. Tua auto-estima está abalada, teus hormônios estão desvairados e tua rotina de ponta cabeça. Por isso tudo é que é um momento muito difícil esse início, ao menos pra mim foi. Tu te questiona se está sendo uma boa mãe, se vai conseguir ser uma boa mãe, enfim, muitas neuras e micro-fases. 
     Agora eu estou mais senhora da situação e estou conseguindo curtir meu picorrucho muito mais e melhor. É cansativo, por vezes estressante, outras assustador, mas ser mãe é maravilhoso e indescritível. 
     Não sou, nem quero ser super protetora como minha mãe, mas hoje eu não consigo ficar muito tempo sem dar uma conferida se o Caio está respirando, nem que seja de longe, pelo prendedor do biquinho que sobe e desce. Sofro junto com ele cada cólica, cada careta, desejando que fosse eu a sentir dor. Comemoro cada peidinho que ele consegue dar, cada boa cagada que traz aquele olhar de alívio ao rostinho dele. 
     É, desculpe se esse post não é daqueles que narram a maternidade só com palavras bonitas. Mas tudo isso que expus, pra mim, manifesta com perfeição o sentimento de ser mãe nesse alvorecer da minha maternidade.


...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Carta Pública de Amor

         O primeiro divisor de águas da minha vida, sem dúvida, foi meu marido. Parceiro, amigo, amante. O amor da minha vida, minha alma “gêmula”. Nosso amor me despertou tantas coisas novas, coisas belas. Coisas que dão sentido a uma existência. Nosso amor me trouxe pra maturidade, uma maturidade orgânica, não inventada. Deu-me a liberdade de mostrar meus abismos internos, minhas feiuras, aquele nosso eu das profundezas mais obscuras e intocadas. Aquele nosso eu do qual desviamos ligeiramente os olhos ao percebê-lo à luz da consciência.
         Nosso amor me fez sair da minha casca. Arrancou-me do meu mundinho egoísta. Fez-me querer e ter muito mais. Trouxe-me pra luz do mundo real. Mostrou-me uma felicidade que poucos têm a oportunidade de conhecer. Uma felicidade do sentir.
         Sou muito grata. Agradeço em silêncio todos os dias ao universo a minha sina. Tantas são as vezes em que nos revoltamos contra as injustiças da vida, contra seu sadismo cínico e irônico Tantas as vezes que nos levantamos cansados, cansados de  ver o quanto os valores deste mundo estão do avesso.
         Mas o certo é que as coisas mais belas desta vida não vêm em saco plástico. Nossa recompensa - que não é recompensa, mas o universo nos retornando o que emanamos pra ele - é muito maior: é nossa vida, todos os dias e a felicidade e a satisfação que ela nos traz. A tranquilidade e a certeza de que estamos na trilha certa, enquanto tantos outros vagueiam às cegas por caminhos obscuros em busca do que nem sabem.
         Agora, mais um marco, nosso filho, fruto desse nosso amor tão verdadeiro, tão sincero. Mais amor, mais felicidade, todos os dias. Criamos vida, trouxemos uma nova pessoinha à este mundo maluco. Estou aqui pra dizer que tenho muito orgulho de nossa família, e que sou imensamente grata pela vida que estamos construindo, pelos objetivos alcançados, pelos obstáculos superados, pelo sofrimento que nos fez crescer juntos e descobrir ainda mais belezas um no outro.
        Obrigada por existir, por ser parte da minha vida; e obrigada por esse pedacinho lindo de vida que juntos geramos; obrigada por me mostrar que um amor como o nosso pode sempre crescer e engendrar dentro de si a semente de um amor que vai muito além de tudo que já vivemos, o amor de pai e mãe.
        Sei que hoje te amo mais do que ontem, e sei que, por toda a vida, sempre viverei pequenos e lindos momentos ao teu lado que me farão te amar ainda mais.
Te amo.


São Leopoldo, 08.11.2013.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Algumas palavras acerca do "sexo forte".

    Ri muito lendo essa passagem do King...



     "Ela deu uma risada. Os homens eram engraçados, sim, é claro que eram, e o que havia de mais divertido era que praticamente eles não tinham a menor consciência disso. Homens, com nomes que lhes pareciam tão
valentes, tão capazes de impor respeito. Homens, tão orgulhosos de seus músculos, suas aptidões para a bebida, suas aptidões para a comida; tão incessantemente orgulhosos de suas picas. 
     Homens! Não conseguia entender por que tantas mulheres os temiam. Não tinham os deuses criado os homens com a parte mais vulnerável de seus órgãos pendendo fora dos corpos, como um pedaço deslocado de tripa? Chutem aquilo e eles se curvarão como caracóis. Acariciem aquilo e seus cérebros se derreterão."

Rhea de Cöos - Stephen King. a Torre Negra: Mago e Vidro.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

É verdade...

É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo. Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de ação democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira. Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e atuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica. E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder econômico, com a objetiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os de certas conhecidas minorias eternamente descontentes...

[José Saramago, Esse mundo de injustiça globalizada, 2002.]

domingo, 10 de março de 2013

O grande príncipe...



Vinha eu no ônibus esses dias. Um pouco contrariada, outro pouco tristonha, outro pouco indignada, e muito cabisbaixa. Algo acontecera no trabalho naquele dia. Umas palavras ríspidas e despropositadas. De certo modo, desrespeitosas, porque tudo que fere é desrespeitoso, as pessoas se esquecem disso. Tudo é justificável pelas demandas da grande máquina, mas não, não são, as pessoas também se esquecem disso. Um dos motivos pelo qual gosto tanto de ler, é que o ato da leitura me transporta para um outro mundo e me impede de ficar 'caraminholando' coisas na minha cachola, remoendo coisas que me incomodaram. 
Bem, o fato é que nesse dia, vinha eu em vias de caraminholar, quando resolvi escolher o próximo livro que ia ler. Tinha acabado o 'A escolha dos três' na viagem de ida. Resolvi então abrir o Pequeno Príncipe, livro que há tempos estava em meus 'vou ler', mas nunca era o escolhido da vez. Era curtinho, um livro de uma viagem só. 
Eu acredito muito na sincronicidade da vida. Muitas coisas acontecem, com todos nós, basta que estejamos alertas para percebê-las. A prática da leitura já me provou muito dessa sincronicidade da qual estou falando.  Por exemplo, não adianta termos determinadas certas leituras, às vezes é preciso abraçar o que nos cai nos braços como um sinal. Cada coisa tem seu momento propício de acontecer, para que possa somar com outras experiências de forma adequada. 
Então, eis que do nada decido pelo Pequeno Príncipe. Fui lendo, e me espantei no riso. Tudo, então parecia tão bobo, e eu olhei para os acontecidos com outros olhos. 
É uma leitura infantil, mas me tocou de uma maneira tão única. Não porque fosse o 'Pequeno Príncipe', livro famoso, popular e quase 'obrigatório'. Não. Me tocou fundo porque aquele era o exato momento em que eu precisava lê-lo.
Eu sou assim. Sou de caráter, sou educada, sou preocupada com os outros, não gosto de falar grosso com ninguém, de mandar em ninguém, de humilhar ninguém, ainda muito menos para me promover, para construir uma imagem de respeito. Não, essa não sou eu. Então, quando um chefe vem e grita comigo, sem motivo para tal, pois não há motivo no mundo que justifique a falta de respeito entre o seres humanos, então, não. Eu vou observar. Não vou acatar, mas vou silenciar, pois me recuso a entrar nesse jogo ridículo de relações de trabalho. Talvez até ache cômico, como na maioria das vezes o acho. Naquele dia, estava fragilizada, talvez, por algum motivo que não chego a conhecer. Por isso, fiquei mais abalada.
E no fim, não é um abalo pessoal não. Não é uma medíocre sensação de vergonha ou ego ferido, não. Não sou afeita a dar importância pessoal a essas acontecimentos. Meu abalo é antropológico. É uma tristeza e um desânimo pelo ser humano. Por perceber quão baixo as pessoas chegam para estar no 'alto', para se sentirem melhores, mesmo que à noite, sobre o travesseiro, não passem de uma poço de amargura, de despeito e de inveja. É triste, muito triste ver que o ser humano não se respeita como ser humano. Se comporta de acordo com uma teia venenosa de relações e simbolismos efêmeros e banais, sem valor nenhum.  

Mas, digredi. Vim aqui pra escrever sobre como ler o 'Pequeno Príncipe' salvou meu dia abrindo meus olhos para a real situação. Melhor, me lembrando sobre o olhar certo sobre tal situação. 
Não, não fico nem mais um segundo aperreada com essas mesquinharias das pessoas do mundo real. Porque afinal, eu chego em casa e tenho um travesseiro gostoso sobre o qual durmo o sono dos justos, tranquila, sem remorsos, sem culpas, com uma sensação gostosa de integridade moral. Não essa integridade comprada na esquina, alimentada por monólogos egocêntricos e vazios. Não, não esse tipo de integridade moral tão comum nos dias de hoje. Mas a verdadeira integridade moral, de quem não sacrifica seus princípios por uma promoção, ou por uma oportunidade, ou mesmo por um tal respeito de mentirinha, máscara do medo.   

Há muito tempo que cheguei a conclusão que não sou uma mulher séria. Sou uma mulher feliz. 

Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!
[Antonie de Saint-Exupery - O Pequeno Príncipe, 1943]

Uma coletânea.


Esta é uma coleção que organizei a partir da carreira da musicista Amy Lee. Coloquei desde músicas que precedem a discografia 'oficial', presentes nos eps do final da década de 90 e início de 2000, quando o Evanescence ainda era apenas uma dupla formada pela talentosíssima Amy Lee e seu companheiro de composições Ben Moody, até as canções mais recentes do álbum de 2011, Evanescence.
Essa não é uma coletânea 'top'. Meus critérios foram, primeiramente, e óbvio, meu gosto pessoal. Em segundo lugar, e que coincide com meu gosto pessoal, o critério 'lado B', ou seja, músicas nem tão conhecidas que são, muitas vezes [quase sempre], melhores dos que as músicas que acabam estourando na grande mídia. Eu, particularmente, não gosto das músicas mais conhecidas, seja por ter enjoado, seja pela carga banal que elas acabam encarnando. No caso de algumas músicas mais conhecidas, como Going under e Bring me to life, dei preferência por versões acústicas, pouco ou menos conhecidas, e que são, aos meus ouvidos, mais belas do que as versões de estúdio.
Coloquei ainda alguns singles que foram lançados à parte de álbuns, como Together Again, ou participações em trilhas sonoras de filme, como é o caso de Sally's Song, gravada para o filme 'The Nightmare Before Christmas' de 1993, animação em stop motion escrita pelo famoso Tim Burton.
Bom, é isso gente, espero que apreciem o excepcional talento desta exímia compositora, cantora, pianista, harpista, pintora, enfim, um artista completa e autêntica, coisa muito rara em nossos dias.





terça-feira, 5 de março de 2013

Não a vida, nem o tempo. Mas o tamanho.


— O maior mistério que o universo propõe não é a vida, mas o tamanho. A criança, que em geral está familiarizada com o espanto, diz: papai, o que existe em cima do céu? E o pai diz: a escuridão do espaço. A criança: o que existe depois do espaço? O pai: a galáxia. A criança: depois da galáxia? O pai: outra 
galáxia. A criança: depois das outras galáxias? O pai: ninguém sabe. Está entendendo? O tamanho nos derrota. Para o peixe, o lago onde ele vive é o universo. O que pensa o peixe quando é puxado pela boca por um gancho prateado, nos limites da existência, e penetra num novo universo onde o ar afoga e a luminosidade é uma loucura azulada? Onde enormes bípedes sem guelras o amontoam para morrer numa caixa sufocante, forrada de vegetação úmida? 
Ou se pode pegar a ponta de um lápis e ampliá-la. Vamos chegar a um ponto onde uma atordoante compreensão cai sobre nós: a ponta do lápis não é sólida; é composta de átomos que giram e rodopiam como um trilhão de diabólicos planetas. O que nos parece sólido é apenas uma rede de coisas soltas, mantidas juntas pela gravidade. Vistas na sua real dimensão, as distâncias entre esses átomos podem se tornar quilômetros, abismos, eternidades. Os próprios átomos são compostos de núcleos com prótons e 
elétrons girando em torno deles. Podemos descer ainda mais até as partículas subatômicas. E depois para o quê? Para os táquions? Para nada? Claro que não. Tudo no universo rejeita o nada; sugerir um término é o 
único absurdo que existe.
Se você recuasse para o limite do universo, será que encontraria uma cerca de madeira e tabuletas dizendo SEM SAÍDA? Não. Talvez você encontrasse algo duro e arredondado, como o pintinho deve ver o ovo do 
seu interior. E se você atravessasse a casca beliscando (ou encontrasse uma porta), não poderia jorrar, nesses confins do espaço, uma incrível luz torrencial através da abertura? Você não poderia olhar por ali e descobrir que todo o nosso universo é apenas parte de um átomo numa camada de relva? 
Não poderia ser levado a pensar que, ao queimar um graveto, você está 
incinerando uma eternidade de eternidades? Que a existência não avança para um infinito mas para uma infinidade deles?

[Stephen King, O pistoleiro, 1982]

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Poucos...



Pouca gente, se é que alguém o fez, parece ter compreendido o mais autêntico princípio da realidade: novo conhecimento conduz sempre a mistérios ainda mais espantosos. Maior conhecimento fisiológico do cérebro torna a existência da alma menos possível, ainda que mais provável pela própria natureza da pesquisa.

[KING, 1982]

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A dúvida por definição...


A morte não é um mistério que amedronta.
Ela é uma velha conhecida nossa.
Ela não esconde segredos que possam perturbar o sono de um homem honesto.
Não vires o teu rosto ao ver a Morte.
Não te incomodes se ela parar tua respiração.
Não a temas, porque ela não é o teu amo que vem em tua
perseguição.
Não o teu amo, mas um simples servo do teu Criador,
aquilo ou Aquele que criou a Morte, e te criou — e que é,
ele sim, o único mistério.

— LIVRO DAS LAMENTAÇÕES