quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A gente acaba parando numa estante...

Tenho esperado furacões
Vendavais intermináveis de sensações
Uma cena comum nas grandes telas
Uma briga intensa pretendida
Repentina batalha na tina natural

Tenho exaltado esperanças
Velado derrotas
Embalado planos
Catalogado fatos (isso dói)
Contabilizando a vida
Anseio o choque

Afronto a progressão estática
A lógica periódica extraviadora de sentimentos
Reprodutora de sonhos prontos
Mitigadora de devaneios impossíveis e deliciosos


Aturas tu viver em mundo de surpresas cumpridoras de papéis determinados?


[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

.Parada Gay.

Há algumas semanas aconteceu, na praça da biblioteca (São Leopoldo), a “Parada Livre” ou “Parada Gay” como a maioria chama. Foi um evento grande, mas a situação me chamou a atenção deveras. Afinal pelo que os homo, bi, e afins lutam? O que eles defendem? O que reivindicam?
Sempre pensei que fosse respeito, direitos iguais, integração sincera na sociedade etc. Mas aquele movimento me fez pensar. Os homossexuais sempre levantam a voz para lembrar que são pessoas como outras quaisquer que têm suas rotinas e que, principalmente, homossexual não é sinônimo de promiscuidade. Isso não é uma questão de moralidade, afinal não acredito muito nisso, mas há uma certa contradição no discurso.
O fato é que a festa estava com um clima estranho, estavam presentes muitas crianças, casais homossexuais, heterossexuais, famílias, etc. Aconteceram shows bastante atrevidos de transformistas (não sei se esse é o nome), com roupas e lingeries minúsculas e movimentos sexuais, sem contar os manos fortões de cuecão de couro que estavam presentes dançando rebolativamente em volta dos que se apresentavam.
Eu gostaria de deixar bem claro que meu questionamento não é de ordem moralista, não estou criticando as atitudes em si, mas acho que as ações estão indo contra o discurso homossexual de igualdade. Afinal, se uma mulher com aquelas roupas, rodeada daqueles caras, fazendo aqueles movimentos estivesse lá, a coisa seria muito diferente, talvez caracterizasse até mesmo um escândalo. Eu acredito que esse tipo de banalização das reivindicações homossexuais acabe prejudicando a causa realmente séria pela qual eles lutam. Continua-se alimentando (também pelos próprios gays inclusive!) uma imagem extrema que é vinculada a qualquer gay, lésbica ou bissexual, que não corresponde à realidade absoluta e que acaba prejudicando quem luta contra esse estereótipo estigmatizado do homossexual.
Não esqueçamos dos casais homossexuais que lutam pelo direito de adotar um filho, de casar-se, de viver uma vida “normal”, sem qualquer loucura pervertida. A promiscuidade também é um direito (!), claro, mas conceitualmente a farinha acaba ficando no mesmo saco, e na sociedade moralista na qual vivemos isso prejudica os primeiros.
Afinal qual é o foco? A igualdade e respeito ou a naturalização e banalização da promiscuidade? Qualquer que seja não deixa de ser legitimo, mas se faz necessário rever a atuação para que entre em sintonia com a causa e se necessário rever até mesmo a própria causa não é?
(15.11.2007)

[Por mim mesma, K.]

Engima de toda a gente...

Sempre que penso e reflito,desisto, e isso me faz bem.Nada sobre a jornada de crises existenciais, nada sério demais, e no entanto fundamental. Me deixa bem a negativa.Tão trivial como meu pão que é veneno.Advinhas tu o que sejas?E te questiono: o que seria isso pra ti?

[Por mim mesma, K.]

Pós-modernidade falida.

Que mundo é esse onde bundões são grandes sujeitos? Onde exploradores são cidadãos ditos respeitáveis, que acima de tudo contribuem para o desenvolvimento da sociedade? Que mecanismo é esse, onde quem perde sempre perde mais, e quem ganha sempre ganha mais? E se ganha o que? Ou se perde? O objeto de desejo é válido como humano?
Que mundo é esse? Onde um carro vale mais que uma carona? Onde uma carteira vale mais que um ser humano? Que mundão é esse onde o ser humano assumiu duas personagens apenas: O EXPLORADOR e O EXPLORADO!!!!!!!????
Que mundo maldito é esse, onde desejos são traduções de quantias, onde só se fala em crescer na vida, vencer na vida? Que conceito de crescer e vencer esse mundo pré-fabricou para nos convencer a consumir e a consumir, e a não pensar, não questionar.
Isso é cansativo demais. Somos reféns. Malditos e inertes reféns de um contexto enlouquecido. Onde figuras vazias são modelos padrões. Onde se valoriza a velha cadeia alimentar, onde o maior come o menor, e se aceita isso passivamente. Símios! Nada mais que isso!! Símios, que ganharam um brinquedo muito especial e que não conseguiram dominar: o raciocínio.
Raciocínio este que serve tão bem para sustentar as atrocidades primatas que são cometidas a todo o momento. Paradoxal!!!
Pensemos na civilização e em toda a sua complexidade. Seriam os Deuses, extraterrestres? Seriam os Deuses, astronautas? Seriam os deuses, os inventores da pólvora?
Seriam Deuses, aqueles a quem é dado poder maior do que aos demais?
Seria Deus, o inventor da Coca-cola?
Seria Deus o capitalismo?
Seria Deus, um corpo imensuravelmente maior, do qual nós não somos mais do que meros parasitas parasitando?
Seríamos Deuses, nós mesmos? Com milhares de parasitas parasitando em nosso organismo e se questionando a mesma coisa?
(22.06.2006)

[Por mim mesma, K.]
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Ilustrando...
"A Terra é um enorme bicho. Vejam os vulcões. São tumores por onde jorra o pus das lavas. E esse passeio maravilhoso que o bicho faz através do infinito? Formidável! Os demais planetas e sóis são outros bichos. Se um dia eles inventarem de guerrear estamos bem aviados. Vai ser um cataclisma nunca visto. O mundo é um bicho. Agora descubro uma definição melhor para o homem. O homem é um bicho, um parasita do grande bicho. Alimenta-se dele como o carrapato se alimenta do gado. Mas um belo dia o bicho come o parasita. É quando o homem morre e vfai para debaixo da terra".
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Veríssimo, Érico. Música ao longe.

Louca-feira.

Sexta-feira é o dia louco da semana, o maior de todos ao menos. Todos com pressa, todos vivendo. Uns batucando aqui, outros remexendo acolá, distraindo os cérebros para não pensar. O motorista do ônibus é quase um assassino por inúmeras e incansáveis vezes, vítima da fúria de uma sexta-feira.
A lotação recebe o mérito de ser chamada “lotação” com seus passageiros loucos, em uma sexta-feira louca, como não podia deixar de ser. Quase mal dizendo a lógica ao agregar tantas pessoas quanto não podia.
Há sempre os tipos característicos. Aqueles homens que passam esfregando seus bagos com orgulho em qualquer ninfeta ou senhora com quadris pomposos ou de agrado deles. Mulheres gordas que falam alto, como se sua voz fosse proporcional ao resto do corpo. Moças contando dramas românticos pelos quais passaram ou estão a passar recentemente, como se todo mundo pudesse e quisesse saber de sua vida. E, claro, há sempre uma família, completa, vinda de uma festa de aniversário no pior horário possível em uma sexta-feira louca. Com direito a balões, sacolas, salgadinho fedorento, crianças barulhentas e cretinas e mulher descontrolada. Há ainda um bebê, sempre há um bebê, em algum lugar que começa a chorar sem parar por algum motivo. E por mais que se tenha consciência de que os bebês muitas vezes são pedacinhos de carne graciosos, fofos e tudo mais, nem por isso deixamos de sentir vontade de torcer o infeliz que não pára de gritar, é simplesmente enervante.
E no sacode-sacode, como não poderia deixar de ser, o frenesi de aromas começa a se estabelecer. Há homens de meia idade, ou de idade e meia, com seus hálitos de cachaça que chegam a tontear. Há aqueles que economizam não só no perfume, mas como também no banho. Resultado de um dia cheio no trabalho ou de falta de higiene? Há aqueles que exageram nas essências industrializadas e fazem com que seus perfumes caros acabem se misturando a aromas indignos como, por exemplo, flatulências descaradas.
As curvas parecem gigantes. Os gritos, os sacolejos, tudo é nervoso e constante, tudo na sexta-feira louca, pois não poderia deixar de ser...
Mas os destinos acabam chegando para todos, para uns mais cedo do que para outros, mas de qualquer maneira, todos descem da lotação deixando um pedaço de si, um pedaço da sua vida, breves momentos que, como todos, não voltam mais...
(15.07.2006)

[Por mim mesma, K.]

Uma peça solta está...

Uma peça solta está. Os colchões e os cantos não adiantam mais. O sono não vem. A gata borralheira não virou nenhuma princesa, continuou, pois, uma gata borralheira. Os metais, não se tornaram ornamentos de bronze, ouro ou prata, apenas sucata morna e velha.
Os olhares, meros adornos de rostos sem nada para expressar, com bocas sem nada para dizer. As doenças e seu romantismo prometido, hoje não fazem mais do que corroer a carne de forma asquerosa e purulenta.
O sol, a chuva, o vento, são separados por notícias da televisão. Os olhos não os percebem mais na rotina promissora.
Os livros não dizem nada de novo. Nada de realmente novo. As almas se acostumam com o que há de pior, e assim o que há de pior já não parece tão pior assim, visto que é o que há. As almas se acostumam a esquecer que são almas e assumem a forma de números, estatísticas mentirosas e confortantes.
O mecanismo de defesa é, senão, apenas conformismo. E nos acostumamos a nos acostumar. Nos acostumamos a querer nos acostumar, a precisar nos acostumar, e a nos sentirmos bem quanto a isso.
E nos acostumamos a morrer, não porque não há outra saída, mas porque nos acostumamos a nos acostumar com tudo.


(15.09.2006)

[Por mim mesma, K.]

E agora Joana?




A ruga alcançou
A exaustão se instalou
O conformismo ditou
A bengala rosnou

O gato miou
A folia cessou
A rosa murchou
O estrago enlaçou

A melancolia bateu
O respeito fugiu, o pé se aquietou
E com o olho o que aconteceu?
Esse chorou, lamentou

A idade avançou
A cortina caiu
O desespero negou
O galo não mais cantou

O tempo ruiu
O corpo caiu
A terra chamou
A morte levou
(22.06.2006)

[Por mim mesma, K.]

Fábrica de remoer...

Fico remoendo sempre as mesmas coisas, e quando paro de remoê-las, penso em quão minha condição de “remoedora” é patética. Dou aos fatos uma dimensão gigante, tanto para os ruins, quanto para os bons.
Reflito sobre aquele pensamento de que mesmo que algo te pareça bom, tanto não o é, pois poderia ser muito melhor, logo, no fim das contas sempre acaba acontecendo o pior. A gente, sempre otimista e, claro, acostumado à realidade cruel do cotidiano, nos aliviamos quando não acontece algo de tão ruim assim. Dessa forma, então, aprendemos a achar tremendamente bom, o que é uma grande merda que, claro, poderia ser muito pior também, mas que podia ser infinitamente melhor. Evidentemente há duas formas de se enxergar essa “reflexão”, tanto usando um extremo, quanto o outro. Por exemplo, se pensarmos, que sempre acontece o melhor, por que poderia ter acontecido algo muito pior.
Por mais que a senhora lógica venha nos colocar na cabeça que tanto um quanto o outro pensamento são racionalmente possíveis, dentro do contexto, mesmo assim não te parece que é muito mais aceitável e coerente o primeiro caso? A mim, sem dúvida. Talvez opinião filha da insatisfação nata do ser humano, de condicionamentos, enfim. Mas logo, considerando que os conceitos de “melhor” e “pior” são totalmente relativos transitórios, acho que todas as especulações até então não valeram de nada. Ficando mais itens para a pseudofilosofia.
Então, fico mergulhada numa incógnita, que hora sou eu, hora são os outros e tudo o que eles significam dentro da minha cabeça. Sem saber ao menos de onde vim, pra onde vou ou que diabos estou eu fazendo aqui.
Acho que pelo menos 90% das pessoas (chute) devem ter esse tipo de questionamento. A diferença é que vivo dentro desse questionamento. Sou meu questionamento. Não acho, em nada, algo que me venha favorecer o encontro com um “porquê” que me convença. Esses 90% sempre acabam encontrando esse porquê, seja de uma forma ou de outra. E não estou falando de verdade absoluta, pois aí está algo que também me angustia aos montes. Essas pessoas encontram algo para sustentar sua existência, e qual delas está certa? Talvez nenhuma, talvez todas. O fato é que encontram sua verdade, conseguem autojustificar suas existências.
O fato é que talvez todas elas estejam simplesmente sendo regidas pela imaginação. Talvez todo esse meu questionamento seja fruto de um condicionamento ao ser humano de se achar superior aos outros animais, de achar que existe algo mais, mas talvez não exista nada, e sejamos apenas animais que pensam demais, com tecnologia demais, mas iludidos pela tola mitologia que nós mesmos criamos quando ainda não conseguíamos explicar o nascer do sol.
Infelizmente, esse parecer é o que mais me vem sendo cabível. Isso sem dúvida deixa qualquer um em profundo estado alarmado, de angústia e inquietação. Por que se o for como realmente penso (por eliminação de outros), o que mais tenho a fazer aqui? Multiplicar-me? Vencer os mais fracos? Ocupar a maior parte de território possível?
Durante muito tempo, tive a impressão de que o melhor a se fazer, era procurar, pois, prazeres, sensações boas, que agradassem meu ser, de uma forma ou de outra, num frenesi hedonista. Coisas simples como beijar, fazer novos amigos, sair, escutar aquela canção ótima. Enfim, coisas que liberassem a tal substância no cérebro que te faz sentir bem (a ciência já mecanizou até o amor ora pois!). Por um tempo isso aquietou minha inquietude. Mas agora estou numa fase terrível, posso dizer. Não tenho visto perspectiva em nada. As únicas coisas que me fazem bem, e também acabo me perguntando qual é o mecanismo envolvido nisso (no universo), são estar com os amigos, pessoas de quem realmente gosto, sinto prazer de estar ao lado, conversar com tais, me envolver em suas vidas, me importar com elas e ganhar a reciprocidade, e ler, conhecimento em geral, que talvez tenha a ver com os questionamentos constantes. Disseram-me, uma vez, por ironia uma pessoa que nem me conhecia, só através do perfil do orkut, que eu devia ser uma pessoa que gosta de fugir da realidade, pelo profundo gosto pela leitura. Desde então comecei a associar essas duas informações, e sem dúvida, penso, que senão de todo, em parte ela esteve correta.
Então, em meio a tanta filosofia de boteco, venho engavetar mais um dia de minha existência. Fechado com chave de ouro devo dizer, já que encontrei no ônibus uma criatura que fez o primeiro médio comigo. Era garota, muito bem vestida, e eu me senti um lixo, absolutamente desgrenhada e desalinhada, perto daquela florzinha de jasmim, que enquanto fingia que não me conhecia, soltava aquele olhar de profunda superioridade pra cima de muá. É incrível que, por mais que tenhamos convicção de que somos melhores que algumas pessoas (negar isso é demagogia), mesmo assim, muitas vezes nos sentimos mal perto delas por motivos ridículos.
(06.06.06, data sugestiva...)

[Por mim mesma, K.]

Comoção forçosa.

Então, estou calado, faz algum tempo já, diante da falta de expectativa. Penso que seria melhor a morte de uma vez por todas, já que me parece o vazio eterno e sem maldições. Entretanto, nada posso afirmar senão meus infortúnios constantes e constantes. Estou mudo, e, no entanto grito, no entanto choro. Um choro calado, um grito escondido no mais secreto recôndito de minha alma, se a possua realmente. A essas alturas nada me há de certo. O amor me foi ingrato, mesmo sabendo que poderia me provar sua existência tão negada outrora. Flagelou-me e me arrancou as possibilidades das mãos. Não depende de mim, mas da realidade que tende a me destruir. Mediante a esse pensamento, que posso eu fazer contra as forças invisíveis de meu próprio ser? Esperar que alguém se sente ao meu lado e escute calmamente minhas mágoas e trágicas histórias sem final? Penso que não. É bem possível que um, em um milhão, possa compreender meu drama, mas visto que minha sorte não se faz tão generosa, prefiro o silêncio a um simples par de ouvidos inúteis.
Minhas idéias vagas demais para se consolidar em atos, me tiram a possibilidade de mudança. Meus olhos chamuscados de fogo da têmpera cretina que me acomete, negam qualquer evasão do ser. A impossibilidade de fugir da carga que eu represento me elimina qualquer vestígio de motivação.
Penso em não pensar mais, mas aí jaz um pensamento morto e sem eficiência, posto que não posso fugir de mim mesmo. Em voltas inúteis gira meu cérebro. Onde imagina, nega e repensa, ruminando coisas há tanto passadas e as recondicionando ao presente, onde de nada são úteis, muito antes empecilhos.
Olho aos lados e vejo comoção forçosa e desajeitada, quase uma obrigação caridosa que me é repugnante e refutável, dito que, a mim, é ainda menos proveitosa do que a quem me serve tal iguaria. Penso em como sou útil para deixar alguns às boas consigo mesmo, achando ilusoriamente que o dever há de ter sido cumprido.
Não sou escora para discussões abastadas e ofegantes de hipocrisia, que não me usem como tal! Não tenho paralelo a ser traçado com coisa alguma, com caso algum.
Não me entendem, pois então que não me discutam! Que não me queiram moldar ao modo grotesco do convencional, negando assim minhas asas negras de rebeldia. Isso nunca!! Sofro no pensamento, mas não quero a felicidade da ignorância.
Minhas especulações são provenientes de uma vontade de vida, vida esta que me foi negada, por construções espontâneas de minh’alma, a qual devo todo meu talento para a auto – depreciação.
Devo admitir que falhas são o que tenho de melhor, constatado que de nada adianta a perfeição sem sabedoria. Conhecimento e sabedoria. Eis que surgem conceitos chaves para este ciclo de ociosidade intelectual. Gostar-me-ia de pensar com mais afinco nessa atitude deveras importante, mas ao mesmo tempo em que me deito pensando, me acordo influenciado pelo contexto sorumbático no qual estou enterrado. Gostaria também de muitas outras coisas, uma delas seria não querer mais nada, me desvencilhar de desejos impossíveis a meu macambúzio conjunto de fragmentos. Em outras palavras, talvez, expirar minha existência, não só física, moral, mas espiritual.


(20.05.2006)

[Por mim mesma, K.]

Sometimes, always...


Às vezes me sinto presa ao tempo.
Tendo necessidade de colocar tudo num recipiente
Pensando em medir cada sensação, cada pensamento.
Perco-me nas horas que não são minhas.
E perco as horas que seriam minhas
Se não fosse o medo de vivê-las.


Quando as angústias me perseguem fujo
Para algum lugar bonito...
Mas as matizes logo se tornam cinzas...
Sem permissão, sem anúncio.
E ressecam minha alma...


Paredes invisíveis me cercam
E minha pele borbulha em pensar
Que um dia serei só eu...
Que um dia serei só...
Que hoje estou só... em meio a tantos...
tantos iguais...


Às vezes penso em me mudar
Em mudar de estação
Às vezes sinto como se não estivesse em parte alguma
Senão dentro de mim.
Afogada na imensidão da ausência.


Às vezes sinto o mundo girar ao contrário
Deixando-me tonta
Meu todo é todo fraco, todo frágil...
Não me deixa tentar...


E me agarro a uma vontade tola
E tola sou ao me agarrar...
E tola sou quando ninguém mais o é
No meio de muitos...
Sem muitos, sem poucos, sem nenhum.
Nesse mundo de presenças ausentes.
De sonhos sóbrios demais...



(15.04.2006)

[Por mim mesma, K.]

Ao otimismo efêmero.

Os otimistas que não me venham falar! Eu perdi, há muito, a peça que, pretensamente, pensava deter sobre o grande compasso das marionetes aqui da Terra. Não há vida, existimos, pois, nós, e não mais que isso. E que fique claro não ser esta uma visão melodramática ou minimalista, não o é. É, senão, uma conclusão. Conclusão de que existem olhos que vêem e bocas que falam. Entretanto, olhos e bocas que divergem em grau altíssimo e mesmo assim juram uma concordância demagoga e sincera. O raciocínio não é lógico, devo admitir, talvez demasiadamente particular, mas certamente mentiroso. O que é verdade? Seguindo a linha de raciocínio (!) então, posso dizer que a verdade não passa de um monte de bocas e olhos. A verdade é milhões de possibilidades ilógicas e latentes, iminentes e imanentes. A verdade trás consigo a mentira nas costas que de hora em hora troca de lugar com ela e faz com que todos nós mudemos nossas bocas e olhos.



'Sou mais uma que vai morrer. Mais uma que será esquecida, na essência, de todo, como todos são.'



(24.10.2006)

[Por mim mesma, K.]

O Homem D'água.

Hoje o homem da água bateu aqui em frente, aquele que vem medir o uso da água. A casa fechada, eu sozinha, preguiçosa e sonolenta acordei de sobressalto. A que me dei conta foi só uma tentativa dele. Entretanto eu fiquei estática na cama esperando que não ouvisse mais o apelo. Pensei em me vestir, abrir a casa, o portão, fingir simpatia e agir com naturalidade. Realizei tudo isso em mente, mas a inércia ganhou meu corpo e aliviada fiquei ao sentir que ninguém mais jazia lá na frente.
Depois disso certo sentimento de culpa demagoga se apossou de mim. O sol pelo visto estava demasiadamente escaldante, pensei logo no coitado do homem que só queria fazer o trabalho dele, e pensei também na minha falta de perspectiva e insensibilidade ao ficar estarrada na cama. Será que o que fiz foi errado? Oh! Prefiro acreditar que não, claro, mesmo acreditando que sim.
Afinal não é o que todas as pessoas fazem sobre tudo, agem com descaso, como se a responsabilidade não fosse delas das coisas que lhes convém. Então sempre preferimos acreditar que somos as vítimas e que não é bem assim, mesmo sabendo que somos cruéis vilões de um cotidiano hediondo e que sim, é bem assim!



(18.03.2007)

[Por mim mesma, K.]

A inexplicável força motora da vida.

E no correrio do dia-a-dia os meus dias se perdem, se vão. Eles existem, mas não vivem. Eles são amados, mas odiados.
A fresca da manhã vem misturada com tristeza e ansiedade. A melancolia do fim da tarde é acompanhada pelo desânimo cansado de quem espera que a vida passe, mas não passe.
A janela não é mais que um quadro do cenário frio da vida que me acolhe. Acolhe? Acho “consome” melhor. E ainda consumo o ar poluído, a visão em preto e branco, os dramas alheios e o contexto histérico em caos.
Os sentimentos baratos me enchem de esperança. Esperança egoísta.
A força motora da vida é realmente inexplicável!



(04.10.2006)

[Por mim mesma, K.]