quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cadafalso


Bem, grandes sistemas dão conforto, e quando nos sentirmos entrando em desespero, devemos conceber grandes esquemas a partir do nada que nos cerca, e aí não escorregaremos, mas ficaremos pendurados num cadafalso criado por nós, tão sem sentido quanto o nada, mas muito detalhado para ser descartado com tanta facilidade. [RICE, 2000]

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Competição mundial de seres-humanos.

   Cada vez mais me convenço de que ninguém tá aí pra porra nenhuma, exceto para seu próprio umbigo, para seu próprio ego gigantesco. Qualquer ação que façam em nome de um suposto altruísmo também entra nessa sistemática de alimentação a esse ego monstruoso que já conseguiu deformar qualquer tentativa de redenção da humanidade.
   As pessoas não conseguem conversar, debater, olhar o outro com respeito e positividade, tentar extrair algo de bom, por mínimo que seja. Tudo que querem é uma guerra de opiniões radicais, sem nenhuma reflexão. Ou tu é contra ou tu é a favor.
   Dois casos em pouco tempo, realmente me desconsertaram. Um, sobre Belo Monte, de um indivíduo que queria uma zumbilândia de assinaturas no movimento Gota D'água, não interessando nenhum debate e contrapontos de idéias. O que interessava era o número. Foda-se se as pessoas estão realmente sabendo o que estão fazendo. Preguiça típica, e corrosivamente crônica do brasileiro. Outro, sobre o vegetarianismo, que foi pior do que falar sobre deus com um evangélico. Aquele estereótipo de vegetariano que consegue transformar em piada o vegetarianismo e tira qualquer credibilidade.
    O negócio virou um "foda-se o outro, o que interessa é a minha opinião, e ela é que é a certa!"
   Enfim, eis aqui apenas um desabafo público, pois estou cada vez mais incomodada com essa palhaçada, com esse mar de merda que só aumenta a cada dia, com essa competição mundial de seres-humanos totalmente sem sentido! E que, lamentavelmente, só cresce tornando cada vez mais minúsculo o espírito humano.
    Como já postei em outra oportunidade:

eu não tenho mais a mesma paciência pra me explicar, 
quem entender, entendeu... 
quem não entender, faz o favor de pensar mais uma vez, ou de largar de mão...
duelo entre egos intelectuais não me instiga mais...
eu quero construir e trocar idéias...
mas percebo que algumas pessoas olham, lêem, analisam, querendo, já por premissa, derrubar...
enfim... não tenho mais paciência...



Conceito de Alteridade:

1. Alteridade (e/ou outridade) é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo);

2. É a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer é a relação que temos com os outros), com consideração, identificação e dialogar com o outro.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um desabafo legítimo, de Roger Viliano.

Compartilho aqui as palavras de meu marido, que resume muito desse nada que vem tomando conta de tudo:

A dignidade de uma pessoa pode ser facilmente medida não pelas palavras agressivas e indignadas de quem se defende amargamente, mas sim pela sua capacidade de entender que todos os nossos atos, por mais frívolos que possam ser, têm e sempre terão efeito sobre os outros. Saber entender o outro e buscar conciliação, isso sim é um ato digno.
A personalidade de uma pessoa pode ser sentida e "curtida" não pelas suas dezenas de imagens jogadas despretensiosamente num perfil social; ora em defesa de animais maltratados, outrora a foto de um sonho de consumo caríssimo. 
A personalidade é sentida na coesão de todas as nossas escolhas. Saber fazer a diferença, seja numa rede social, seja na vida real é um talento de poucos. A grande maioria, sem nem se perceber, faz tanta poluição virtual como faz barulho no cotidiano, e não consegue acrescentar nada a mundo nenhum. Creio que isso é feito para tentar encobrir no virtual aquilo que consegue maquiar no real. Se por um segundo víssemos a verdadeira pessoa por trás de seus pós e seus posts, veríamos uma quimera, e não uma personalidade forte como querem apregoar.
A educação vem de casa. A capacidade de se relacionar educadamente com mais pessoas do que o seu núcleo familiar, essa vem da escola. Claro, isso vale para aqueles que fizeram da escola uma oportunidade de crescimento e aprendizado, e hoje podem contribuir para o social, real ou virtualmente.
Aos demais, fica a minha quase total indiferença. Digo quase total, pois não me é indiferente o fato de que essas mesmas criaturas estão conseguindo estragar virtualmente aquilo que já o fazem no dia a dia da vida. 
Por favor, voltem lá para o Orkut. Criem as suas comunidades imbecis de "eu como chocolate deitado" , ou "Eu sou antepática, e dai?'', e deixem o Facebook voltar a ser o que todos acharam que poderia ser: Um lugar para se conhecer e compartilhar um pouco mais de cada um, e não o velho ''mais do mesmo'', o ''ui amiga, adooooroo!!!
Acredito que seria isso um primeiro passo para que façam alguma diferença em qualquer um desses mundos.

Roger Viliano 

Sobre Belo Monte

Então, assinei a campanha do Movimento Gota D'água na semana passada. Mas não sem antes dar um boa pesquisada sobre o tema, principalmente pelo fato de serem atores globais. Afinal, sabemos, cá pra nós, que os atores globais não têm nenhuma autonomia, e só fazem o que a Globo lhes permite. Sabemos também que a Globo é suja até o fundo, e também que está fortemente comprometida em ferrar com o governo populista que se constrói no Brasil desde a "Era Lula".
Procurei então sobre o tema, para realmente saber se concordava ou não, e para saber mais informações sobre energia hidroelétrica, afinal, não sou nenhuma engenheira ambiental, e não vejo muito mais além do óbvio nessas questões.
O fato é, que mesmo que os motivos da campanha não sejam lá os mais nobres e estejam ligados a razões mascaradas da Rede Globo, mesmo assim, e independente disto, eu concordo com ela. Sou contra a construção, sim.
Daí, veio toda uma corja criticar a campanha, dizendo que é antipatriótica, pois a usina vai favorecer o crescimento econômico do Brasil, vai levá-lo ao status de grande potência: 



Ah, daí já é outra história né! Sou absolutamente contra essa prisão econômica que o homem se impôs. Toda a vida está condicionada agora a um crescimento econômico que é bom mesmo, e sempre, apenas para os ricos. Que perde cada vez mais o sentido, e que é cada vez mais absurdamente contraditório com as questões humanitárias. Nos dias de hoje, é quase impossível se preocupar com o mundo e não acabar sendo hipócrita. 
É preciso pôr um fim nessa lógica porca [ambição utópica], baseada num crescimento indefinido de números e indicadores econômicos que à nós, reles seres das camadas de baixo, nem é permito entender. Números e fórmulas frios e distantes que determinam nossas vidas todos os dias!

É importante que ao menos mostremos que estamos entendendo o que está acontecendo, que sabemos da gravidade da situação e o que representam tais acontecimentos.

A apatia da indiferença é que é perigosa!


Afinal, como diria o sábio Galeano:

"Onde se recebe a renda per capita? Tem muito morto de fome querendo  saber. Em nossas terras, os numerozinhos têm melhor sorte que as pessoas. Quantos  vão bem quando a economia vai bem? Quantos se desenvolvem com o desenvolvimento?"


Vídeo bastante esclarecedor:


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Como nasce um paradigma

Essa historinha é meio velha, mas vale a pena relembrar para renovar nosso olhar sobre o mundo que nos cerca:

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa  jaula, em cujo centro puseram  uma escada e, sobre ela, um cacho de  bananas. 
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. 
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de porradas. 
Passado mais algum tempo, nenhum macaco  subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. 
Então,  os cientistas substituíram um dos cinco macacos. 
A primeira coisa  que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado  pelos outros, que o encheram de porradas. 
Depois de algumas surras, o novo  integrante do grupo não mais subia a escada. 
Um segundo foi  substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto  participado, com entusiasmo, da surra ao novato. 
Um terceiro foi  trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos  veteranos foi substituído. 
Os cientistas ficaram, então, com um  grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio,  continuavam batendo naquele que tentasse chegar às  bananas. 
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam  em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: "Não  sei, as coisas sempre foram assim por aqui..." 



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Século XX-XXI

   [...] as pessoas mais simples desta época se orientavam por uma vigorosa moralidade secular tão forte quanto qualquer moralidade religiosa que eu já conhecera. Os intelectuais carregavam as bandeiras. Mas pessoas inteiramente comuns em toda a América se preocupavam apaixonadamente com a “paz”, os “pobres” e “o planeta”, como se estivessem possuídas por um zelo místico.
   Tencionavam acabar com a fome neste século. Erradicariam as doenças a qualquer preço. Questionavam ferozmente a pena de morte e o aborto. E combatiam as ameaças da “poluição ambiental” e da “guerra de holocausto”, com tanta violência quanto em épocas passadas combateram a bruxaria e a heresia.
   Quanto à sexualidade, já não era mais uma questão de superstição e medo. Ela estava sendo despojada dos últimos traços de religiosidade. Era por isso que as pessoas andavam meio nuas. Era por isso que se beijavam e se abraçavam nas ruas. Agora conversavam sobre ética, responsabilidade e beleza do corpo. A procriação e as doenças venéreas estavam sob controle.
   Ah, o século XX. Ah, o giro da grande roda. Superara os sonhos mais desvairados este futuro. Transformara em tolos os profetas sinistros de épocas passadas.
   Eu pensava muito nessa inocente moralidade secular, nesse otimismo. Neste mundo brilhantemente iluminado onde o valor da vida humana era maior do que havia sido antes.


Lestat

[RICE, 1984]

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Minha pequena ladra de carros...

       Toda vez que minha irmã (Luíza, 8 anos) vai lá em casa, ela se acaba jogando playstation, com bem maior entusiasmo e dedicação quando se trata do jogo Grand Theft Auto. No início gerou muitos debates familiares. Minha mãe achava um absurdo, e defendia que acabaria influenciando minha irmã a ser violenta. Meu pai só ria, sem saber muito bem o que dizer. Minha vó também achava muito violento. 
       Enfim, eu sempre achei que isso não tem grandes coisas a ver não. Primeiro porque sempre joguei coisas bizarras quando era criança e nem por isso saí assassinando ninguém. Segundo, porque, há uma geração atrás de criminosos, a maioria deles nem teve contato com essas coisas. 
       Em suma, a educação e o caráter são, sim, algo que se relaciona com o exemplo prático e não com discursos vazios, moralistas e demagogos. Minha família é muito honesta, de caráter muito sólido. Simples e humilde, mas limpinha e honrada. Tudo isso no dia-a-dia, na prática cotidiana, no que realmente interessa. Meus pais não dizem a Lu pra agir de determinada forma que julgam ser a certa enquanto eles próprios fazem o total contrário. Talvez more aí o segredo de uma boa educação. Ou não, posso estar completamente errada. Enfim, de qualquer forma a prova cabal de tudo, que nos calou a todos sobre a questão foi a seguinte situação:

(Luíza matando uma prostituta no jogo para conseguir o dinheiro dela)

Luíza: Morre, morre!

Eu: Ô Lu, como é que faz pra conseguir dinheiro? (pescando, né?)

L: Na vida real ou no jogo?

Eu: No jogo.

L: A gente tem que assaltar e matar as pessoas na rua.

Eu: E na vida real?

L: Na vida real a gente tem que estudar e trabalhar.


Sem mais perguntas meritíssimo. 


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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Envergo, mas não quebro - Lenine


Se por acaso pareço
Que agora já não padeço
De um mau pedaço na vida

Saiba que minha alegria
Não é normal todavia
Com a dor é dividida

Eu sofro igual todo mundo
Eu apenas não me afundo
Em um sofrimento infindo

Eu posso até ir ao fundo
De um poço de dor profundo
Mas volto depois sorrindo

Em tempos de tempestades
Diversas adversidades
Eu me equilibro e requebro

É que eu sou tal qual a vara
Bamba de bambu, taquara
Eu envergo mais não quebro

Eu envergo mas não quebro

Não é só felicidade
Que tem fim na realidade
A tristeza também tem

Tudo acaba, se inicia
Temporal e calmaria
Noite e dia vai e vem

Quando é mar a maré
E quando já não dá pé
Não me revolto nem queixo

E tal qual um barco solto
Salto do alto mar revolto
Volto firme pro meu eixo

E em noite assim como esta
Eu cantando numa festa
Ergo o meu copo e celebro

Os bons momentos da vida
E nos maus tempos da lida
Eu envergo mas não quebro

Eu envergo mas não quebro
Eu envergo mas não quebro
Eu envergo mas não quebro


...

Então não há nada que resista a essa carga de morte constante e implacável que o tempo despeja em nossa vida? [...] O presente, como tal, é apenas a soma do ultra-instantâneo de cada momento isolado, que se converte de não nascido em já morto. Mas então onde é que está a vida nisso tudo? Então ela é apenas uma quantidade de coisas mortas acumuladas - pensamentos, palavras, homens e cachorros, mulheres e livros, tudo morto, ultrapassado? Esmagado? Então a gente vive mesmo ruminando o que não existe, mastigando coisa morta, apodrecida?

(Carta de Fernando Sabino para Otto Lara. In: Sabino, 2002)


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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Idealismo frouxo crônico

Parece tão contraditório e de uma ironia tão macabra, que a partir de uma realidade tão tosca, tão cruel e mesquinha, surjam textos tão lindos, tão justos e de um idealismo realmente mítico. Seria tudo tão bom, tudo tão belo e justo, tão digno, se a beleza e a pureza expressas tantas vezes no papel - que, coitado, aceita tudo - pudessem de fato tornarem-se reais. Infelizmente, há algo no caminho, há um obstáculo, uma lacuna que não permite nunca tal realização. Desconfio cada vez mais, e com imenso pesar devo dizer, que esse abismo no caminho seja o ser humano, ao mesmo tempo idealizador e impedidor de um mundo bom, de um mundo melhor.  Profanador, deturpador, perverso. Um demagogo e hipócrita, por natureza.

Declaração dos Direitos do trabalhador
24 de fevereiro de 1947 (Argentina)

I - DIREITO DE TRABALHAR

O trabalho é o meio indispensável para satisfazer as necessidades espirituais e materiais do indivíduo e da comunidade, a causa de todas as conquistas da civilização e o fundamento da prosperidade geral; daí que, o direito de trabalhar, deve ser protegido pela sociedade considerando-se com a dignidade que merece e promovendo ocupação a quem necessite.

II - DIREITO A UMA RETRIBUIÇÃO JUSTA

Sendo a riqueza, a renda e o interesse do capital frutos exclusivos do trabalho humano, a comunidade deve organizar e reativar as fontes de produção na forma de possibilitar e garantir ao trabalhador uma retribuição moral e material que satisfaça suas necessidades vitais e seja compensatória do rendimento obtido e do esforço realizado.

IV - DIREITO A CONDIÇÕES DIGNAS DE TRABALHO

A consideração devida ao ser humano, a importância que o trabalho reveste como função social e o respeito recíproco entre os fatores concorrentes da produção consagram o direito dos indivíduos a exigir condições dignas e justas para o desenvolvimento de sua atividade e a obrigação da sociedade em velar pela estrita observância dos preceitos que as instituem e regulamentam.


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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sobre a Claudia Leite

Então. Resolvi me manifestar sobre o assunto. Normalmente não dou muita atenção a essas polêmicas da moda, mas achei bastante válido que me pronunciasse, já que minha opinião incorre contra a maré.
Concordo plenamente com a Claudia Leite. Achei de extrema sobriedade as palavras dela e concordo com 100% do que ela falou. Sinceramente me surpreendeu alguns de seus posicionamentos, e de forma positiva.

Primeiro. A programação do Rock in Rio é disponível a qualquer um, especialmente aos interessados em ir ao evento. Então, quem estava lá fez a escolha consciente de se submeter a estar lá durante o show da Claudia Leite e não tem nada que vaiar. É impossível exigir que num festival tão diversificado alguém vá gostar de todos os artistas que passarem pelo palco. Sem contar que ela estava dentro de uma programação nacional bastante coerente, que não era nada do tipo Claudia leite entre Metallica e Slipknot.

Não gostar de Axé é normal! Anormal é achar-se superior porque conhece John Coltrane ou porque adora o Metallica. Procurem no Google sobre a história de um ariano que se achava superior aos judeus…

Daí os rockeirinhos ficaram ofendidos porque ela fez a analogia com o Hitler. Mas em contrapartida acham justificável vaiar um artista só porque seu som é diferente ou não é de seu agrado. Realmente, muitos "rockeiros" se acham melhor sim, superiores às outras pessoas. Prova mais do que absoluta disso é a indignação e ignorância com que viram o posicionamento da cantora. Qualquer pessoa razoável e sensata pode perceber que ela está em perfeita razão.

Não interessa se o estilo destoa da origem do festival de 500 mil anos atrás, ele, hoje, assume uma proposta mais ampla, pronto. Quem se propõe a ir ao festival que aceite. Aos rockeirinhos de plantão, que querem levantar a bandeira do fundamentalismo musical apenas digo: Cresçam!

Respeito. Eu não gosto do trabalho artístico da Claudia Leite, detesto axé. Mas é uma questão de respeito tu não vaiar um artista, ainda mais tu estando na platéia por própria escolha. Ah! Por favor! A infantilidade das pessoas realmente me decepciona.

Quem ainda levanta a bandeira desbotada do rock para o festival tem um sério problema de alienação e deve ter perdido em algum momento o contato com a realidade.

O que me parece, no fim de contas, é que a Claudia Leite merece muito mais respeito do que muitos rockeiros por aí. E certamente, depois dessas palavras, ela ganhou o meu.

Artistas internacionais vêm pra cá, mostram a bunda, atrasam-se por 2 horas pq estão dando uma festinha no camarim, não conseguem conciliar a respiração com o canto, não preparam espetáculos para o nosso povo, desafinam, enfim, pouco se importam conosco, querem beijar na boca, ir à praia e tomar nossa cachaça, e nós, que pagamos caro para assistir aos seus “espetáculos” em nossa terra, aplaudimos a tudo isso. Ah! É Rock! É Pop! É bom!

O desrespeito é mais fácil de ser tolerado porque é uma atitude Rock and Roll? Não seria isso alienação? Liberdade é respeitar. Liberdade é conviver com as diferenças. Liberdade é ter opinião própria. Tudo o que representa o oposto disso não cheira bem.



Fonte: http://www.blogdaclaudinha.com.br/

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

um improviso nirvanístico...

Então... em memória aos velhos tempos [e para celebrar os novos, claro], aos primeiros sabores musicais,  posto aqui um improviso doméstico. Saiu assim, fruto de um domingo cinzento, sem pensar muito, sem ensaio, quase uma releitura... então, please, sejam bonzinhos comigo... hehe.

Something in the way...






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terça-feira, 6 de setembro de 2011

quisera...

“Quisera ter fé religiosa ou acreditar firmemente em alguma doutrina política... Mas tinha uma incapacidade absoluta para se enquadrar em partidos ou seitas. Reconhecia, com certa má vontade, que era indispensável uma fé firme para realizar grandes coisas. Se ele tivesse essa fé num deus ou numa idéia, haveria de orientar seus livros no sentido dessa fé política ou religiosa, não porque achasse que a arte deve ter uma coloração sectária, mas porque reconhecia estar o mundo vivendo um momento excepcional em que a ninguém é lícito ficar indiferente. O mundo estava doente. Era necessário curá-lo para que depois as criaturas humanas pudessem entregar-se à bela e simples tarefa de viver, de prosseguir na sua busca de beleza e de bondade. Mas... e se não houvesse cura possível? Se o homem, por uma lei inelutável, tivesse de ser sempre o lobo do homem?” (VERÍSSIMO, 1943)


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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

.Morte.

Na vida real, a morte é bem mais prática e bem menos romântica. Talvez por isso mesmo demore certo tempo para que nos demos conta da perda, do que ela de fato significa. É preciso chamar funerária, agendar horários, conseguir documentos que atestem a morte. O encapuzado de negro, com a foice na mão, não dá as caras, mas paira no ar, como uma cruel presença ostensiva, opressiva. Comprime nosso coração e o espreme até sair o suco salgado dos nossos olhos. Estupra nossa alma, nossa consciência, nos esgota com infinitas lembranças, infinitos remorsos irrevogáveis.
Mas... a morte, se não deixa boca para sorrir, também não deixa olhos para chorar. Talvez por isso meu primeiro sentimento tenha sido de franco alívio pelo fim do sofrimento que afligia cruelmente minha vó nos últimos anos.
Demorou certo tempo para que eu entendesse. Só mesmo quando me dirigia ao velório é que as lágrimas começaram a rolar, e a impotência em segurá-las causava uma raiva muda, uma angústia amarga.
Chegando próximo ao caixão me escondi atrás de meus pais, numa atitude quase inconsciente de protelação. Mas quando vi a imagem tão conhecida de minha vó, agora naquele corpo sem nenhuma vida ou expressão, senti o chão me faltar, e um vazio muito grande abriu espaço no meu peito. Um vazio sobre a vida, sobre qualquer sentido. Uma falta de qualquer coisa. Um sentimento de confusão absoluta.
Toquei a mão gelada de morte, mas não senti minha vó. Minha vó já estava em qualquer outro lugar, ou em lugar nenhum, mas não mais ali...
A dúvida sobre tudo isso aqui gritava mais do que nunca dentro da minha cabeça...
Contudo, um consolo ecoava... a morte, se não deixa boca para sorrir, também não deixa olhos para chorar, e minha vó já tinha sofrido demais...

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Agradeço vó, por tudo.
Pelas sopas, pelo feijão com farinha de mandioca e  pelos ovos cozidos.
Por me enganar na contagem das colheradas - nunca me dei conta de que o dez sempre coincidia com a última colherada do prato.
Obrigada, vó, pelas noites rezando terços, por me deixar controlar as contas do rosário e por me ensinar todas as orações, minhas primeiras leituras. Te agradeço por me ensinar a beleza poética da religião que sem nenhuma dúvida ajudou na formação do meu caráter.
Te agradeço, vó, por confiar em mim e deixar eu cortar teu cabelo quando ainda era criança, me senti tão importante.
Obrigada vó, por me comprar os vestidos de prenda, os chapéus de palha com rendinhas coloridas para andar no sol.
Obrigada por me ensinar que sentar na pedra fria faz mal pra bexiga e que a cor do xixi diz muito sobre a saúde da gente.
Obrigada por me trazer um flan, um todinho ou uma “teta-de-nega” em todos os finais de tarde de um pedaço grande da minha infância.
Por sentar no sol comigo, comendo laranja ou bergamota, e contar tantas histórias sobre a vida.
Te agradeço por narrar, ainda à luz da vela, naquela casinha de madeira, histórias de mistério que tanto me fascinaram.

E sei cá comigo, no fundo, que deveria ter dito isso tudo pra ti em vida. Mas não deu, não fiz. Talvez o tenha feito em gestos, mas nunca tão explícitos quanto podem ser as palavras claras. Deixo aqui esse sincero agradecimento, talvez muito mais para lembrar a mim mesma das tantas coisas boas que vivi e que aprendi contigo, do que para fazer um arremedo de agradecimento, um remendo na vida. Ainda assim, essas poucas palavras deixam ver apenas uma fina fresta de luz da importância que tiveste na minha vida.

Esteja em paz minha vó.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mulher moderna


Isso. Vamos empinar nossas bundinhas. Remexer nossos traseiros. Rebolar em cadência sensual exibindo nossas ancas de boa fêmea reprodutora. Sim. Vamos espremer nossos seios para exibi-los melhor. Vamos nos rebocar até quase perder nossa fisionomia natural. Se empoleirar num salto também ajuda. Vamos nos vestir como nos dizem que deve ser, como todas as outras fêmeas estão vestidas. Poucas diferenças na verdade, quase nada, apenas para imprimir um falso caráter de autenticidade, mas nada que destoe muito, perigoso. Vamos mutilar as pontas dos dedos toda semana para ficarmos mais belas. Vamos nos enlouquecer em busca de liquidações e chegar em casa cheia de sacolas, porque afinal nós somos mulheres e, por algum motivo, precisamos de muitas roupas, muitos sapatos, muitas bolsas, muita alegoria!
Vamos tagarelar sem parar na presença de outras fêmeas, falar de homens, claro, e de nossos métodos de agarrá-los, conquistá-los, seduzi-los. Falemos sobre nossas melhores transas, de nossos melhores machos. Falemos muito sobre nossa sexualidade, pois é natural, e a mulher moderna deve se conhecer (e fazer com que todos conheçam), suas preferências sexuais, suas posições e lugares preferidos.
Afinal, nós somos mulheres modernas, independentes, lindas, vitaminadas e poderosas!
Sim, poder. Temos um poder imensurável e determinante. Um poder que não mora numa transformação profunda dos valores da sociedade, como muito se confunde por aí. Não, não um poder desses, novo e conquistado. Não. Nada novo, na verdade, bem velho, um poder conhecido de todos nós, bem velho, nada novo: O PODER DA XEXECA!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

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Sob a casca dura de cinismo que alimentara com tanto amor durante tanto tempo, ela evidentemente guardava, como qualquer pobre diabo do mundo, a esperança de que era diferente e que viveria para sempre. [KOONTZ, 1993]


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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Que maçada!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, à vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o Diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havermos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Álvaro de Campos

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um oco cheio de tudo...

Quando eu sair das sombras,
minha face a refletir com toda força a luz do ser que não és...
tuas pupilas estarão dilatas,
tua mente acelerada e teu espírito muito longe da terra firme,
Enfrentarás uma vertiginosa viagem às profundezas do mistério
sentirás com dor a imensidão do nada
e com despeito a imensidão do tudo,
saberás da profecia que não existe,
do vazio em que flutuas,
chorarás de desconsolo...
chorarás de desespero...
até quando de teus olhos emergirem lágrimas secas...
lágrimas mudas...
estarás pronto, então,  para aceitar...
- e até mesmo ver a beleza,
da caótica inexistência de qualquer sentido...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Buscando llegar hasta el sol - A.N.I.M.A.L.

A.N.I.M.A.L. (Acosados Nuestros Indios Murieron Al Luchar) é uma banda argentina que teve relativo sucesso nos anos 90, mas que já não está mais na ativa desde 2006. Gostei muito da banda, de algumas músicas em especial, que são realmente lindas, segue uma delas: 

Siento caer la lluvia en mi, mojando las heridas
Que dejo marcado el tiempo hoy,

Parece que el dolor se fuera con el agua ,
Purificando mi soledad,

Hoy siento al respirar que el aire esta mas frio,
Y mis ojos vuelven a brillar,

El destino es el rey de mi nuevo camino,
Y correre a buscar...

El fuego, de mi pasion,
Renace y siento que!!
Mi cuerpo se enciende otra vez,
Buscando llegar hasta el sol
La llama de nuestra ilusion,
No dejare que se apague jamas...

Otra vez estoy aqui ,
Esclavo de mi propio azar,

No quiero pensar en morir asi,
Sin antes luchar y encontrar ,

La luz del sol que quema y fortalecera
Mi alma cansada para mantenerla en pie,

Quiero ser mi juez en este cruel destino,
Y nuevamente ver.

El fuego de mi pasion
Renace y siento que ,
Mi cuerpo se enciende otra vez,
Buscando llegar hasta el sol
La llama de nuestra ilusion,
No dejare que se apague jamas...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

.pretensa consciência social.

A mim parece que todos esse protestos verbais da população em geral, do tipo comentários no twitter, mobilizações virtuais, frases de indignado desabafo no almoço de domingo, que todas estas manifestações, por natureza fugazes e efêmeras - pois moram no interesse individual e não no coletivo - são pequenos escapes, pelos quais de maneira vagarosa e insignificante escoa uma energia que em forma de avalanche repentina poderia verdadeiramente provocar mudanças profundas.
Esses protestos são previstos pelo sistema, e até incentivados. A falta de liberdade de expressão tem relação direta com os movimentos genuinamente revoltados e ansiosos por transformações...
Hoje cada um se contenta em poder criticar, em poder dar a sua magnânima opinião sobre tudo, exercendo assim uma liberdade conquistada com muito suor por gerações que já se esvanecem.
Não há mais explosões ideológicas, há pequenos inchaços aqui e acolá que logo são suprimidos, escondidos, esquecidos, pela forma mais estúpida e vergonhosa, - muito mais do que a opressão autoritária dos militares de outrora - a distração, o desvio de atenção.
E assim vamos seguindo, reclamando do aumento salarial dos políticos, da ciclovia que não foi feita, do escândalo do Detran, lamentando o terremoto ali, o bombardeio acolá. Muito mais preocupados em emitir opinião, em mostrar uma preocupação, que de fato não existe, não é sincera. Em última análise, uma preocupação com a própria alma.

E reconheço que talvez em nada se diferencie essa minha declaração daquelas que são o objeto dela...

[Por mim mesma, K.]

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Meu vício agora...

Baita música de uma grande banda nacional...

Meu Vício Agora
Kid Abelha
Composição : George Israel/Paula Toller

Não vou mais falar de amor
De dor, de coração, de ilusão
Não vou mais falar de sol
Do mar, da rua, da lua ou da solidão

Meu vício agora é a madrugada
Um anjo, um tigre e um gavião
Que desenho acordada
Contra o fundo azul da televisão

Meu vício agora...
É o passar do tempo
Meu vício agora...
Movimento, é o vento, é voar...é voar

Não vou mais verter
Lágrimas baratas sem nenhum porque
Não vou mais vender
Melôs manjadas de Karaokê

E mesmo assim fica interessante
Não ser o avesso do que eu era antes
De agora em diante ficarei assim...
Desedificante

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Estudo de Planejamento Político 23

Lendo um material para a faculdade, deparei-me com tal absurdo que sucede. É um trecho do Estudo de Planejamento Político 23 [EPP 23], elaborado em 1948, pelo Departamento de Estado dos EUA, redigido pelo então encarregado George Kennan. Na verdade é absurdo, mas nem tanto. Nem tanto, porque a gente já sabe bem como funcionam as coisas por trás dos panos, e ficar chocado não é exatamente a reação.
Esse documento foi concebido como ultra secreto, mais como um diálogo entre os estrategistas americanos do pós-guerra, que objetivavam claramente a hegemonia e monopólio da economia mundial. Essa história dos EUA dominar o mundo parece meio clichê já, mas é interessante perceber como eles realmente estavam articulados no sentido de elaboração de metas e estratégias de dominação, no sentido de ações concretas, para que a gente saia um pouco daquele plano de idéias vagas de conspiração.

Segue um trecho:

Precisamos parar de falar de vagos e irreais objetivos, tais como direitos humanos, elevação do padrão de vida e democratização. Não está longe o dia em que teremos de lidar com conceitos de poder direto. Então, quanto menos impedidos formos por slogans idealistas, melhor. 

"Seguindo essas mesmas linhas, numa reunião de embaixadores americanos na América Latina, em 1950, Kennan observou que a maior preocupação da política externa norte-americana devia ser 'a proteção das nossas (isto é, da América Latina) matérias-primas. Devemos combater a perigosa heresia que, segundo informava a Inteligência americana, estava se espalhando pela América Latina: “A idéia de que o governo tem responsabilidade direta pelo bem do povo'. Os estrategistas americanos chamam esta idéia de comunismo. [...] se elas apóiam tal heresia, elas são comunistas."




Referência:

CHOMSKY, Noam. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Reflexões pertinentes...

As crises não constituem anomalias do capitalismo, mas são uma das suas características mais fundamentais.

IHU On-Line - Se Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, 150 anos antes, que espécie de previsões podemos fazer para nossa economia a partir da sociedade que temos hoje, baseada em valores consumistas e na autonomia?

Claus Magno Germer - Marx foi um cientista, não um profeta. Elaborou uma representação teórica do capitalismo. Se a teoria de um fenômeno o representa adequadamente, ela permite antecipar a ocorrência das principais características do desenvolvimento do fenômeno. A teoria de Marx sobre o capitalismo é uma teoria deste tipo, motivo pelo qual lhe permitiu não só explicar a natureza do capitalismo e do seu funcionamento, como ainda antecipar características que só se tornaram visíveis mais tarde. Além do seu pioneirismo na admissão e explicação teórica das crises, Marx explicou e antecipou o processo geral de centralização do capital que está na base da fase monopolista do capitalismo, inaugurada no final do século XIX; explicou a tendência, amplamente comprovada, de queda cíclica da taxa média de lucro; antecipou e fundamentou teoricamente a existência permanente do desemprego no capitalismo; antecipou o processo de proletarização crescente da população, que pode ser ilustrado pelo crescimento contínuo da proporção do proletariado industrial na população, que passou de apenas cerca de 5% da população mundial no início do século XX para mais de 30% no início do século XXI; antecipou o processo de aumento da polarização entre uma minoria de ricos e uma maioria de pobres, que é ilustrada cotidianamente nos meios de comunicação pelas estatísticas da pobreza e da miséria em escala continental, abarcando pelo menos dois terços da população mundial atual. Estes dados ilustram a antecipação mais importante que decorre da teoria de Marx: de que a intensificação progressiva, embora cíclica, da contradição entre a socialização crescente do trabalho e da produção, isto é, da riqueza, e a privatização crescente desta riqueza e sua concentração nas mãos de uma minoria cada vez mais diminuta, representa o crescimento das potências transformadoras inerentes ao capitalismo e conducentes ao seu fim. Esta contradição se resolverá, por imposição das circunstâncias, através da abolição da propriedade privada dos meios de produção e a instituição da propriedade social, e da conseqüente abolição do motivo egoísta do lucro como base da regulação do trabalho e da produção social e sua substituição pelo critério do atendimento das necessidades da coletividade, em uma palavra, através do socialismo.
Portanto, embora não se possa fazer previsões precisas, dada a complexidade do processo histórico, o que se pode dizer com base na teoria de Marx é que o capitalismo continuará apresentando uma seqüência de expansões e crises, ao longo das quais as contradições enumeradas acima se acentuarão, também de modo cíclico, ampliando a instabilidade global do sistema.

IHU On-Line - Qual a importância do Estado e da regulação dos mercados para recuperação da ordem financeira internacional?
Claus Magno Germer - O marxismo não é ingênuo em relação à natureza e funções do Estado. O Estado e o mercado são, juntamente com a economia, componentes do sistema integrado que é a sociedade capitalista. O Estado é um órgão do capital, isto é, de representação dos interesses da classe capitalista. Conseqüentemente, os instrumentos de regulação que utiliza destinam-se a preservar os interesses e o domínio desta classe e do processo de acumulação de capital. Nas crises, a ação do Estado consiste em socializar os custos, isto é, “sanear” a contabilidade de bancos e empresas mais atingidos, lançando o passivo sobre a sociedade, especialmente sobre os trabalhadores e pobres em geral. É o que está ocorrendo atualmente: os dois ou três trilhões de dólares das operações de salvamento articuladas até este momento pelos governos dos países capitalistas centrais destinam-se a salvar instituições financeiras, mas nada ou muito pouco se diz sobre o destino dos devedores não-capitalistas e dos trabalhadores lançados no desemprego, ou sobre a origem destes recursos.



Referência: Entrevista do economista Claus Germer à Revista on line do IHU, em 2008.
Leia a entrevista na íntegra em Revista IHU on line

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A síndrome dos 20 e tantos

Então... recebi este texto via e-mail. Me identifiquei com muitas coisas, quase todas, exceto que hoje já estou casada e com a certeza aquela que o texto menciona - ainda é novidade, então deixa eu me aparecer... rs rs.
Também vem ao encontro de uma anterior postagem minha [Crise dos 25: http://t.co/MyHXTaN]. Enfim, o texto contém muitas verdades.


A chamam de ‘crise do quarto de vida’.
Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos.
Se dá conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorada(o) etc..
E cada vez desfruta mais dessa cervejinha que serve como desculpa para conversar um pouco.
As multidões já não são ‘tão divertidas’...
E as vezes até lhe incomodam.
E você estranha o bem-bom da escola, dos grupos, de socializar com as mesmas pessoas de forma constante.
Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo.
Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas que conheceu e que o pessoal com quem perdeu contato são os amigos mais importantes para você.
Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor.
Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto pôde lhe fazer tanto mal.
Ou, talvez, a noite você se lembre e se pergunte por que não pode conhecer alguém o suficiente interessante para querer conhecê-lo melhor.
Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos e alguns começam a se casar.
Talvez você também, realmente, ame alguém, mas, simplesmente, não tem certeza se está preparado(a) para se comprometer pelo resto da vida.
Os rolês e encontros de uma noite começam a parecer baratos e ficar bêbada(o) e agir como um(a) idiota começa a parecer, realmente, estúpido.
Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado(a) e significa muito dinheiro para seu pequeno salário.
Olha para o seu trabalho e, talvez, nao esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe dá um pouco de medo.
Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer.
Suas opiniões se tornam mais fortes.
Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é.
Às vezes, você se sente genial e invencível, outras… Apenas com medo e confuso(a).
De repente, você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando.
Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro… E com construir uma vida para você.
E enquanto ganhar a carreira seria grandioso, você não queria estar competindo nela.
O que, talvez, você não se dê conta, é que todos que estamos lendo esse textos nos identificamos com ele. Todos nós que temos ‘vinte e tantos’ e gostaríamos de voltar aos 15-16 algumas vezes.
Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça…
Mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de
aproveitá-la por causa dos nossos medos…
Dizem que esses tempos são o cimento do nosso futuro.
Parece que foi ontem que tínhamos 16…
Então, amanha teremos 30?!?! Assim tão rápido?!?!

 .
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[Autor desconhecido]

terça-feira, 24 de maio de 2011

Anos 80

           Esses dias, em algum lugar na internet, li algo do tipo ‘é, realmente, os anos 80 é a idade das trevas da música’. Bah! Minha primeira reação foi de revolta e indignação. Depois refleti um pouco, analisei, e percebi quão ignorante era o comentário. Primeiro, por fazer referência à idéia - que hoje pra qualquer pessoa esclarecida é no mínimo ingênua, pra não dizer superficial - de que a Idade das Trevas [Idade Média] realmente tenha sido um momento estéril culturalmente. Pensamento que durante muito tempo foi alimentado por uma atitude preconceituosa que nos dias de hoje é motivo de vergonha para os estudiosos ressentidos de outrora.
            Depois pensei: poxa vida, a pessoa prefere gastar tempo, energia e espaço, para depreciar uma arte admirada por outras pessoas, e que tem seu valor patente e inconteste. Por que não gastou esse mesmo tempo, essa mesma energia e espaço para falar bem de algo que gosta. Ou então que vá falar mal de coisa ruim mesmo, do tipo dessas bandas coloridas de hoje em dia, que nem de longe é uma questão de gosto, mas de mercado. Quem gosta e compreende mesmo o que representa a música, entende que o respeito é algo que independe de tu gostar ou não. Eu não sou muito do rock clássico, por exemplo. Mas respeito pra caramba, sei da importância, e, sobretudo, aprecio o valor artístico desses caras. O que muitos metidos a críticos de música por aí não entendem é que conhecimento musical é uma coisa e sensibilidade musical é outra bem diferente.
            Essas pessoas me parecem todas papagaios de pirata, me dão a impressão clara de sequer conhecerem realmente o som dos anos 80. São ridículas a prepotência e a arrogância de simplesmente ignorar, diminuir ou desvalorizar a arte de pessoas como Martin L. Gore, Dave Gahan, Vince Clarke, Robert Smith, Morrisey, Roland Orzabal, pra mencionar os mais conhecidos. Estão muito menos empenhadas em descobrir coisas belas, do que em perpetuar preconceitos burros e infantis. Um conselho a estas pessoas: Cresça e decida por si mesmo sobre o que gosta ou não, e, mais importante, respeite o que merece ser respeitado. Do contrário, você não passa de um fã de merda, fundamentalista, preconceituoso e burro, que acha que entende alguma coisa de música!
           
Concluo com uma música de uma das minhas bandas preferidas - de todos os tempos e de TODAS as semanas, hehe -, Depeche Mode, a qual devoto admiração que só cresce. A música é interpretada pelo Martin Gore, e é absolutamente linda.

Macro
Depeche Mode


Overflowing senses
Sentidos abundantes
Heightened awareness
Atenção aumentada
I hear my blood flow
Eu ouço o meu sangue fluir
I feel its caress
Eu sinto o carinho
Whispering cosmos
Cosmos sussurrante
Talking right to me
Falando comigo
Unlimited, endless
Ilimitado, infinito
God breathing through me
Deus respirando através de mim


See the microcosm
Veja o microcosmo
In macrovision
Pela macrovisão
Our bodies moving
Nossos corpos se movendo
With pure precision
Com pura precisão
One universal celebration
Uma celebração universal
One evolution, one creation
Uma evolução, uma criação


Thundering rhythm
Ritmo fulminante
Pounding within me
Triturando por dentro de mim
Driving me onwards
Dirigindo-me para frente
Forcing me to see
Forçando-me a ver
Clear and enlightening
Claro e esclarecedor
Right there before me
Bem à minha frente
Brilliantly shining
Reluzindo brilhantemente
Intricate beauty
Beleza intricada

Letra e tradução: http://www.vagalume.com.br/








quinta-feira, 5 de maio de 2011

CREOLINA

A creolina espanta o indesejado bicho homem,
desinfeta e afeta o outro bicho homem,
que como bicho já não se vê.
Pingos negros pelo chão, cantos pútridos a cada esquina.
As ruas encardidas de uma sujeira incivilzada.
O público é de ninguém, e como de ninguém é tratado.

E a solidão mora na multidão apressada, descompassada.
Multidão que não enxerga nada, mas que acredita em tudo.
E para muitos, a vida passa encarnada num eterno desfile de modas...
E, sendo assim, desfilam estes nas calçadas, mijadas e imundas,
num espetáculo grotesco e pedante.

Anda rápido se dando importância,
tira fotos, sorri, fala alto.
Encena a vida - todos nós, aliás.
À noite, se conecta e fica a carregar fotos,
numa ânsia de mostrar à todos quão feliz é sua vida.
Mais que convencer à todos, quer é convencer a si mesmo
de uma felicidade artificialmente colorida.

Alguns, porém, deveras sentem aquilo que encenam,
deveras desejam aquilo que buscam.
Poucos, é verdade, cada vez menos... mas, ainda assim, alguns...


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sexta-feira, 29 de abril de 2011

If not now, when? - 2011

Consegui este álbum através de um amigo. Ele ainda não foi lançado oficialmente, o que acontecerá apenas em julho deste ano. Estão lançando os singles por enquanto. Ontem, lançaram o 'Adolescents'.  Está difícil de baixar, pois a fiscalização tá ferrenha e os links duram muito pouco. 
Mas enfim, desde ontem que não consigo parar de ouvir este disco. Em certo sentido é um disco bastante diferente do restante do trabalho da banda. Pra quem ouviu o Light Grenades (2006) e, como eu, também achou um disco ostensivamente produzido, vai perceber que o If not now, when? retoma uma originalidade mais sensível da banda, mostrando um trabalho genuíno. Chamam a atenção elementos que deixam perceber influências claramente oitentistas, entre outras, claro. Brandon Boyd, também surpreende com seu vocal, que sem dúvida encontra as expressões de inovação e de perfeição extrema neste álbum. Então, pra quem tiver afim de ouvir música boa e NOVA - porque tem uma galera imensa por aí que não sabe admirar a arte do seu tempo e professa aos quatro ventos que só o passado é que era bom - tá aí a dica mais do que bacana. Aproveito para agradecer, mais uma vez, ao meu amigão Ed, que me passou o disco!

Link do site oficial da banda:
http://www.enjoyincubus.com/us/home

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Para sempre...

Chovia dentro de seu coração. Uma chuva que caia em sentido inverso, contra a gravidade, e desaguava em seus tristes olhos. Seu corpo estava doente, seu espírito estava doente. Fora condenada. Tinha agora os pensamentos confusos. Lembrava-se de que para muitos sua doença era considerada um dom, sua maldição, uma bênção. Tolos, não haveriam de compreender a infinita beleza da efemeridade e fragilidade humanas. Mas não podia culpá-los, pois só agora também tinha os olhos despertos para ela, através da mágoa do intocável, do impossível, do imutável.
Sentia seu corpo fraco e com fome. Dias já haviam se passado desde que fora transformada e determinara-se a não se alimentar, negando-se a qualquer tentativa de seus “anfitriões”.
Olhava agora, de maneira quase inanimada, para o tapete brilhante no chão. Talvez pela primeira vez, percebe o lugar onde está. O cômodo da casa que lhe fora destinado é um lindo quarto, bastante confortável e elegante. Porém, não há janela alguma, o que torna o espaço um tanto opressor.
Em todo esse tempo, não comera, não bebera, não se banhara. Limitara-se a ficar estática sobre a cama, numa desgraçada resignação. Também foram poucos seus momentos de descanso, seus pequenos fragmentos de sonos mais pareciam delírios de febre. Encontrava-se ali, pois, uma figura sombria e terrivelmente degradada pelos últimos acontecimentos. Não ousara aceitar o fato. Negara, desesperara-se, mas em nenhum momento até então havia olhado para o futuro com olhos que agora tem, os olhos de um vampiro.


[Por mim mesma, K.]

Civilidade inventada

A boa educação, a gentileza e o respeito ao próximo estão definhando sob os pés da grosseria descabida, do egoísmo mascarado, da alienação velada, de uma manada urbana que em nada se assimila à ordem tão singela, mas inerente, demonstrada por outros animais ‘não racionais’ e ‘não civilizados’.



[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 19 de abril de 2011

Eloqüente, mas furado!

Os discursos inflamados, que pregam as revoluções, que clamam por mudanças. Discursos que volta e meia pipocam febrilmente num modismo vazio ao longo da história. Esses discursos muito pouco ou quase nunca saem da boca daqueles que são propriamente o objeto da fala. Talvez por isso, esses discursos nunca encetem ou inspirem mudanças verdadeiras e permanentes. Não são genuínos e obedecem, via de regra, mais a uma tendência sazonal do indivíduo do que a um desejo coletivo de superação. Nunca querem desbestializar os bestializados. É preciso que a besta continue existindo, alimentando os discursos pomposos de uma elite burguesa que nada sabe da vida para além das teorias livrescas. Esses discursos alheios da realidade nunca chegam ao cerne de qualquer questão. São adereços que figuram na prateleira, junto das roupas que encarnam o personagem preocupado, estiloso e, sobretudo, descolado, - bem ao lado daquilo que conhecemos como hipocrisia.



[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Beleza comprada

A profusão absurda, em nossos dias, de centros de beleza, estéticas e afins, fala muito mais do que gostaríamos de admitir sobre as preocupações e prioridades de nosso tempo.







[Por mim mesma, K.]

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Manifesto da solidariedade privada:


A minha solidariedade é finita e condicional. Sem falsos altruísmos, sem hipócritas filantropias, sem  qualquer generosidade egoísta. A minha solidariedade não se submete a insensatezes alheias, nem a qualquer estupidez torpe e medíocre. Também não está para ações bestiais infundadas, ou atitudes pouco ou nada refletidas. Minha humanidade se reserva para os espíritos verdadeiramente humanos, para aqueles que não se curvam aos boçais instintos animais, sejam eles os primitivos primevos ou os neo-primitivos mascarados por uma modernidade decadente. Não, minha solidariedade é minha, e faço dela o que bem quiser, ou não faço nada. Distribuo a quem eu quiser, e considerar merecer, podendo ser nas formas mais variadas, emotivas ou físicas, anônimas ou declaradas. Minha solidariedade é minha e não deve demagogas satisfações à ninguém.


[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sobre os casais de plástico

Há casais famintos por alcançar datas de aniversário do relacionamento. Usam-nas numa tentativa desesperada de renovar esperanças que já não mais existem, há tempos. Geralmente as expressam por meio de trocas de presentes, desprovidas de qualquer sentido mais profundo. Há ainda aqueles que 'saem' pra fazer 'algo especial' no intuito de sublinhar a ocasião. Saem, comem, mostram-se, exibem-se para os outros num desfile curioso, num arremedo competitivo e velado. Esforçam-se por fazer saber aos outros que estão juntos ainda - e felizes, muito felizes. 'Viu, como deu certo?' ‘Viu? Consegui!’. A passagem numérica do tempo é o único argumento que encontram para explicar uma felicidade obrigatória que, no fim de contas, não está lá. O tempo é o único poder de legitimação desse amor vazio de sentido.
Não estou aqui falando de todos os casais, nem mesmo da maioria talvez, mas tenho visto por aí alguns exemplos claros de pessoas que não têm absolutamente mérito ou sentimento nenhum em manter um relacionamento. Dão-me a impressão de que em qualquer pessoa que se tivessem escorado, ali permaneceriam até o fim de suas vidas, sem muito esforço, vítimas de uma carência desmedida e pobres de auto-estima. Reitero e complemento um velho ditado: antes só do que mal amado, ou do que mal amante.
Dessa insistência teimosa e despropositada, advêm as traições, as insatisfações, as frustrações, e toda essa balela que a gente já está careca de saber, de homem é assim, mulher é assado.  
As pessoas fazem tudo, mas é sobre muito pouco - ou quase nada - do que fazem que se perguntam sobre os verdadeiros sentidos e desejos. Perpetuam hábitos e costumes que nem mesmo refletem a si mesmos, se é que algum dia refletiram...


[Por mim mesma, K.]