quarta-feira, 11 de março de 2009

.A morte passou por mim.

Eu não temo a morte,
e nada sei sobre seu significado e posteriores.
Me reservo a jovem,
arrogante e inconsciente esperança,
de que a cura para tal se há de inventar,
antes mesmo de eu lá chegar.

Mas há que se inventar, porém,
e mais importante,
a cura para as tantas e sem fim
necedades humanas.

...

[Por mim mesma, K.]

Tolices de um naufrágio...

Às vezes eu penso em perguntar,
Mas pergunta há que não se deva realizar.
Eu me pergunto então por quê?
O porque do viver a si e aos outros a enganar.
Percebo, todavia, que isso não há de mudar.

Me aprofundo numa fresta reluzente,
E me vislumbro, de repente,
em um outro lado que não este.

Me vejo agora junto a fugitivos,
condenados todos por um mesmo crime.
Pronto! Estou cá,
deste ponto já não há como voltar.


.

[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 10 de março de 2009

Como o ano, no Brasil, começa em março... lá vai...

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

.

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 3 de março de 2009

Por uma memória educativa.


Essa semana eu precisei produzir um texto, para a disciplina Profissão Docente, da Unisinos, sobre memória educativa, no qual contasse fatos e professores que me marcaram durante a minha trajetória escolar. Escrevi, li, reli e gostei. Por isso resolvi postar ele aqui. Espero que seja rico, seja para nostalgia de uns, discordância de outros, ou para a simples inércia perene, rsrs. Aqui vai...


Eu me lembro claramente do meu primeiro dia de aula. Tinha 6 anos de idade e me sentia perdida no meio de toda aquela confusão de pais procurando as salas de seus filhos. Com minha mãe não era diferente, e ela me carregava de um lado para outro naquela turba maluca. Enfim encontramos a sala. Entretanto, eu, que durante todo o verão estive ansiosíssima pelo início das aulas, perguntando todos os dias à minha mãe quanto tempo faltava para o começo, comecei a chorar amedrontada pela idéia de ficar sozinha com toda aquela gente estranha. A professora deixou que minha mãe ficasse à porta um pouco, até que eu me entrosasse nas atividades. Logo, já nem me lembrava mais daquela sensação desagradável de abandono e me entreguei facilmente às atividades. Daquele dia em diante, era uma alegria ir à escola.
É claro que minha vida escolar não foi só alegria, entretanto, acredito que esse sentimento relacionado à escola só começou a mudar nas minhas pré-adolescência e adolescência, quando um turbilhão de coisas se passa conosco. Até então você adora ir para a aula, ver seus “coleguinhas”, brincar no recreio, fazer novos e importantes aprendizados.
O que me lembro, até a 5ª série, é de vínculos mais profundos com as professoras, uma relação de respeito mais forte, como se realmente elas fossem quase que uma referência maternal, e eram. Admiração, observação e dedicação marcaram esse meu período escolar. Eu gostava de estudar, gostava de ir bem nas aulas, e também de ajudar os colegas com dificuldade. Algo que me marcou deveras, era uma espécie de sentimento solidário que eu tinha, porque o ambiente de certa forma era egoísta. Cada um tinha suas coisas, com seus nomes e etc. Comigo não era diferente, mas via muitos coleguinhas que não emprestavam nada dizendo que suas mães haviam os orientado para tal, e eu achava muito estranho isso, e sempre acabava emprestando minhas coisas, porque afinal também achava natural que eu pudesse pedir algo emprestado, um lápis de uma cor diferente, uma régua quando havia esquecido a minha em casa. Esse aspecto, de qualquer forma, me marcou bastante.
Também havia uma sensação de segregação, como durante toda a vida escolar, na verdade. Sempre havia aqueles colegas mais humildes ou simples, muitas vezes com problemas em casa. As professoras muitas vezes se envolviam para tentar ajudar, mas em meio à turma esses colegas eram sempre rechaçados de alguma forma. Não falavam com eles da mesma maneira, não emprestavam coisas, não havia, em suma, um espírito de cooperação. Sinto que essa situação vinha das coisas que os colegas aprendiam em casa e nada tinham a ver com o que a professora ensinava em sala de aula. Eram marcas que as crianças traziam de seus pais. E uma coisa corrente era que esses colegas que sofriam preconceitos sempre paravam de estudar ao longo do ano, e isso, como já disse, se estendeu, durante toda minha vida escolar.
Recordo-me que na 2ª série, a professora, Márcia, nos colocava de castigo em pé, virados para a parede, até o fim da aula, mas não me lembro exatamente dos motivos. Muitas vezes eu fiquei, mas não consigo me lembrar das coisas que teria feito para tal.
Depois da 5º série, as coisas mudaram um bocado. Seja pela efervescência que nos traz a idade, ou seja pela mudança da vida escolar. Além de trocar de escola, a rotina escolar também mudou radicalmente, e a partir daí eu tinha não apenas um professor, mas vários, e matérias novas, estranhas, e só conseguia associar isso tudo ao fator da mudança de idade. Agora somos grandes, podemos usar canetas, podemos usar cadernos grandes, e temos até professores homens. Tinha provas mais “raladas”, riscos mais críticos de repetir de ano.
Com a diversificação das matérias, vieram os professores que nada entendiam delas. Lembro-me bem que matérias como artes, religião, ou até mesmo as mais tradicionais, eram dadas muitas vezes por professores que não haviam estudado para isso. E assim, era uma baita enrolação. Os professores ficavam tão colados aos livros didáticos, que as provas eram perguntas, que já havíamos estudado, e das quais as respostas eram parágrafos prontos, completos dos livros, nada mais. Era um mecanismo de decorar bem simples. E tenho pra mim, que devido a isso pouca coisa me lembro dos conteúdos da escola. Não fosse assim, não haveria necessidade de cursinho pré-vestibular não é mesmo? Ao menos nos casos em que os candidatos recém saíram da escola. Não deveríamos estar aptos em tais conhecimentos? Não é isso que ficamos estudando durante 11 ou 12 anos? Sinto falta de ter entendido as coisas, exercitado a minha interpretação. No caso das guerras históricas, por exemplo, nós não entendíamos o porquê, apenas tínhamos que decorar os países de cada lado, as datas, os nomes, as causas, e tudo ficava vazio e virava nada numa frase decorada.
Quanto à sociabilidade na escola, as coisas também mudaram. Formaram-se as “panelas”, os grupos. E você precisava ter um grupo! Do contrário você era um estranho! Eu comecei a ter dificuldade nesse aspecto. Primeiro porque trocava muito de colégio devido à situação instável dos meus pais, segundo porque simplesmente adolescentes são cruéis. Acabei amadurecendo muito precocemente, e achava tudo aquilo uma chatice. Procurando outras coisas com as quais me preocupar não tinha os mesmos assuntos que as colegas, não sabia falar sobre roupas, namoricos. Minhas roupas eram diferentes e não me importava com o quanto tinham custado, e isso no segundo grau é fundamental, porque não interessa o que você escreve no seu caderno, importa que caderno você tem. Não escutava as mesmas músicas, não ia aos mesmos lugares, não tinha os mesmos pensamentos. Isso eu creio que me atrapalhou um pouco, não porque eu não fosse tolerante com essas diferenças, mas porque os outros não o eram. De qualquer forma não foi o fim do mundo. Mas isso acabou afetando minha relação com a escola, o significado dela na minha vida. É impossível você não a associar com toda essa situação.
No segundo grau tive um professor que me marcou muito, professor Gerson Severo, de história, não por acaso. Até então pensava em fazer jornalismo ou história na faculdade, foi então que me decidi por história. Tinha uma relação ótima com este professor, não só em relação aos conteúdos, mas em geral, e ele curtia rock’n roll!!! Identificava-me muito com ele, foi realmente uma referência para mim. Lembro de um dia em que ele chegou no grupo em que eu estava e disse o seguinte: “Gente, é simples, quanto maior o envolvimento, maior o conhecimento, quanto menor o envolvimento, menor o conhecimento”. Aquilo ficou gravado na minha cabeça desde então.
Posso dizer que sempre fui muito bem na escola, exceto no último ano do segundo grau, no qual tive uma crise por não saber o que esperar da vida. Não tinha condições de pagar uma faculdade depois que terminasse, então, passado tanto tempo no colégio, não conseguia entender a vida sem ele nela. Pensava “e daí”? O que vai ser? Acabei reprovando em Literatura, quase uma piada. Não por ir mal, mas por simplesmente não ir à aula, pois em certo tempo eu estava decidida a realmente reprovar, para continuar na escola. Caindo em mim, acabei passando no provão do verão.
Mesmo tendo um bom histórico escolar, em termos de notas, entendo que isso não quer dizer nada, posto o que já aludi anteriormente, sobre não entendermos realmente sobre o que estamos aprendendo, e por que estamos. Há alguma coisa tremendamente errada na educação, talvez uma questão de cultura. Nossa cultura não valoriza realmente o conhecimento. Valoriza sim, o estudo, o “status” que esse proporciona e o que isso significa em termos econômicos na vida de uma pessoa. Penso até hoje sobre porque eu aprendi “fórmula de báskara”, eu nem mesmo aprendi a aplicá-la numa situação real. Essa é a questão.
Acho que é essa pode ser considerada uma breve narrativa da minha vida e sentimento escolares. Gostaria que algumas coisas tivessem sido diferentes, mas quem não o quer? Contudo, pretendo tomar como base minhas experiências para uma prática docente da qual eu teria me orgulhado de ter tido, e através da qual eu possa contribuir com a o crescimento e desenvolvimento reais da sociedade. Espero ter êxito e felicidade neste caminho.




Por hoje é só pessoal...


[Por mim mesma, K.]