quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Os degraus - Mario Quintana



Não desças os degraus do sonho

Para não despertar os monstros.

Não subas aos sótãos - onde

Os deuses, por trás das suas máscaras,

Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.

O mistério está é na tua vida!

E é um sonho louco este nosso mundo...







Ps.: As palavras do Quintana vêm muito a calhar nesse momento...


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

mais algumas reticências...

E tu me perguntas o que há comigo

E eu te respondo que não sei

E justamente o não sei é o que há comigo

Uma evasiva eterna de mim mesmo

Pensando se existe esse tal de “mim mesmo”

O que isso quer dizer afinal?

Mim mesmo... Mim mesmo... ???

Não consigo me comprometer com nenhum dos de mim

Quiçá com outras pessoas ou coisas...

Um dia ainda acho esse tal de “mim mesmo”

e tenho uma conversa séria com ele.



[Por mim mesma, K.]

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

.O caso do sem alma.

E ele falava sempre assim, como se seu coração fosse de pedra. Ou seria porque, de tão mole e fraco, ele não existisse? O certo é que seu peito era diáfano, não porque fosse algum tipo de ser etéreo, mas antes por não significar nada para si mesmo, ou para qualquer um. Seguia pelas ruas cor de cinza com ares de asfixiado, macilento até pelo avesso, e principalmente pelo avesso, denunciando sua morte estranha e pálida, esquálida. E levava um bom tempo no vão esforço de se fazer ver aos outros, que na maioria das vezes invadiam suas veias sem perceber qualquer coisa que fosse. Nem uma brisa, nem um tamborilar baixinho no fundo da cena, nem uma matiz desvanecida, simplesmente nada, complicadamente nada.

Uma lenda dizia que quando de sua extrema ânsia por um bocado de vida e de mundo, quando de sua extrema raiva e fervor por um terreno de céu... bem, a lenda dizia, e ainda diz, que quando do profundo estado se (des)ânimo desse pobre diabo sem alma, a gente ouve um chiado abafado, que mais parece um nada sufocado pela multidão...


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[Por mim mesma, K.]

sábado, 24 de outubro de 2009

Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me. The smiths.

Last night I dreamt
That somebody loved me
No hope, no harm
Just another false alarm

Last night I felt
Warm arms around me
No hope, no harm
Just another false alarm

So, tell me how long
Before the last one?
And tell me how long
Before the right one?

The story is old - I know
But it goes on
The story is old - I know
But it goes on




ps.: Essa história é velha, eu sei... mas ela continua... mas ela continua...


para escutar...






sábado, 10 de outubro de 2009

Trocando em miúdos. Chico Buarque

Estou postando essa música porque achei realmente muito bonita, apesar de triste, acredito que muitos viveram experiência semelhante e por isso se identifiquem. Todavia ser do Chico, aconselho ouví-la na deliciosa voz de Maria Creuza, uma das melhores intérpretes do Brasil, na minha humilde opinião, a melhor!





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Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.




quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ninguém é de ninguém

Esses tempos vi uma mulher no trem que lia um livro intitulado “Ninguém é de ninguém”, nem vi o autor, mas fiquei refletindo sobre o que realmente poderia querer dizer essa sentença.

Ninguém é de ninguém, fato. Cada um é livre e essencialmente independente, nem todos sabem disso, é verdade. Mas o que significa isso num relacionamento tradicional entre duas pessoas? Significa que ambas têm seus gostos, suas vidas, seus pensamentos, suas tristezas e alegrias, seus momentos, suas vivências, experiências. Ambas têm tudo aquilo que podem levar consigo pra onde forem, quando forem, com quem forem. Sinto que muitos confundem lé com crê. O mundo tá muito pirado, demais pro meu gosto. Existe um frenesi animalesco de querer vingar todos os anos de “repressão” moral/sexual/intelectual que me assusta.Eu tenho atolado meus pés nessa merda nos últimos tempos, num ceticismo sobre mim mesma. Durante algum tempo tentei fingir ausência de sentimentos, fingir uma indiferença falsa, e hoje ainda carrego isso comigo, mas estou tentando ser mais fiel aos meus sentimentos e idéias. Idéias mudam! E que bom que mudam, do contrário eu ainda andaria com uma camiseta do Sex Pistols pregando o anarquismo. Idéias vêm de algum lugar trazendo muitas bagagens. Que bom! Sim, eu sou influenciada por muitas coisas e pessoas, quem não é? Eu sou um conjunto de um monte de coisas, de um monte de gente. Que ótimo!
Estamos numa curva ascendente de superficialismo, de banalidades, futilidades, achando que isso é progresso, que isso é liberdade. Constantemente presos numa corrente de nada! De nada!



[Por mim mesma, K.]


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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Teologia/1 - Eduardo Galeano

O catecismo me ensinou, na infância, a fazer o bem por interesse e não fazer o mal por medo. Deus me oferecia castigos e recompensas, me ameaçava com o inferno e me prometia o céu; e eu temia e acreditava.
Passaram-se os anos. Eu já não temo nem creio. E, em todo caso – penso – se mereço ser assado cozido no caldeirão do inferno, condenado ao fogo lento e eterno, que assim seja. Assim me salvarei do purgatório, que está cheio de horríveis turistas da classe média; e no final das contas, se fará justiça.
Sinceramente: merecer, mereço. Nunca matei ninguém, é verdade, mas por falta de coragem ou de tempo, e não por falta de querer. Não vou à missa aos domingos, nem nos dias de guarda. Cobicei quase todas as mulheres de meus próximos, exceto as feias, e assim violei, pelo menos em intenção, a propriedade privada que Deus pessoalmente sacramentou nas tábuas de Moisés: Não cobiçarás a mulher de teu próximo nem seu touro, nem seu asno... E como se fosse pouco, com premeditação e deslealdade cometi o ato do amor sem o nobre propósito de reproduzir a mão-de-obra. Sei muito bem que o pecado carnal não é bem visto no céu; mas desconfio que Deus condena o que ignora.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

E se...

E se eu te jurasse minha vida inteira. Em três dimensões, em todas elas, de todos os ângulos, sob todas as perspectivas. Não! Melhor. Se te jurasse pedaços da minha vida, só os melhores pedaços, aqueles com recheio doce, deliciosos pedaços. E aí, topas?
- Eu não.





[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 28 de julho de 2009

Lugar comum...

Era um domingo daqueles em que você acorda subitamente iluminado sobre o “profundo e verdadeiro significado da vida”. Só quer saber das coisas superiores. Se irrita com as ninharias do cotidiano turbulento. Pensa até em deletar o seu Orkut, esquecer o e-mail, afastar a si próprio de todo e qualquer aparelho eletrônico, artificial, símbolo de toda decadência espiritual do ser humano. Degradante. Tá! O mp3 não. Mas nada de Seether, Puddle of mudd ou Black Sabbath louvando ao capeta! Coisas alegres e plásticas demais também não servem para esse dia. Você quer é escutar Maria Creuza, mergulhado para sempre num estado de contemplação, descobrindo todos os sentidos de todas as letras fantásticas e perfeitas do poetinha vagabundo. Você quer saber das palavras grandes, tudo, todas, todos, mundo, universo, sentido. Num frenesi literário quer ler todos os livros, todos os autores, conhecer todos os títulos e falar com propriedade de todos os assuntos. Nesse momento, sua mente arde em chamas, você olha a tudo e a todos com olhos de profeta, cumprindo um roteiro messiânico, você é o escolhido. Fica aliviado, extasiado, excitado, tranquilamente ansioso. Passeia pelas ruas com ares de sabedoria, com vistas poéticas. Percebe tudo de outra maneira, uma maneira perturbadoramente deliciosa. A noite cai, como você ainda não virou imortal, nem rico, vai pra casa. Se aquieta sob suas cobertas, vai lendo o segundo título da maratona literária do dia, pode ser qualquer um, todos querem dizer alguma coisa entre o mágico e transcendente. Vai adormecendo, com aquela leve sensação de mudança de rumo. Feliz, quase pleno... vai adormecendo... DESPERTADOR... som agudo, frenético, frêmitos debaixo do travesseiro... Acorda. Meio tonto se dá conta do que está acontecendo. Merda! Segunda. Mau humor matinal, natural. Atraso. Remelas, pasta de dente, escova de dente, escova de cabelo, roupa, sapato, pressa. Café mau passado, mal tomado. Ônibus, sacolejos, sorrisos afetados, cumprimentos tacitamente impostos. E naquele circunlóquio forçado do trabalho nas manhãs de segunda alguém lhe pergunta “e você, o que fez ontem?”, você silencia por alguns instantes... “nada demais, nada demais não”.
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[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 2 de junho de 2009

Aquele dos vampiros...

Ele falava de algo entre a vida e a morte. Transcendentalidades, porquês e afins, coisas mais, todas balelas e baratas. Acontecia numa dessas rodas de pequenos intelectuais galãs e com estilos todos próprios. Pretensos intelectuais de merda que, boêmios, serviam muito mais pra bêbados do que pra intelectuais, mesmo de merda. O fato é que hoje essas coisas se confundem mesmo. Enfim, reuniam-se eles, em torno de uma mesa, num boteco qualquer, imersos pela fumaça dos seus cigarros ordinários. Todos famintos de atenção, todos anêmicos de importância. Foi então, numa súbita iluminação, que percebeu, durante seu discorrer longo e arrastado, todos aqueles sorrisos egoístas e gestos afetados por demais. Enxergou a si próprio numa fila onde todos esperavam sua vez de falar. Não queriam escutar, talvez nem mesmo quisessem ou esperassem ser escutados. Queriam encenar uma combinação frenética de gestos e palavras sobre transcendentalidades, porquês e afins, coisas mais, todas balelas e baratas. Assim, como quem realmente está ocupado, profundamente envolvido dramaticamente.
Por ocasião de sua súbita e oportuna iluminação, ele simplesmente pegou seu copo, deu fim à sua dose de vodka, apagou seu toco de cigarro ordinário no cinzeiro abarrotado e levantou-se. Suspenso ma confusão de vozes da competição. Virou-se e seguiu embora sem que ninguém desse pelo seu movimento. Amarelos em suas febris expressões de si, continuavam a fingir uns aos outros, e assim todas as noites, indefinidamente.
Em seu quarto abre um livro, daqueles bons, de se devorar em algumas poucas horas. Acende um cigarro, serve uma dose de vodka e se aventura pelas páginas, páginas que querem apenas sua leitura... e terão...
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* Esta pode ser uma obra de ficção, ou não. Qualquer semelhança com fatos, lugares ou pessoas pode ser real, ou não.




[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 7 de maio de 2009

- A casa das palavras - Eduardo Galeano

Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas: elas rogavam aos poetas que as olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem. Os poetas abriam os frascos, provavam palavras com o dedo e então lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam palavras que conheciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores. Em grandes travessas as cores eram oferecidas e cada poeta se servia da cor que estava precisando: amarelo-limão ou amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça, vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...
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Recordar: do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração.

Eu já passei por muitos sentidos da vida. Todos eles me convinham de alguma maneira, mas nunca me satisfizeram por completo. Também já estacionei nos mais clássicos, como aquele em que a gente pensa "o sentido é não buscar sentido algum". Ora! Que tolice confortante, mas passageira. Que bela patranha. Hoje me pergunto se mesmo há algum sentido, ou se é só meu ego super inflado de ser humano me atribuindo a missão de encontrar.
Eu vou indo a algum lugar, sei. Só não sei qual, o lugar. E na complexa equação dos meus momentos sei que qualquer lugar é inevitável. Mesmo agora, estou cá, eu, num lugar, resultante de "outroras". Já tentei encadear meus agoras de antanho em logísticas quaisquer, que obedecesse qualquer sentido provisório que se auto declarasse eterno. Mas cá estou, imersa neste texto que lês agora.
Todos os lugares onde estive, ou estarei, não passarão, porém, de lugares virtuais, construções do meu ser. Pois meu lugar imutável e eterno (ao menos enquanto dure) e por excelência, é não outro que dentro de mim. De onde não posso, e talvez nem queira, sair.
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Em memória de Karina Lopes.
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[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Uma pitada de Manoelito para alegrar um momento meu.

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Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
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Palavras feias!

.descobri, hoje, que exatamente é uma palavra feia, muito feia. e feia.
outra palavra feia, muito feia, é existe. tanto quanto realmente, ou real.
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end
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[Por mim mesma, K.]

sexta-feira, 3 de abril de 2009

.cotidiano ladrão.

Eu estou fora de mim. Fora do corpo que minha alma habita. Acho que isso é de algum lugar... Não tenho quorum para fazer qualquer assembléia em mim. Não tenho ganas de chorar nem gritar. Só quero estar fora de mim. Vitor Ramil pede: “inventa fora de mim, outro lugar”, acho que eu já inventei.... E cá estou. O que se perde não é nada, exceto pela carga que ainda há de se carregar em se estando fora do corpo. Essa carcaça que o mundo vê. Ainda tenho responsabilidades para com ela. Não estando finjo estar. Fingindo atuo. A atuação da vida me devora. Vou ser atriz e fazer cinema. E eu me consumo num instante, como um cigarro tragado, num ímpeto intenso. Como um copo de cerveja barata, tomado com ânsia, num boteco barato, em uma vida barata. Mas o que seria uma vida cara?! Com muito dispêndio e glamour? Ou com muito amor e promessas? Eu não sei, apenas vivo. Compelida por promessas que eu mesma me faço.
# Ps.: Escrevo porque confio na minha falta de juízo. #



[Por mim mesma, K.]
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quarta-feira, 1 de abril de 2009

Livro aberto - Vitor Ramil

Essa cama imensa consumindo a noite
Esse livro aberto como alegoria
O abajur perdido em sua luz
Essa água quieta desejando a sede
O controle girando no ar
A TV remota em sua fantasia
Uma alegria que não vai passar
Se você vier

Esse teto frágil sustentando a lua
Esse livro aberto como uma saída
O tapete e seu plano de vôo
O lençol revolto antecipando o gozo
Essa velha casa de coral
Essa concha muda que o meu sonho habita
A paixão invicta que não vai passar
Se você vier

Esse rádio doido de olhos valvulados
Esse livro aberto como uma sangria
Esse poema novo sem papel
O papel que cabe aos meus sapatos rotos
O meu rosto que o espelho não vê
A janela imóvel em seu desatino
Esse meu destino que não vai passar
Se você vier

Esse quarto agindo à minha revelia
Esse livro aberto como uma indecência
O desejo é um naco de pão
A ilusão exposta em tanto desalinho
Uma tecla insiste em bater
No relógio o tempo é uma saudade tensa
E essa cama imensa que não vai passar
Se você vier





Ps.: Simplesmente lindo!


segue link para ouvir a belíssima canção... que escute-se também "Invento"...

http://www.myspace.com/vitorramil



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quarta-feira, 11 de março de 2009

.A morte passou por mim.

Eu não temo a morte,
e nada sei sobre seu significado e posteriores.
Me reservo a jovem,
arrogante e inconsciente esperança,
de que a cura para tal se há de inventar,
antes mesmo de eu lá chegar.

Mas há que se inventar, porém,
e mais importante,
a cura para as tantas e sem fim
necedades humanas.

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[Por mim mesma, K.]

Tolices de um naufrágio...

Às vezes eu penso em perguntar,
Mas pergunta há que não se deva realizar.
Eu me pergunto então por quê?
O porque do viver a si e aos outros a enganar.
Percebo, todavia, que isso não há de mudar.

Me aprofundo numa fresta reluzente,
E me vislumbro, de repente,
em um outro lado que não este.

Me vejo agora junto a fugitivos,
condenados todos por um mesmo crime.
Pronto! Estou cá,
deste ponto já não há como voltar.


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[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 10 de março de 2009

Como o ano, no Brasil, começa em março... lá vai...

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

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Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

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Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 3 de março de 2009

Por uma memória educativa.


Essa semana eu precisei produzir um texto, para a disciplina Profissão Docente, da Unisinos, sobre memória educativa, no qual contasse fatos e professores que me marcaram durante a minha trajetória escolar. Escrevi, li, reli e gostei. Por isso resolvi postar ele aqui. Espero que seja rico, seja para nostalgia de uns, discordância de outros, ou para a simples inércia perene, rsrs. Aqui vai...


Eu me lembro claramente do meu primeiro dia de aula. Tinha 6 anos de idade e me sentia perdida no meio de toda aquela confusão de pais procurando as salas de seus filhos. Com minha mãe não era diferente, e ela me carregava de um lado para outro naquela turba maluca. Enfim encontramos a sala. Entretanto, eu, que durante todo o verão estive ansiosíssima pelo início das aulas, perguntando todos os dias à minha mãe quanto tempo faltava para o começo, comecei a chorar amedrontada pela idéia de ficar sozinha com toda aquela gente estranha. A professora deixou que minha mãe ficasse à porta um pouco, até que eu me entrosasse nas atividades. Logo, já nem me lembrava mais daquela sensação desagradável de abandono e me entreguei facilmente às atividades. Daquele dia em diante, era uma alegria ir à escola.
É claro que minha vida escolar não foi só alegria, entretanto, acredito que esse sentimento relacionado à escola só começou a mudar nas minhas pré-adolescência e adolescência, quando um turbilhão de coisas se passa conosco. Até então você adora ir para a aula, ver seus “coleguinhas”, brincar no recreio, fazer novos e importantes aprendizados.
O que me lembro, até a 5ª série, é de vínculos mais profundos com as professoras, uma relação de respeito mais forte, como se realmente elas fossem quase que uma referência maternal, e eram. Admiração, observação e dedicação marcaram esse meu período escolar. Eu gostava de estudar, gostava de ir bem nas aulas, e também de ajudar os colegas com dificuldade. Algo que me marcou deveras, era uma espécie de sentimento solidário que eu tinha, porque o ambiente de certa forma era egoísta. Cada um tinha suas coisas, com seus nomes e etc. Comigo não era diferente, mas via muitos coleguinhas que não emprestavam nada dizendo que suas mães haviam os orientado para tal, e eu achava muito estranho isso, e sempre acabava emprestando minhas coisas, porque afinal também achava natural que eu pudesse pedir algo emprestado, um lápis de uma cor diferente, uma régua quando havia esquecido a minha em casa. Esse aspecto, de qualquer forma, me marcou bastante.
Também havia uma sensação de segregação, como durante toda a vida escolar, na verdade. Sempre havia aqueles colegas mais humildes ou simples, muitas vezes com problemas em casa. As professoras muitas vezes se envolviam para tentar ajudar, mas em meio à turma esses colegas eram sempre rechaçados de alguma forma. Não falavam com eles da mesma maneira, não emprestavam coisas, não havia, em suma, um espírito de cooperação. Sinto que essa situação vinha das coisas que os colegas aprendiam em casa e nada tinham a ver com o que a professora ensinava em sala de aula. Eram marcas que as crianças traziam de seus pais. E uma coisa corrente era que esses colegas que sofriam preconceitos sempre paravam de estudar ao longo do ano, e isso, como já disse, se estendeu, durante toda minha vida escolar.
Recordo-me que na 2ª série, a professora, Márcia, nos colocava de castigo em pé, virados para a parede, até o fim da aula, mas não me lembro exatamente dos motivos. Muitas vezes eu fiquei, mas não consigo me lembrar das coisas que teria feito para tal.
Depois da 5º série, as coisas mudaram um bocado. Seja pela efervescência que nos traz a idade, ou seja pela mudança da vida escolar. Além de trocar de escola, a rotina escolar também mudou radicalmente, e a partir daí eu tinha não apenas um professor, mas vários, e matérias novas, estranhas, e só conseguia associar isso tudo ao fator da mudança de idade. Agora somos grandes, podemos usar canetas, podemos usar cadernos grandes, e temos até professores homens. Tinha provas mais “raladas”, riscos mais críticos de repetir de ano.
Com a diversificação das matérias, vieram os professores que nada entendiam delas. Lembro-me bem que matérias como artes, religião, ou até mesmo as mais tradicionais, eram dadas muitas vezes por professores que não haviam estudado para isso. E assim, era uma baita enrolação. Os professores ficavam tão colados aos livros didáticos, que as provas eram perguntas, que já havíamos estudado, e das quais as respostas eram parágrafos prontos, completos dos livros, nada mais. Era um mecanismo de decorar bem simples. E tenho pra mim, que devido a isso pouca coisa me lembro dos conteúdos da escola. Não fosse assim, não haveria necessidade de cursinho pré-vestibular não é mesmo? Ao menos nos casos em que os candidatos recém saíram da escola. Não deveríamos estar aptos em tais conhecimentos? Não é isso que ficamos estudando durante 11 ou 12 anos? Sinto falta de ter entendido as coisas, exercitado a minha interpretação. No caso das guerras históricas, por exemplo, nós não entendíamos o porquê, apenas tínhamos que decorar os países de cada lado, as datas, os nomes, as causas, e tudo ficava vazio e virava nada numa frase decorada.
Quanto à sociabilidade na escola, as coisas também mudaram. Formaram-se as “panelas”, os grupos. E você precisava ter um grupo! Do contrário você era um estranho! Eu comecei a ter dificuldade nesse aspecto. Primeiro porque trocava muito de colégio devido à situação instável dos meus pais, segundo porque simplesmente adolescentes são cruéis. Acabei amadurecendo muito precocemente, e achava tudo aquilo uma chatice. Procurando outras coisas com as quais me preocupar não tinha os mesmos assuntos que as colegas, não sabia falar sobre roupas, namoricos. Minhas roupas eram diferentes e não me importava com o quanto tinham custado, e isso no segundo grau é fundamental, porque não interessa o que você escreve no seu caderno, importa que caderno você tem. Não escutava as mesmas músicas, não ia aos mesmos lugares, não tinha os mesmos pensamentos. Isso eu creio que me atrapalhou um pouco, não porque eu não fosse tolerante com essas diferenças, mas porque os outros não o eram. De qualquer forma não foi o fim do mundo. Mas isso acabou afetando minha relação com a escola, o significado dela na minha vida. É impossível você não a associar com toda essa situação.
No segundo grau tive um professor que me marcou muito, professor Gerson Severo, de história, não por acaso. Até então pensava em fazer jornalismo ou história na faculdade, foi então que me decidi por história. Tinha uma relação ótima com este professor, não só em relação aos conteúdos, mas em geral, e ele curtia rock’n roll!!! Identificava-me muito com ele, foi realmente uma referência para mim. Lembro de um dia em que ele chegou no grupo em que eu estava e disse o seguinte: “Gente, é simples, quanto maior o envolvimento, maior o conhecimento, quanto menor o envolvimento, menor o conhecimento”. Aquilo ficou gravado na minha cabeça desde então.
Posso dizer que sempre fui muito bem na escola, exceto no último ano do segundo grau, no qual tive uma crise por não saber o que esperar da vida. Não tinha condições de pagar uma faculdade depois que terminasse, então, passado tanto tempo no colégio, não conseguia entender a vida sem ele nela. Pensava “e daí”? O que vai ser? Acabei reprovando em Literatura, quase uma piada. Não por ir mal, mas por simplesmente não ir à aula, pois em certo tempo eu estava decidida a realmente reprovar, para continuar na escola. Caindo em mim, acabei passando no provão do verão.
Mesmo tendo um bom histórico escolar, em termos de notas, entendo que isso não quer dizer nada, posto o que já aludi anteriormente, sobre não entendermos realmente sobre o que estamos aprendendo, e por que estamos. Há alguma coisa tremendamente errada na educação, talvez uma questão de cultura. Nossa cultura não valoriza realmente o conhecimento. Valoriza sim, o estudo, o “status” que esse proporciona e o que isso significa em termos econômicos na vida de uma pessoa. Penso até hoje sobre porque eu aprendi “fórmula de báskara”, eu nem mesmo aprendi a aplicá-la numa situação real. Essa é a questão.
Acho que é essa pode ser considerada uma breve narrativa da minha vida e sentimento escolares. Gostaria que algumas coisas tivessem sido diferentes, mas quem não o quer? Contudo, pretendo tomar como base minhas experiências para uma prática docente da qual eu teria me orgulhado de ter tido, e através da qual eu possa contribuir com a o crescimento e desenvolvimento reais da sociedade. Espero ter êxito e felicidade neste caminho.




Por hoje é só pessoal...


[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Injuriado - Chico Buarque.

Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim
Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Recortes e cortes...

Minha ambição de nada.
Minha desambição de tudo o que é além do peito,
o que é além da alma.
Minha desconstrução em constante passo,
e meus pedregulhos em constante abraço.
Eu e meu niilismo perambulamos por algumas noites,
acompanhados de algumas composições musicais
e de algumas chacotas humanas.
E as pessoas têm me incutido asco.
Não por serem o que são,
antes por insistir em negá-lo,
criando personagens pelos quais nutrem mais admiração.
Pálidos, diáfanos.
Não para o bem, antes para o mal.
Não aquele mal charmoso pelo qual nos gabamos,
Com o qual encharcamos nossas roupas responsáveis.
Mas aquele mal brega, mesquinho e feio.
Mal se lembram eles
de que não saber sobre quem se é e sobre o que se quer
é uma das formas melhores de se saber...


[Por mim mesma, K.]