terça-feira, 29 de março de 2011

Crise dos 25...

Em meados dos 20 chegam as crises, as verdadeiras, mais profundas e mais estruturais crises. Adolescência... pois é... período complicado também, mas cheio de convicção, coisa que se arrefece com o tempo. Lá pelos 25, finalmente percebemos, in ou conscientemente que não vamos mudar o mundo, que não vamos ser estrelas do rock, que nossas vidas não são assistidas pelo resto do mundo, como num reality show. Que estamos no micro e não no macro. Aquela vaga impressão de protagonizar qualquer coisa vai desvanecendo.
Aprendemos a contemplar a simplicidade da vida, a simplicidade da flor. Nesse tempo já juntamos tanta informação, na ansiedade típica da idade, que já nem sabemos mais em que acreditar, nem o que proclamar como filosofia de vida.
Somos então, astros desconhecidos, celebridades anônimas, em luta por um significado, por uma atribuição de sentido, por uma explicação para tudo isso aqui...
E a motivação da vida se torna uma insidiosa expectativa por uma revelação súbita, que nos dê respostas, que nos dê sentidos...

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Amor com torradas...

- Mas vocês não vão viver só de amor né?!

- Não, claro que não. Planejamos comer torradas também.




Ps.: E assim os desapaixonados vêem os apaixonados. E vice-versa, e versa-vice.

terça-feira, 15 de março de 2011

Estranhos heróis temos nós...

Vasco então disse que achava essas histórias de farroupilhismos e bravatas e gauchismos muito engraçadas e ridículas. Respondi que não havia nada de engraçado nem ridículo e que os meninos precisavam conhecer a História da sua terra. Eu devia ter ficado calada, porque Vasco se pôs sério de repente e começou a falar, a falar, a falar, despejando um verdadeiro discurso em cima de mim. Demos mais de dez voltas ao redor da praça e o Gato do Mato, sempre falando. Disse que era muito malfeito ensinar às crianças que guerras e revoluções são coisas bonitas, que os heróis são só os generais e os soldados que matam. Disse que enquanto nós professoras ensinarmos na escola que foram os brasileiros que ganharam a batalha do Passo do Rosário, que o Brasil é mais corajoso, mais belo e mais adiantado que a Argentina ou do que o Chile – não poderá haver paz. Disse mais que as crianças vão se criando acostumadas a ouvir elogios à guerra e aos guerreiros e acabam achando que matar é a coisa mais natural e necessária deste mundo.
Quando ele parou um instante para tomar fôlego, eu aproveitei a pausa e disse que os meninos deviam aprender a amar a Pátria. Quando falei em Pátria, Vasco ficou aceso de novo e disse que essa idéia de pátria que nós temos é uma bobagem, que todos os homens são irmãos, são iguais e que por falarem línguas diferentes, terem olhos e cabelos de cor diversa não quer dizer que devam andar se estripando em guerras. [...] Disse que as guerras que nós pensamos que rebentam por causa do famoso patriotismo, são geralmente provocadas pelos vendedores de armamentos e por outros grandes negociantes que podem irar partido das bagunças internacionais. p. 202


[VERÍSSIMO, Érico. Clarissa. 38ª edição. São Paulo: Globo, 1995. 240 p.]



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quinta-feira, 10 de março de 2011

Solipsismo

>> Corrente filosófica que determina que exista apenas um Eu que comanda o Mundo, ou seja, o mundo é controlado consciente ou inconscientemente pelo Ser. Devido a isso, a única certeza de existência é o pensamento, instância psíquica que controla a vontade. O mundo ao redor é apenas um esboço virtual do que o Ser imagina. Como também as pessoas, acreditando que são resultados de uma experiência mental. Além disso, também pode-se considerar o corpo do próprio Ser como algo virtual, como diz a corrente solipsista, tudo é uma reprodução, uma vez que não se pode ter confiança nem nos sentidos que são experimentados, e apenas nos pensamentos, como fonte de certeza de existência. O Solipsismo é basicamente a idéia de que o Ser controla o mundo. É uma crença filosófica que além de nós e nossas experiências, nada existe. É a ideia de que a única realidade cognoscível é o Eu.

Fonte: Wikipedia.

sexta-feira, 4 de março de 2011

O labirinto invisível.

Não sei se tenho o talento, mas a alma mortificada do poeta tenho.
Ainda não sei de que me vale essa alma em farrapos, torturada pela frieza bagunçada do mundo,
Mas farejo a saída. Um dia saio, ou morro tentando.
Um dia, talvez, sinta que saí, mesmo não saindo.
Talvez sinta simplesmente que passei sob o arco da porta e respire a plenos pulmões o ar puro da rua, da liberdade.
O que fica, sempre, é o sentir.
A vida é somada em sentires.
A liberdade está cá dentro e não lá fora.
As paredes do imenso labirinto são nossos medos mais sombrios.
Boa pena a vida ser mestra em mostrar que não há verdades absolutas,
Há, e aos montes, verdades transitórias... provisórias.
Aquelas com mera funcionalidade ornamental.
Essa, por talvez, seja a verdade mais sigilosa e óbvia da existência do homem.




[Por mim mesma, K.]

O sobrevivente

O sobrevivente
Carlos Drummond de Andrade


Impossível compor um poema a essa altura da
evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que
seja - de verdadeira poesia.

O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as
necessidades mais simples.

Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.

Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)
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