terça-feira, 26 de abril de 2011

Para sempre...

Chovia dentro de seu coração. Uma chuva que caia em sentido inverso, contra a gravidade, e desaguava em seus tristes olhos. Seu corpo estava doente, seu espírito estava doente. Fora condenada. Tinha agora os pensamentos confusos. Lembrava-se de que para muitos sua doença era considerada um dom, sua maldição, uma bênção. Tolos, não haveriam de compreender a infinita beleza da efemeridade e fragilidade humanas. Mas não podia culpá-los, pois só agora também tinha os olhos despertos para ela, através da mágoa do intocável, do impossível, do imutável.
Sentia seu corpo fraco e com fome. Dias já haviam se passado desde que fora transformada e determinara-se a não se alimentar, negando-se a qualquer tentativa de seus “anfitriões”.
Olhava agora, de maneira quase inanimada, para o tapete brilhante no chão. Talvez pela primeira vez, percebe o lugar onde está. O cômodo da casa que lhe fora destinado é um lindo quarto, bastante confortável e elegante. Porém, não há janela alguma, o que torna o espaço um tanto opressor.
Em todo esse tempo, não comera, não bebera, não se banhara. Limitara-se a ficar estática sobre a cama, numa desgraçada resignação. Também foram poucos seus momentos de descanso, seus pequenos fragmentos de sonos mais pareciam delírios de febre. Encontrava-se ali, pois, uma figura sombria e terrivelmente degradada pelos últimos acontecimentos. Não ousara aceitar o fato. Negara, desesperara-se, mas em nenhum momento até então havia olhado para o futuro com olhos que agora tem, os olhos de um vampiro.


[Por mim mesma, K.]

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