domingo, 23 de dezembro de 2007

escapando entre as mãos...

Eu mesma, às vezes, me esqueço onde estou. Tento me agarrar à realidade, mas ela escorrega devagar e sempre acaba fugindo de mim. Penso nas lembranças, serão reais?
E agora, cortada ao meio pela insanidade das possibilidades, cá estou eu. De formas deformadas que se perdem no meio de tanta pressa, de tanto frio. Tento me ater aos fatos que já não me convencem mais. Tento criar um mundo que consiga fazer com que eu exista, um mundo onde eu ainda possa morrer. Um mundo onde a fome me faça sofrer e o ar me faça tossir.
Crio regras que não existem, exceto na minha cabeça, para justificar absurdos simples. Tonteio e caio dentro de mim. Corro pra fora de meus devaneios, mas eles me agarram a cintura e qualquer fio de sanidade que ainda possa possuir.
Deito, esqueço. Respiro então. Abro meus olhos e tudo que vejo é um teto poluído de sonhos deixados para trás.
Pensar menos a respeito de tanto e mais a respeito de pouco talvez deixasse que o egoísmo me corroesse aos poucos disfarçado em sorrisos doces e loucos. Sorrisos mentirosos e taciturnos. Seria feliz então? Ignorando a irrefutável realidade que me consumiria de qualquer jeito? Acho que não.
(14.04.2006)

[Por mim mesma, K.]

.extremos de minh'alma.

O que me era caro
Tornou-se tortuoso
O que era um consolo
Agora é odiável
As horas cheias tornaram-se eternas
E o carinho virou apreço
Minha alcova virou masmorra
Meu pão veneno
O que me cura amargura
E os meus sonhos
Ah! Estes se transformaram em pesadelos.


(13.05.2006)

[Por mim mesma, K.]

Criatura urbana.

Eu tenho esperança. Sou minha mais fiel esperança.
Eu tenho crença. Não passo de minha própria crença de que existo. Tão logo afirmo isto creio em alguma existência, que nem mesmo sei se existe.
Sou, portanto, minha crença.
Criatura urbana. Enfumaçada pelo caos dolorido e tenso.
Apedrejada pelo pó pequeno.
Como o quente, bebo o frio.
Nada que os imortais não o façam.
Nada que o surreal alcance ou que o real admire.
Eu sou, pois, mísera criatura urbana.

(06.11.2006)

[Por mim mesma, K.]

"instinto...

Sou drama, sou trama.
Entrego-me ao exagero do sofrer,
Sem dó, sem nó, sem relutância.
E descubro com calma e agonia quem sou,
E calo ao pensar saber, e tento ao chorar...
E consigo me acostumar ao meu ser como um todo sem todo...
Suportar...
Tolerar as dores descoloridas da alma em preto e branco
Que o meu corpo abriga
E sigo sem saber por quê...
Planejando,
Farejando o que acredito ser um indício da vontade de viver...



(15.04.2006)

[Por mim mesma, K.]

Untitled...

Tenho agregado cada vez maior um sentimento de constante vazio, e facilmente me vejo impedida de ver qualquer sentido vago para minha existência. Comparando-me não raro a um animal condicionado pelos instintos de sobrevivência. Vejo-me decadente, sem perspectiva, sem “por que”, sem caminho, sem alma enganada. Olho para as pessoas e me pergunto o que há de ser tudo isso? Vivo de maneira a cumprir um roteiro pré-determinado. Vivo com a certeza de morrer, e então de que vale viver? Eis que a resposta viria fácil de uma boca comum. Viver para ser feliz, ou mesmo viver por que se tem que viver, sei lá eu porque cargas d’água, mas enfim. Assumindo essa filosofia, mesmo assim não encontro solução para minha ambígua vontade de viver. Nada me tem feito o espírito menos aflito.
Minhas eufóricas e efêmeras alegrias têm se tornado mais razões para minha crescente tristeza e desalento. Sem fundamento nem êxito, venho tentando trilhar um caminho óbvio. Espero uma equidade que não existe no mundo que fica do lado de fora de mim.



**Estranho é aquele homem esguio, de tristeza patética estampada aos olhos, que passa por mim nessa passarela pela manhã, com óculos desproporcionais, roupas incompatíveis ao tamanho hediondo, de magreza exagerada e olhos inexpressivos... palmas à estética fundamentada.



(20.07.2006)

[Por mim mesma, K.]

"..."

Não consigo amar...
Nem viver...
Nem pensar em querer...
Nem sair do casulo, ou sair...

Estou com fome, e não como, e não estou...
Preciso olhar de algum modo...
Preciso me convencer...

E sempre acabo inacabada...
Sempre sem final...
Triste, feliz, ou nem assim...
Sempre tendo que voltar...
Voltando para a casa...
Sem casa, sem nada...

O espaço me envolve, me recolhe...
Me sufoca e faz cegar...
Me leva daqui, para lá...
Daqui...
Estou voltando para a vida...
Sem vida, sem alma...
E me vou...
E me fui...
Suspiro...
E vagueio...
E sempre assim...



(29.01.2006)

[Por mim mesma, K.]

a ilusão da casa...


A felicidade (uma espécie de conjunto de alegrias bobas e alegres) nos coloca diante dos olhos um filtro cor-de-rosa através do qual visualizamos a realidade. É visto também que a felicidade não propicia o talento poético, ou mesmo artístico. Nosso drama é alimentado por nossos infortúnios, e quando nos abate o brilho na alma, nenhum infortúnio é, senão, mais do que um mero contratempo. Os sorrisos bobos e constantes assumem conflito com nosso senso racional e adequado. Entretanto, é essa mesma dormência que nos aflige o instinto através da insegurança por manter o estado de frenesi romântico. Então, pois, ficamos sobre a tênue linha que separa a felicidade da total desgraça. Furor, mas medo. Calor, mas frio. Crer?! Relutar?! O filtro nos faz felizes, e é isso o que interessa até que alguma dor nos corte ao meio como de costume...
(23.12.2006)
[Por mim mesma, K.]

sábado, 22 de dezembro de 2007

Desejos de um egoísmo comum.

A um espelho hei de contar meus anseios e tristezas, pois com certeza há de me conhecer melhor do que eu mesma me conheço...

No mar hei de jogar minhas mágoas, meus temores, pois talvez ele consiga transformá-los em alegrias e coragem...

Pro ar soprarei meus desejos, tudo aquilo que me faz feliz e também o que não me faz, para que ele se encarregue, assim, de achar o caminho da minha felicidade.

Contarei em segredo, tomara mal guardado, às flores, de quem mais gosto nessa vida, pois assim, talvez, em complô com a natureza, elas cuidem para que nenhuma delas seja tirada de mim antes que eu me vá daqui.

Serei cúmplice do amor, para então cair em suas graças de uma vez por todas.

Então na plena plenitude, na plena euforia da perfeição, terei desejos funestos, para que então leve o melhor daqui comigo dentro de meu infinito egoísmo...



(15.04.2006)

[Por mim mesma, K.]

Utopia esperançosa...

Queremos vida, queremos paz. Liberdade de ser quem somos, de fazer o que sentimos. Queremos buscar na intensidade toda a naturalidade de viver, toda a essência singela de cada ser, de cada gesto de atenção.
Queremos conceber a graça de tudo isso, pintar marcas de afeto profundo.
Queremos um olhar de satisfação no rosto dos que hoje sofrem por não saber o que é amar.
Queremos a felicidade alheia e a nossa em percebê-la.
Queremos toda a mágoa e desconfiança fora disso, e que tudo de escabroso se faça ausente em nossas mentes, então, cheias de luz.
Que a religião suma e que os povos se unifiquem dando sentido àquilo que conhecemos como “humanidade”. Que as nações desapareçam e com elas toda a guerra, ganância e poder.
Queremos que todos saibam o que realmente é vida.
Queremos voltar a ser o que éramos quando ainda não existíamos.



(08.09.2006)

[Por mim mesma, K.]