terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Inocente TV

     Eu tento não ver. Juro. Tento não ver unicórnios em lugares supostamente comuns. Hoje em dia tento mesmo. A coisa andava a tal ponto que faltava pouco para que eu moldasse um chapéu de alumínio para impedir qualquer dark one de ler meus pensamentos. Mas enfim, teorias do passado.
     Contudo, alguns absurdos são indiscutíveis. Um deles é a evidente campanha midiática para enburrecer as pessoas. Durante minhas férias pude olhar um pouco de televisão e realmente fiquei apavorada. Já nem chama a atenção porque as pessoas nem se dão conta, tão tomadas pela rotina que já estão, lobotomizadas.
Frases soltas nas novelas e programas, mensagens imperceptíveis, mas repetidas infinitamente. E às vezes nem tão imperceptíveis assim, há aquelas que se deixam bastante claras, como um soco na cara.
Olhava eu a Tv Globinho, um programa onde passam desenhos infantis nas manhãs da Globo e eis que surgem duas frases que me estarreceram:

- pra quê se preocupar com a lição de casa quando se pode salvar o mundo - um dos personagens principais, pré-adolescentes, não lembro o nome do desenho;

- perdi meu melhor amigo, mas também, por que se importar com isso se eu tenho uma roupa nova? - Homem Aranha em O espetacular homem aranha;

     Não vou entrar nas questões de dublagem, pois pode muito bem ser que o idioma original nem diga isso. De qualquer forma é o português que nos interessa. Quero deixar claro que isso não é necessariamente um ataque aos desenhos em si.

     Sem dúvida que para alguns, prováveis telespectadores assíduos da caixa eletrônica, parecererão frases inocentes, inseridas na temática do desenho. Eu, por meu lado, percebi de cara um certo tom adestrador e, o pior, em programas dirigidos ao público infantil, numa fase fundamental para a formação de caráter. Essas foram duas frases que me chamaram atenção durante a mesma manhã, em pouco tempo olhando tv. Mas conteúdos similares são metralhados em direção à nossos cérebros durante todo o tempo, e não só através da televisão, de seus programas e propagandas, mas através de todos os canais de comunicação possíveis. É informação utilizada com o claro intuito de manipulação, manipulação esta que é dirigida para fins alheios. Esses fins me parecem claros, a manutenção do consumismo desenfreado, da letargia intelectual, da não indagação e reflexão.
     É como se fôssemos animais irracionais. Somos atraídos pelo brilhante, pelo colorido, atraídos e distraídos. E é uma situação tão cômoda para todos nós que quando de qualquer vislumbre do lado cinza, para além da cortina psicodélica, da coxia decadente e pedante, nós imediatamente nos retraímos e corremos para nossos mundinhos coloridos novamente, tetando nos convencer que nada disso acontece, que não existem más intenções, exceto dos bandidos e assassinos que são mostrados no show de horrores do Datena.
     Com isso tudo não pretendo a extinção da TV e de nenhum meio de comunicação, não pretendo crucificar esses veículos que na realidade constituem uma bênção para a comunicação e integração da humanidade. Não. Não quero mais uma vez repetir o erro de culpar coisas inanimadas ou a "natureza raivosa". Quero apenas alimentar uma esperança de que a cada dia que passa mais e mais pessoas se tornam conscientes disso, mais e mais pessoas se tornem capazes de julgar por si próprias sobre o que concordam ou não, mais e mais pessoas - e esse é o primeiro movimento da mente - se questionem sobre o que vêem, sobre o que escutam, sobre o que lêem, e sobretudo, sobre o que querem para o mundo em que vivem e que é de todos nós.



[Por mim mesma, K.]

2 comentários:

Fábio Baum disse...

Olá!! Sou o Fábio, também conhecido como Stormrider, mas faz tempo que não nos vemos.

Gostei do post, porque este tema é um dos que muito me intrigam.

Eu tinha essa hipótese também, de haver uma manipulação da TV sobre o público em geral, mas acabei desenvolvendo outra hipótese, que é a da TV meramente comercial.

Acredito que a TV tem essa programação não por ter a intenção de manipular, mas simplesmente porque isso é melhor aceito pelo grande público. Com maior aceitação, alcançam-se maiores índices de audiência e consequentemente, ganha-se mais dinheiro, que é, no fim, a intenção das empresas.
Vi como as campanhas por "educação social", como as contra o uso de drogas ou pela educação no trânisito na TV falharam miseravelmente e percebi que as pessoas só assimilam aquilo que querem, mesmo que inconscientemente.

Percebi que as pessoas tem uma certa aversão ao pensamento próprio e por chegar a conclsões individuais. O que querem é que alguém lhes diga o que fazer, e a TV em geral só cumpre esse papel, ditando modas ou ainda dizendo o que as pessoas querem ouvir.

Acredito que a TV só está ocupando um posto, como um servidor público ocupa um cargo. As pessoas tendem a ser manipuladas, seja por uma igreja, seja por um grupo de neuróticos fascistas, seja pela televisão ou por um indivíduo com lábia e que diga o que o povo quer ouvir.

That's my opinion! =]

Se quiser contatar:
www.formspring.me/fstormrider
www.twitter.com/_stormrider
ou Stormrider no msn
ou Fábio Baum no orkut =]

K. disse...

Lembro de ti sim, claro.
Pois é Fábio. Acho que o cerne da questão é o USO da televisão enquanto ferramenta que é, por definição. Ela é uma ferramenta, um instrumento de comunicação. Então o que está em questão é O QUÊ ela está comunicando hoje. Evidente que ela está sendo utilizada para alimentar um ciclo vicioso. As pessoas realmente não querem muita coisa da tv mesmo, se irritam quando algo pretende um pouco mais de profundidade, etc. É uma relação espelhativa. A tv, em certa medida reflete a demanda do público, mas também o público reproduz aquilo que é valorizado na tv. É uma relação que se faz em dois sentidos.


Muito obrigada pela tua contribuição e por tua opinião, que é muito interessante por sinal.

Um abraço guri!

K.