quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Motoristas de merda...

     Tenho ressalvas quanto aos sinais de trânsito, os luminosos em particular. Sempre confio mais em mim, na minha atenção. Olho para todos os lados, todas as direções possíveis. Ando muito pela rua, em Porto Alegre ainda, cidade de trânsito maluco, de motoristas malucos. Antes de atravessar sempre confirmo meu passo acertado. Vejo cada absurdo por essas ruas - mais ainda depois que comecei a dirigir - que não poderia agir diferente. Vemos todos os dias verdadeiras selvagerias no trânsito, o que vai em total prejuízo de qualquer pretensa civilidade que nós humanos queiramos professar.
     Tenho que dizer, contudo, que talvez o que mais me motive a ter atenção redobrada seja a recusa absoluta de ser morta por um imbecil qualquer, por uma estupidez alheia. Me resigno a morrer por erro próprio, mas morrer por causa de uma besta irracional? Não, me recuso. Morrer por causa de alguém que nem sequer respeita o meio em que vive? Nem sequer respeita a vida que corre nas veias urbanas? Me recuso a morrer assim, morrerei sob mil outras circunstâncias, mas não sob esta. Me recuso!


[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Peripécias de Luíza Lopes

          Aos 17 anos Karina ganhou uma irmã. Filha única até então, não haveria de poder conceber quão forte é o laço entre irmãos. Concebeu-o então, sentiu-o então. E chorou no hospital ao pegar aquela coisinha minúscula, com perninhas compridas e finas e cabeleira negra e generosa.
            Não imaginava, Karina, que com tanto amor, também viessem tantas dúvidas, principalmente no tocante à criação e desenvolvimento de uma criança. E não imaginava também, Karina, o quanto isso a preocuparia de forma latente.
          A pequena Luíza - que é como se chama a coisinha aquela do hospital – está às vésperas de completar 8 anos de idade. É uma pessoinha, pois, em construção, mas já uma pessoinha.
            Explica-me ao telefone, como estará ocupada no final de semana, que será cheio de festinhas de amiguinhas, e de passeios do colégio, e que por conta da agenda atribulada não poderá visitar a irmã mais velha, Karina. A irmã mais velha entende, mas não consegue deixar de sentir certa fisgada no peito, um certo despeito talvez, por ser preterida.
            Mas a despeito de qualquer despeito burro e mesquinho – inerente a todos os humanos – Karina sentiu algo mais. Percebeu de fato a pessoinha Luíza, construindo sua vidinha, suas relações, sua rede de contatos e experiências, e se viu, subitamente, relegada a um plano secundário.
            E isso é bom. Isso é incrivelmente bom. Karina se sente presenciando o construir de uma vida. E tudo bem que não é mais a heroína da irmã, tudo bem. Karina se sente feliz. É como se Luíza deixasse de habitar um único plano virtual, no qual ela é parte de algo, para desenvolver um plano só dela, feito por ela.
            Karina enruga a testa quando Luíza pede um cd do Justin Bieber e se vê numa encruzilhada. Não quer magoar a pequena com argumentos egoístas que a pobrezinha nem mesmo ainda pode articular. Não quer gastar o pouco tempo de que dispõe ao lado da irmã amada tentando convencê-la, numa teimosia inócua e tola, de que o Justin Bieber é um grande bobalhão. Ela não vai concordar. É Karina contra um arsenal televisivo e cultural gigantesco. O que acontecerá, sim, é aquele olhar triste, magoado, pidão e envergonhado. E causar isso é crueldade, das mais injustificadas!
            Karina lembra que em outros tempos já gostou do “É o tchan”, e se dá conta que isso não foi fator relevante na construção da sua personalidade adulta. Decide então por gravar os CDs. Gravados os CDs do Justin Bieber, – que, pasmem, já são dois – Karina os leva para Luíza, na expectativa de ver os olhinhos dela brilharem quando os vir. Inevitavelmente é o que ocorre. E os olhos de Karina também brilham ao ver a irmã tão feliz. E nada mais tem a ver com Justin Bieber, com cultura de massa, com má influência. Tem a ver unicamente com o amor fraterno e com o desejo sincero de felicidade do outro, no caso, da pequena Luíza.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

bons tempos em que os meus desodorantes eram microfones...

        Pensando por esses dias percebi, uma vez mais, como a gente cresce sem notar, ou melhor, como a gente muda sem notar. A gente muda, assim, tão lentamente que é capaz de afirmar categoricamente que nunca vai mudar. Mas sempre chega um momento, por mais que se teime, em que se admite mudar, se admite e se fica feliz por mudar. Mudanças mudas, sorrateiras e profundas, a todo o momento estão acontecendo dentro de cada um de nós. É como a renovação das células mortas do nosso corpo, é como os fios de cabelo que não fazem barulho algum ao se espicharem em nossas cabeças. 
      Assim, num dia qualquer, simplesmente percebemos que já não cantamos mais na frente do espelho com o desodorante fazendo vezes de microfone, dublando loucamente aquela música preferida. Simplesmente já não nos lembramos de o fazer, simplesmente já não nos interessa mais, simplesmente já não nos sobra tempo para o fazer, ou se sobra, o dispendemos em outras coisas que nos interessam mais no momento - No momento... no momento... momento...


[Por mim mesma, K.]

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Amor.

Existem três fontes de atração
No amor dos seres humanos;
São elas o espírito, a mente e o corpo.

A mútua atração dos espíritos
Gera a amizade.

A mútua atração das mentes
Gera o respeito.

A mútua atração dos corpos
Gera o desejo.

E a combinação das três
Gera o amor.

[Verso indiano dos Upanixades. Em: VASSILCHENKO, 1977]

Em consonância com seu uso da teoria geral dos sistemas, Vassilchenko definiu o amor como "um sistema dinâmico complexo, baseado na intelectualidade, emoções e no poder do desejo", e observou que o mesmo consiste de uma multidão de variáveis. Em contraste aos sentimentos temporários de desejo, os sentimentos profundos do "verdadeiro" amor permitem que o relacionamento seja de realização e de totalidade. No "verdadeiro" amor, o indivíduo freqüentemente nega as necessidades do ego pessoal e transforma-se através da união com o outro. [Em KRIPPNER, 1980]

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mais uma linda canção...



How can i pretend that i dont see what you hide so carelessly
Como posso fingir que eu não vejo o que você esconde tão descuidadamente

I saw her bleed
Eu a vi sangrar
You heard me breathe
Você me ouviu respirar
And i froze inside myself
E eu congelei dentro de mim
and turned away
e afastei-me

I must be dreaming
Eu devo estar sonhando

We all live...
Nós todos vivemos
We all die...
Nós todos morremos
That does not begin to justify you
Isso não começa a justificá-lo

It's not what it seems
Não é o que parece
Not what you think
Não é o que você pensa

No i must be dreaming
Não, eu devo estar sonhando
It's only in my mind
É apenas em minha mente
Not real life
Não é a vida real
No i must be dreaming 
Não, eu devo estar sonhando

Help you know i've got to tell someone
Ajude, você sabe que eu tenho que contar a alguém
Tell them what i know you've done
Contar a eles o que eu sei que você fez

I fear you but spoken fears can come true
Eu temo você, mas os medos falados podem se tornar verdade

We all live...
Todos nós vivemos
We all die...
Todos nós morremos
That does not begin to justify you
Isso não começa a justificá-lo

It's not what it seems
Não é o que parece
Not what you think
Não é o que você pensa
No I must be dreaming
Não, eu devo estar sonhando
It's only in my mind
É apenas em minha mente
Not real life
Não é a vida real
No I must be dreaming 
Não, eu devo estar sonhando...


[Untitled - Evanescence. Tradução livre por mim mesma, K.]



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

no mentiroso mundo das aparências...

fazer piadinhas sobre características físicas das pessoas não é apontar um problema no outro, mas mostrar o seu próprio problema...


[Por mim mesma, K.]

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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A sincronia dos pássaros me apavora...

       É só olhar para aquele passarinho engaiolado ali do lado para se ter uma boa noção do sadismo humano. Há algo de tremendamente errado nesse hábito de enjaular pássaros. Aliás, de enjaular qualquer coisa. Mas esse, especificamente, de enjaular/engaiolar/aprisionar pássaros é uma das mais cruéis expressões do egoísmo do homem. Algo do tipo: “eu não posso voar, então vou te prender passarinho, aqui nessa jaulinha bem minúscula, e eu sei que tu poderias estar galgando imensas distâncias pelos céus resplandecentes e azuis, mas não vais, entendeu? não vais, porque te acho bonitinho aqui, nessa jaulinha, bem pequenininha!”.
         O pior ainda é ouvir aqueles discursos: “tem passarinhos que existem para viver em gaiolas (do tipo uma linha de produção só para o bel prazer do querido e amável ser humano), que são ‘domésticos’”, ou ainda, “ahh, mas se soltar agora ele morre”.
          - Atenção pessoas!
           Um ato de vaidade, de egoísmo, de arrogância diante da natureza. Um ato asqueroso. Eu mesma, devo confessar, já pensei em ter um passarinho, e pra quê? Pra sei lá, inventar mais um algo pra fazer (como se já não tivesse sido inventado o suficiente), para despistar algum instinto maternal, para me sentir importante e útil, para ter o controle de uma forma de vida, sei lá.
           Se fala em grandes atos heróicos de salvação, se fala de um monte de merda humanitária, e blás e blás infinitos. Mas quer saber, é nessas pequenas coisas que o ser humano mostra sua face verdadeira. E o mais apavorante é saber que absurdos cotidianos como esse são encarados como normalidade pura. Isso é o mais assustador!

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[Por mim mesma, K.]

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...pensando se saio, bebo e fumo, ou se fico em casa, leio e durmo...


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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sobre o livre arbítrio

           Ao poder do qual o homem supostamente seria dotado, sob determinadas circunstâncias, de agir sem motivos outros que não a própria ação, é dado o nome de livre arbítrio. A existência de tal faculdade nos seres humanos foi - e ainda é - motivo de muita celeuma nos mais variados níveis. Seja como for, é senso comum que a liberdade de escolha está na razão direta das possibilidades daquele que escolhe; não sendo possível admitir-se um "total livre arbítrio". Por exemplo, vivemos num país onde uma maioria de indivíduos possui um número tão reduzido de possibilidades, que nos é possível prever, com nível razoável de acerto, qual será o "destino" desta ou daquela pessoa. (KRIPPNER, 1980)



não discordo, não concordo... mas reflito...

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The Way that I Choose...

Posto essa música aqui, simplesmente porque ela é demais. Linda demais! E a letra dela fala por mim, de certo jeito.


The Way I Choose

Bad Company



I live my life the way that i choose

Eu vivo a minha vida do jeito que eu escolho

I'm satisfied nothing to lose

Eu estou satisfeito, nada a perder

I dont ask no favor i dont know the reason why

Eu não peço favor, eu não sei o por quê

If i dont ask no questions i dont get no lies

Se eu não faço perguntas eu não tenho mentiras


Now you give your love tenderly

Agora você dá seu amor ternamente

Every way that you move is closer to me

Todo os seus movimentos lhe aproximam de mim

I dont need nobody to tell me the reason why

Eu não preciso de ninguém para me dizer o por quê

If i love only you baby

Se eu amo somente você baby


I'll be satisfied

Eu estarei satisfeito

Baby answer my questions

Baby, responda minhas perguntas

If you want say hello

Se você quer dizer olá

Baby dont say goodbye

Baby, não diga adeus


[Tradução livre por mim mesma, K.]






sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mulher de câncer!

Não posso dizer que sou lá essas coisas ligada em astrologia, ou que creio sem reservas, mas tenho que reconhecer que essa descrição sobre meu signo é mais que perfeita.

Ela é meio doida, qualquer coisa triste e surpreendementemente sábia. Não são extremistas como as geminianas, mas certamente sofrem, regularmente, de uma variação de humor pelo fato de que se ressentem fácil com as coisas. No entanto, se tem uma coisa que não muda na mulher de câncer é o seu senso de economia. São conhecidas no zodíaco pelo porquinho de segurança onde colocam moedas, convictas e determinadas. Escondem seu tesouro debaixo do colchão e ninguém nem desconfia que tem alguma coisa lá, tamanha é a modéstia dessas meninas. E é bem provável que a especulação monetária e o valor do câmbio sejam alguns de seus assuntos preferidos.
Mas não ache que por isso precisa lhe dar presentes caros. Pelo contrário, ela achará isso um exagero. A mulher de Câncer definitivamente não precisa de um homem de posses, só precisa que ele seja capaz de adquiri-las. Ajudará a consegui-lo, mas lhe deixará sozinho se tiver que gastá-lo. Boa notícia! O cartão de crédito não poderia estar em mãos menos perigosas que as delas.
Leve-a para ver o mar, a lua. Isso faz bem as nativas desse signo. Câncer é um signo lunar. Então esse cenário mexe seriamente com essas mulheres (algumas chegam a mudar de acordo com as fases da lua). É ali, num lugar que é delas e só delas (mesmo que seja tão grande quanto o mar), onde se desfazem da carapaça do caranguejo e a imensa infinidade de seus sentimentos respiram aliviados. E ai você vê como, apesar da aparente rigidez, a canceriana é inteiramente feita de água salgada. Pode ser de mar, pode ser de lágrima. Câncer é o signo mais emocional do zodíaco. A racionalidade de suas economias nada mais é que uma resposta ao seu desejo de segurança.
Das duas uma: quando elas estão apaixonadas ou são tão tímidas que parecem desinteressadas ou se insinuam de jeito delicado, feminino e enlouquecedoramente suave. Mas dificilmente serão elas que tomarão a iniciativa. O caranguejo só anda para os lados. Até porque as cancerianas temem muito serem rejeitadas e aceitam sempre muito bem repetidas confirmações de afeto.
São donas de um conceito de amor muito raro e é realmente muita sacanagem brincar com o sentimentos dela que já são tão afetáveis. Esteja certo: uma vez que ela se sinta magoada e decepcionada, veste decidida a sua carapaça e você não sabe mais quem está do seu lado (isso se ela não está trancada na carapaça do quarto dela e só Deus sabe quando ela vai sair de lá). Magoá-la é extremamente fácil. Até se você disser que ela está bonita hoje, pode ser coisa ruim (sim, porque isso significa que ela estava feia ontem).

Cancerianas são assim. Dispostas a enfrentar o que for se você expressar sinceramente que está lá com ela e que ela é importante. Amarão alguém de um jeito dedicado, forte e profundo como o oceano dentro delas. Te fará rir, lhe oferecerá sergurança, bem como estará disposta a sair do caminho de casa e ver onde vai dar aquela estradinha de terra. Basta que você esteja lá.


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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A minha Shakira morreu...

     Lembro-me de quando era bem adolescentizinha, 13, 14 anos. Naqueles anos a gente ouvia fitinhas cassetes e não cds. Meu pai havia me presenteado, após longa importunação minha, com uma fitinha da Shakira, do álbum Pies Descalzos. Eu ouvia sem parar aquela fitinha, e era muito engraçado (olhando do lugar de hoje) pois eu havia fixado em duas músicas, Quiero e Antologia, e como queria ouvi-las continuamente, cada vez que acabavam eu tinha que rebobinar a fita, esperar até o ponto e apertar o play novamente, para curtir de novo a canção. Bons tempos! Minhas únicas preocupações consistiam em rebobinar fitas, e estudar para provas...
      Saudosismos à parte, aquela Shakira de quem eu era fã morreu, e morreu ali mesmo, naquele álbum. Hoje virou mais uma loira rebolativa com pouco ou nenhum conteúdo musical. As pessoas mudam, todos mudam, mas nem sempre pra melhor. No caso dela, acredito que financeiramente tenha mudado para melhor, engordou as contas bancárias, se globalizou, aprendeu a falar inglês, etc.
      Mas enfim, não estou aqui para falar mal da Shakira. Quiero, pelo contrário, trazer à tona essa cálida lembrança da minha adolescência, e compartilhar com aqueles que me lerão um álbum musical de muita qualidade, com belíssimas canções...


Quero

Que eu passe minha vida devorando
Cada pensamento seu, cada passo
Que se apaguem tuas pintas e apareçam em substituição
Desenhados no seu corpo cada beijo, cada abraço

E agora que você está aqui
Eu de novo sou feliz
Posso entender que você foi feito para mim

Deixa-me te querer tanto que você se seque com meu pranto
Que escureça todo o céu e que chova até fazer poças
Deixe-me te beijar tanto até que fique sem hálito
E te abraçar com tanta força que quebre até teus ossos

E agora que você está aqui
Eu de novo sou feliz
Posso entender que você foi feito para mim

Quero me exceder, te perseguir, te cortejar
Quero amar você noite e dia
Quero gastar a minha vida
Quero amarrar você aos meu sessenta de cintura
Levar-te como tatuagem
Quero perder o senso


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A corporação, 2003

CINEASTA: MARK ACHBAR, JENNIFER ABBOTT
GÊNERO: DOCUMENTÁRIO/HISTÓRICO
ORIGEM: CANADÁ
Esse documentário deveria ser obrigatório! É realmente fantástico. Ele trata, evidentemente da "corporação", essa instituição que causa tanta controvérsia e polêmica nos dias de hoje. Mas o que é exatamente "a corporação", qual sua natureza, qual sua função? Em que medida ela foi desvirtuada com o passar dos anos?
Baseado no livro homônimo de Mark Achbar, o documentário consegue expandir vertinosamente alguns conceitos chaves para compreensão do mundo em que vivemos e, sobretudo, da economia em que vivemos.

Disponibilizo o link para o download do documentário:

Créditos para o link de download: 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Um conto com ratos...

Eu andava por um corredor estreito, entre paredes altas de concreto. Não enxergava meus pés, não enxergava o chão, só via e sentia uma neblina densa e rasteira. 
Escuridão. 
Sentia volumes sob meus pés, mas não podia ver... não podia ver...
Cheguei, enfim, a uma abertura no meu lado esquerdo. Lá estava claro, claro de uma luz desmaiada e fraca. Era um jardim. Um jardim de flores mortas, secas e escuras. No chão, ratos, muitos ratos. Ratos sujos do que parecia ser sangue. Ratos vivos, mas podres. 
Eu gritei. 
Não um grito de pânico ou de medo, mas um grito vibrante que espantou alguns daqueles seres asquerosos, como se os varresse. Alguns ficaram no caminho, e eu simplesmente catei algo do chão para atirar neles. Apertei sob meus dedos e lancei, lancei com toda força e raiva de que era capaz. 
Foi então que olhei para minha mão e ela estava suja. Ensangüentada e pútrida. 
Aterrorizada percebi: aquilo que havia jogado era outro rato, morto e podre. 
Vi a peste se espalhando sobre meu corpo, me consumindo, me apodrecendo, e de repente o chão ficou fofo e lamacento sob meus pés e me engoliu.
Uma queda vertiginosa me fez querer gritar, mas a lama sufocava minha garganta, me sufocava. Numa escuridão total e apavorante eu senti minha vida escapando entre os dedos. 
E do que parecia ser meu último respiro desesperado veio a luz da manhã invadindo minha retina, me acordando num susto...
Respirei fundo olhando para o teto...
um sonho...
um péssimo sonho...




[Agosto de 2010. Por mim mesma, K.]


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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Um dia amaldiçoado pelos deuses

            Hoje, em Porto Alegre, menos vale uma sombrinha do que um par de esquis na Bahia. Mas a história começa um pouco antes. O dia se me apresentava como um pedaço de chocolate branco recheado de negresco. Carona do namorado até a estação São Leopoldo. Um ônibus a menos na incrível jornada à Porto Alegre. Beijos, Bom trabalho, Fica bem, Até mais tarde. Mal sabia eu o que o dia me reservava para além daquela plataforma de trem de todo dia.
            Na estação Esteio o trem parou. Lá veio a voz do maquinista “Senhores usuários, devido a problemas técnicos, este trem ficará parado por alguns instantes”. Instantes que somaram quase meia hora. Finalmente o trem deu partida vagarosamente, e dali para adiante ficou parado de 3 a 5 minutos em cada estação. Foi uma angústia sem fim. Todos aflitos, ligando para seus empregos, se explicando, etc. Minha sorte foi ter comigo, como de costume, um livro. Assim eu li a viagem inteira e tornei menos drástico aquele sentimento de ansiedade. Júlio Verne, A volta ao mundo em 80 dias. Moral da história: saí da estação São Leopoldo às 6:10, cheguei em Porto Alegre às 7:45.
            Chegando à estação Mercado me dei conta de que havia esquecido meu cartão tri no bolso do outro casaco. Fui trabalhar a semana inteira com aquele casaco, hoje tinha decidido colocar outro. É verdade também que não tenho o hábito de deixar o cartão nos bolsos, sempre colocando ele de volta dentro da mochila. Mas o acaso é a sorte do azar. Ontem eu tinha depositado todos os meus pilas no banco, que eram 16, estava, pois, sem um tostão na algibeira. Então pensei, vou ter de passar no caixa eletrônico para pegar dinheiro para pagar a passagem do ônibus de Porto Alegre. Há, ou havia, um caixa desses 24 horas ali dentro da própria estação Mercado, onde eu sempre sacava dinheiro. Mas hoje, quando eu cheguei lá, o caixa simplesmente havia desaparecido! Sumiu, escafedeu-se. Justo hoje! Aliás, NADA justo nisto.
            Tudo bem, vamos lá. Ainda não havia esmorecido. Passo no Banco do Brasil ali da Rua Uruguai. Quando subi as escadas e tentei abrir minha sombrinha ela decidiu que só queria abrir para fora. Foi uma peleia, mas consegui. Tão logo alcancei a rua percebi que a coisa não tava boa. Ventão forte! Achei que a sombrinha ia quebrar, e a chuva vinha de todos os lados, e até de baixo me parecia. E aquilo tudo parecia um campo cheio de micro batalhas, todos em firme briga com suas sombrinhas que por sua vez brigavam com o vento. Vento não. Ventão.
            Ao atravessar para a Uruguai eu já estava mais que molhada. Cheguei até o banco, com não pouco esforço. Me senti numa missão militar, tendo que atravessar impossíveis terrenos, com visibilidade escassa ou nula. Saquei 5 pila, e tomei o caminho de volta, subindo pela Borges de Medeiros até a Salgado Filho para pegar o ônibus. Bem na esquina uma verdadeira corredeira, acho que algum cano havia estourado. Mas já resignada, e muito encharcada é verdade, não me atucanei com mais aquela água que entrava nos meus tênis. Logo encostou um 398 Pinheiro que pude pegar. Passei na roleta, entreguei os 5 para o cobrador, recebi o troco e fui me sentar, com ares de vencida. Conferi o troco e percebi que, por ato in ou voluntário o cobrador me havia logrado com 5 centavos no troco. Não tinha forças para reivindicar aqueles 5 centavos. Não tinha.
            Descendo na Bento, tentei dar ares de normalidade ao meu dia, atravessei a rua e fui a padaria comprar dois pastéis, dos quais me considerei merecedora naquela circunstância. Saí, esperei na beira da rua para atravessar e um carro filho da puta, melhor, um motorista filho da puta passou em disparada numa poça de água no canto da rua. Nem preciso dizer que a água foi toda para mim. Mas, como disse, nessas alturas já havia encarnado um espírito de resignação.
            Cheguei finalmente ao trabalho, num estado de ânimo que parecia surreal. Tirei minhas roupas, meia, tênis. Os coloquei junto com a mochila, também encharcada, em frente a um ventilador numa sala a parte. Coloquei o uniforme. Liguei o aquecedor nos meus pés, que estão descalços. Servi um café quente e fui comer os meus pastéis. 

Pontos positivos:

Meu tênis ficou limpo;
Os pastéis e o café nunca pareceram tão saborosos;
Agora estou sã e salva da selva de pedra molhada.

Pontos negativos:

Todo o resto.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Porque blá!

Veja bem, blá blá blá. Porque blá blá blá. Então blá blá blá e blá. Entendeu? :

Às vezes é melhor, necessário e mais digno que digamos simplesmente 'Não sei'.

Portishead - Roads

As músicas do Portshead podem ser classificadas em ótimas e menos ótimas...

Automatizações

Seja olhando um filme legendado por programas automáticos, ou letras traduzidas na internet, também por programas automáticos. Chega a ser bom pensar que, ao menos no que diz respeito as ciências humanas, o ser humano ainda não é facilmente substituível por automatizações.



[Por mim mesma, K.]

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Quando você olha para uma pessoa e julga aspectos interessantes por indicarem que ela tem dinheiro. Quando você associa esses aspectos interessantes necessariamente com coisas caras e que representam $, então, meu amigo... sinto lhe informar, mas você não é NADA interessante...


[Por mim mesma, K.]

terça-feira, 28 de setembro de 2010

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E me perguntei: se Deus existe, por que fica de fora? Não será Deus ateu?
(GALEANO, 1989)
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MUJERES LIBRES!

Mulher, ama sobre todas as coisas. Antes, porém, aprende o Bom Amor. No Bom Amor pesa tanto o alto como o baixo, o Pensamento como a carne, a Doçura como o Desejo, e é incompleto se lhe falta qualquer uma dessas coisas. [...] Para ele, é necessário plena liberdade, porém, capacidade plena também [...]. Só se é livre quando se pode tomar uma decisão entre todas aquelas que a ocasião oferece; quando se pode escolher um caminho depois de haver reconhecidos todos os outros, avaliando seus valores e aceitando suas conseqüências [...]. Se não te capacitas, mulher, serás um ser de instintos, serás uma carne simples, monótona e limitada, fechada em ti mesma e por ti mesma abolida.

(Elogio do Amor Livre por Amparo Posh y Gascón/ Revista Mujeres Libres, nº 3/Espanha, 1936)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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eu não tenho mais a mesma paciência pra me explicar, 
quem entender, entendeu... 
quem não entender, faz o favor de pensar mais uma vez, ou de largar de mão...
duelo entre egos intelectuais não me instiga mais...
eu quero construir e trocar idéias...
mas percebo que algumas pessoas olham, lêem, analisam, querendo, já por premissa, derrubar...
enfim... não tenho mais paciência...




[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

...

Algumas coisas que acontecem em nossas vidas se fazem difíceis de crer, fazem com que criemos barreiras que nos impedem a entrega total...
Não obstante a magia e o brilho intensos, são reais, estão ali, ao nosso alcance, nos esperando de braços abertos para que nos entreguemos de corpo e alma, para que acreditemos e vivamos...
E quando nos livramos de todo o medo que o maravilhoso nos impõe, atingimos uma felicidade pura e transcendente... 


[Por mim mesma, K.]

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

de um ponto a outro sem sair do lugar...

e vou eu, nesse trem, a pensar em ti, a sonhar-te...
te admirando com os olhares do pensamento...
te sentindo com o tato da memória...
com teu nome atravessado na minha garganta...
que saudade bandida essa que me aperta a alma 
e faz de mim esse ser imaginador de amor...


[Por mim mesma, K.]

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Somebody - Depeche Mode

Bem, aqui vai mais uma belíssima canção do Depeche Mode, mais uma vez, interpretada por Marin Gore. No fim posto o vídeo ao vivo desta música. Muito lindo, só piano e voz.



I want somebody to share, share the rest of my life
eu quero alguém para compartilhar, compartilhar o resto da minha vida
share my innermost thoughts, know my intimate details
compartilhar meus mais íntimos pensamentos, conhecer meus mais íntimos detalhes
someone who'll stand by my side and give me support
alguém que vai estar bem do meu lado e me dar apoio
and in return she'll get my support
e em retorno ela terá o meu apoio
she will listen to me when I want to speak
ela me escutará, quando eu quiser falar
about the world we live in and life in general
sobre o mundo em que vivemos e sobre a vida em geral
though my views may be wrong, they may even be perverted
embora meus pontos de vista possam estar errados, e mesmo serem pervertidos
she'll hear me out and won't easily be converted to my way of thinking
ela me ouvirá, e não será convertida facilmente para meu modo de pensar
in fact she'll often disagree but at the end of it all she will understand me
na verdade, ela discordará freqüentemente, mas ao término de tudo ela me entenderá
I want somebody who cares for me passionately, with every thought and with every breath
eu quero alguém que se importe comigo apaixonadamente, com cada pensamento e com cada respiração
someone who'll help me see things in a different light
alguém que me ajudará a ver as coisas sob uma luz diferente
all the things I detest I will almost like
todas as coisas que eu detesto eu quase gostarei
I don't want to be tied to anyone's strings
eu não quero ser amarrado às rédeas de alguém
I'm carefully trying to stay clear of those things
e estou tentando cuidadosamente ficar afastado essas coisas
and when I'm asleep I want somebody
e quando eu estiver dormindo, eu quero alguém
who will put their arms around me and kiss me tenderly
alguém que coloque seus braços ao meus redor e me beije com ternura
though things like this make me sick, in a case like this, I'll get away with it
 embora coisas como essas me deixem doente, nesse caso, eu arcarei com isso...




Tradução livre por mim mesma, K.







quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Cada vez mais surge "modinhas". O que acha que isso mostra: que a juventade ta cada vez mais perdida, ou que por ter hoje em dia tudo tão fácil, as pessoas estão virando sedentárias idiotas?

Eu acho que é uma convergência social, um processo quase antropológico. É uma geração praticamente perdida. Principalmente pelo contexto sócio-econômico e tecnológico. A gente vive um momento onde a mídia não tem nenhum escrúpulo, e onde os jovens não têm nada pra fazer, nada pra pensar (até teria, mas tudo que é difícil não vale a pena, vivemos numa época imediatista). São cabeças vazias à mercê da propaganda. E quando me refiro à propaganda me refiro à todas as esferas onde ela está inserida nos dias de hoje, ou seja, em todas, ela é quase onipresente, se é que não o é realmente. E é um ciclo vicioso, e se torna cada vez mais difícil sair desse ciclo. E também entra a questão de valores. Vivemos numa sociedade extremamente, hoje mais do que nunca, baseada na estética, na aparência. Onde parecer ser/ter é muito mais importante do que ser. Onde a opinião alheia é fundamental, mas também muito vazia. Onde se valoriza o medíocre, o raso, o superficial. Se conhece cada vez menos de cada vez mais. Uma poluição cultural com poucos ou nenhum critério. 

Contudo, eu acredito e vejo isso como um processo da evolução social humana, uma transformação, e que com certeza vai nos levar a um outro lugar. Se esse lugar vai ser melhor ou pior não sei, mas sei que vai ser diferente.
Esses "sedentários idiotas" subjugados por modinhas são subprodutos do sistema em que vivemos, são meras peças. Tenho pena desse tipo de gente na real, por que percebo o quão limitadas e vazias elas são, o quão sem significado são suas vidas.

Enfim, esses são meus achismos... hehe

=)

Tendo em vista a precariedade do sistema prisional, tu és a favor da redução da maioridade penal para 16 anos?

Olha, pra ser sincera não é um assunto que eu tenha refletido muito. Então qualquer opinião que eu proferir vai acabar por ser rasa. Mas, na minha opinião, entram muitos aspectos sociais em jogo. Se analisar por esse lado, de que o sistema prisional está superlotado, que está ruindo, realmente tu te pergunta se realmente é viável diminuir a maioridade. Mas por outro lado não concordo em basear novas situações em erros. Porque daí se está fazendo uma coisa não porque se acha realmente que é o melhor, mas porque não se quer corrigir um erro anterior. Então talvez devêssemos primeiro pensar no próprio sistema carcerário atual, e não como uma esfera isolada, mas como um sintoma de que algo vai mal (muito mal) na sociedade. Portanto, sendo objetiva, acho que se um adolescente de 16 anos tem condições de votar nas eleições que, por excelência, é a maior e mais importante expressão da democracia, então com certeza tem plenas condições de ser punido como "adulto", por um instrumento, que, para todos os efeitos, também é fruto da democracia. Mas considerando as circunstâncias, para chegar a tal ponto, é preciso primeiro que aconteçam mudanças profundas na estrutura social, para além dos muros e das grades, no próprio caminho que é trilhado antes de se chegar lá. Utópico, sim, mas nem por isso impossível.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Se a ciência assumir que existe uma tal Inteligência Espiritual, não estaria ela a subsidiar, de algum modo, a mediunidade?

Eu encaro o sobrenatural, não como algum tipo de delírio, mas como um mundo a ser descoberto. Eu não acredito que a ciência humana já explicou tudo que existe, ou mesmo que ela já tenha chegado na lógica básica ou fundamental sobre a existência. Penso que qualquer dado novo pode nos deixar totalmente perdidos. Por exemplo (pra citar o Arquivo X ¬¬), vai que daqui a pouco topamos com uma forma de vida baseada em silício, mudaria totalmente nossos parâmetros.
Contudo, o conceito "inteligência espiritual" precisa ser definido. Numa "inteligência", no sentido de lógica, eu acredito e não vejo nenhuma implicação maior. Mas "consciência espiritual" é que é o problema, às vezes as pessoas confundem. A questão da "consciência espiritual" já penso que é muito mais uma projeção cultural/psicológica humana.
Então, pra concluir, em relação a mediunidade, eu analiso a possibilidade desta dentro da própria ciência, e não fora dela. Neste sentido, a ciência não estaria "assumindo", mas explicando, pois a ciência, por definição, diz respeito ao que é provado com base em procedimentos e evidências científicas. Ela não pode simplesmente decidir acreditar ou defender algo. Portanto, acho que em algum momento a ciência pode vir a chegar ao ponto de explicar fenômenos mediúnicos, colocá-los num nível do natural.



[Por mim mesma, K.]

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Considerações de um ônibus...

Alguns-muitos-todos sentem o intenso desejo de dar algum sentido a sua vida, de deixar, de alguma forma, algo atrás de si, de fazer a diferença sob algum aspecto. Talvez deste intenso e inerente desejo, é que nasçam as coleções de tudo que se possa imaginar, ou os recordes, as façanhas, a eterna busca de superação. Talvez muito do homem nasça desse sentimento tão íntimo, dessa agonia, dessa ânsia por dar algum sentido a existência, individual ou mais ampla.
Felizes aqueles que conseguem justificar sua existência na cotidiana e despretensiosa prática de viver.


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[Por mim mesma, K.]



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Como o ser humano poderia se redimir perante si próprio após tantas gerações de individualidade?

Eu vejo que o ser humano em geral, tem a mania de inventar entidades onde possa descarregar toda a culpa sobre tudo. Assim foi com o Diabo, assim foi com o “sistema”, o “capitalismo”, etc. E assim, evidentemente, me refiro ao tal de “individualismo”, que na verdade é uma ausência total de coletividade, uma indiferença ao próximo, uma “ruindade” incipiente do homem. Ou seja, a maldade e perversidade do ser humano. Eu posso dizer que sou individualista, na medida em que não gosto de depender de ninguém, na medida em que não quero dividir todas as minhas coisas, gosto de ter minhas coisas, meu canto, meus segredos. Então não vou ser hipócrita e gritar: abaixo ao individualismo! Mas eu tenho um senso de coletividade muito forte, nas pequenas coisas, naquelas que realmente importam, do dia-a-dia. Eu penso no meu próximo, quando ando na rua. Quando leio rápido um livro pra devolver logo pra que outra pessoa possa ler, quando dou meus livros (BONS) pra biblioteca pública municipal pra que outras pessoas possam ter acesso a eles. Quando respeito o pensamento das outras pessoas, quando não as julgo pela roupa ou aparência, quando percebo que a vida é mais do que o simples agora, do que o efêmero tempo de minha geração. Isso está na minha esfera de possibilidade. Eu não sou uma pessoa de grandes atos heróicos, que quer salvar a humanidade. Principalmente porque ela não quer ser salva. Eu não sou essa pessoa, e nem serei pra meramente seguir uma tendência. Respeito muito quem se dedica a isso, mas isso não é pra mim. O que não quer dizer que não me importe, que seja uma desalmada egoísta. Esse tipo de maldade é o pior de todos, fazer o “bem” pra criticar quem não o faz, ou pra jogar na cara de todos que o faz, ou ainda pior, pra comprar sua entrada no céu. Enfim, acho que desvirtuei a resposta, mas era isso que tinha pra dizer no momento. ¬¬

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Como você define a vida?

Nossa! Lembro de já ter falado sobre isso pessoalmente contigo. Buenas, bora lá. Antes de tudo, e muito importante, eu acredito, hoje mais do que nunca, que nossas definições sobre o que é a vida são muito dinâmicas, mutáveis e particulares. Elas têm muito mais a ver com os conhecimentos e as experiências que agregamos ao logo de nossos caminhos pessoais do que com qualquer verdade absoluta. Então eu posso dizer que qualquer que seja o meu discorrer sobre o assunto nesse momento, ele vai estar impregnado do que eu sou agora, quase como um reflexo no meu estágio evolutivo. Mas enfim, hoje, para mim, a vida é uma oportunidade de crescimento pessoal, espiritual e humano. Pra MIM, é como EU quero aproveitá-la.
Lembrei-me de um trecho da Rice que, apesar de ingênuo, reflete MUITO meu estado de ânimo sobre o assunto atualmente.

- Só existe um propósito na vida: dar testemunho de e compreender o máximo possível a complexidade do mundo – sua beleza, seus mistérios, seus enigmas. Quanto mais você compreende, quanto mais você olha, mais você aproveita a vida e mais você se sente em paz. É simples assim. Todo o resto são prazeres e jogos. Se uma atividade não tiver como base “amar” ou “aprender”, ela não tem valor. [RICE, 1996]

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Galeano

Mas provoca-me engulhos, confesso, ler alguns trabalhos valiosos de certos sociólogos, politicólogos, economistas ou historiadores que escrevem em código. A linguagem hermética nem sempre é o preço inevitável da profundidade. Em alguns casos pode estar simplesmente escondendo uma incapacidade de comunicação, elevando-a à categoria de virtude intelectual. Suspeito que o fastio serve, dessa forma, para bendizer a ordem estabelecida: confirma que o conhecimento é um privilégio das elites. [GALEANO, 1971]

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Conselhos para a madrugada

Primeiramente, uma coisa banal, mas que precisa ser dita. Se você, em algum momento, sentir que está bêbado demais, que passou do nível de dignidade pública, por favor, não tente flertar com ninguém, não vai ser legal para você mesmo.
Segundamente. Se você, em algum momento, sentir que está  realmente interessado em alguém numa festa e, com "realmente interessado" quero dizer que você realmente pensa que aquela pessoa pode acrescentar à sua vida, que aquela pessoa pode ser "aquela pessoa". Enfim, se sentir que seu interesse vai além da atração física e de qualquer superficialidade noturna corriqueira. Bom, então, eu dou um conselho simples: não comece um diálogo com essa pessoa dizendo como você acha ela bonita!
Primeiro, se ela gostar desse elogio, é porque ela é egocêntrica e valoriza a aparência, coisa que, na minha humilde opinião, não é muito interessante. Segundo que se ela ficar com você, só por isso, só porque você a acha bonita e massageou um pouco o ego dela, então é cabível de você se perguntar: é com esse tipo de pessoa medíocre e rasa que eu quero estar durante a minha vida?
Claro que eu estou falando sobre uma situação específica, partindo de um pressuposto de que você esteja realmente interessado em alguém, e com "realmente interessado" quero dizer aquilo que já disse lá em cima.
É claro que entre uma situação e outra existem N variáveis, e etc. Só quis dar minha opinião sobre algumas situações pelas quais já passei, ou pelas quais já vi amigos passarem. Mas cada um busca sua felicidade do jeito que melhor lhe apetece.
Obs.: Me refiro aqui aos dois gêneros, homens e mulheres, usei 'ela' porque me referi sempre ao termo 'pessoa'.


[Por mim mesma, K.]

quarta-feira, 28 de julho de 2010

.um oco nada.

- Costumava acreditar que superaria isto. Que quando a dor por tudo que aconteceu o deixasse, voltaria a ter calor e se encheria de amor, e se encheria daquela curiosidade feroz e insaciável que demonstrou em nosso primeiro encontro, aquela consciência inveterada e aquela sede de saber que o levou à Paris e à minha cela. Pensei que fizessem parte de você e não pudessem morrer. [...] E acreditei que o atrairia e o prenderia a mim. E teríamos muito tempo, seríamos professor um do outro. Todas as coisas que lhe trouxessem felicidade também me trariam, e eu seria o guardião de sua dor. Meu poder seria o seu poder. Minha força também. Mas você está morto por dentro, é frio e está fora de meu alcance! É como se eu não estivesse aqui, a seu lado. E sem estar com você, tenho a terrível sensação de que simplesmente não existo. E você é tão insensível e distante quanto estas estranhas pinturas modernas de linhas e formas brutas que não posso amar ou compreender, tão enigmático quanto as esculturas mecânicas atuais, que não têm forma humana. Tremo quando estou próximo de você. Olho em seus olhos e não encontro meu reflexo...


(Armand)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Blue Dress - Depeche Mode

Decidi postar essa música porque ela tem sido muito especial, e muito ouvida, quase que obsessivamente...
não porque eu tenha um vestido azul, ou porque se traduza de alguma forma na minha vida. Mas simplesmente porque essa música é absurdamente linda... e eu tenho vontade de chorar quando escuto ela. Sinto um amor muito impregnado nesta letra e nessa melodia, e talvez, pensando melhor, se reflita na minha vida na forma do desejo de viver um sentimento assim... enfim... enjoy... 

Ps.: Ah, e ao contrário do que é fácil pensar, não é o Dave Gahan que canta essa música, mas o Martin L. Gore, guitarrista, vocalista e multi-instrumentista da banda. Ele tem uma voz incrivelmente parecida com a do Dave, embora exista algo fundamentalmente diferente, que é quase impossível de identificar. Acabei descobrindo que as minhas músicas preferidas do Depeche Mode são cantadas pelo Martin, um acaso nem tão casual.

ou 

Put it on
And don't say a word
Put it on
The one that I prefer
Put it on
And stand before my eyes
Put it on
Please don't question why

Can you believe

Something so simple
Something so trivial
Makes me a happy man
Can't you understand
Say you believe
Just how easy
It is to please me

Because when you learn

You'll know what makes the world turn

Put it on

I can feel so much
Put it on
I don't need to touch
Put it on
Here before my eyes
Put it on
Because you realise
And you believe

Something so worthless

Serves a purpose
It makes me a happy man
Can't you understand
Say you believe
Just how easy
It is to please me

Because when you learn

You'll know what makes the world turn

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Será a vida um túnel entre duas vagas claridades ou uma claridade entre dois triângulos escuros?" - Pablo Neruda

analisando sob uma ótica de nível de conhecimento humano acerca dos limites naturais da vida e, assim, considerando que não sabemos muito sobre de onde viemos e nem sobre pra onde vamos, creio que é a segunda opção...

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terça-feira, 6 de julho de 2010

...

pensando esse dias...
cheguei a conclusão de que pra ser 'alguém' na vida, 
eu precisaria abrir mão do alguém que eu realmente sou...
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[Por mim mesma, K.]

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Uma pergunta simples: como podemos (efetivamente) mudar o mundo, fazer com que ele seja bom para todos?

Bah, essa pergunta não exatamente simples, mas enfim...
Acho que o mais efetivo é vivermos nós, no nosso cotidiano da maneira mais humana e coletiva possível, nos enxergarmos, cada um de nós, como parte de um todo. E isso eu digo nos mínimos detalhes: não atropelar as pessoas ao entrar ou sair do trem, não bater nas pessoas na rua, respeitar o outro, a vida em si. Princípios básicos de humanidade e coletividade.
É no que acredito, e é o que está ao meu alcance, como pessoa. Conforme vamos deixando a responsabilidade para grandes atos heróicos, cada vez mais a esfera de mudança se distancia de nós.

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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago...


“(...) afinal a ausência é também uma morte, a única e importante diferença é a esperança”. 
(SARAMAGO, 1991) 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

música, para quê te quero...



— Bem, na minha opinião não há nenhum sentido em falar-se a respeito de música. Nunca falo sobre isto. Que responder, então, às suas observações eruditas e judiciosas? O senhor tem toda a razão naquilo que afirma. Mas, veja, eu sou um músico, não um erudito, e no que diz respeito à música acho que não há a menor importância em estar alguém com a razão. A música não depende de estarmos com razão, de termos bom gosto ou erudição musical e tudo o mais.
— Ah, não? E de que depende então?
— De se fazer música, Sr. Haller, de se fazer música tão boa e tão abundante quanto possível e com toda a intensidade de que alguém é capaz. Aí é que está a coisa, Monsieur. Ainda que eu tivesse na memória toda a obra de Bach e de Haydn e pudesse dizer as coisas mais admiráveis a respeito delas, isto não teria a menor utilidade para os outros. Mas quando tomo meu instrumento e toco um shitnmy bem movimentado, seja este bom ou mau, há de causar alegria a alguém, entrará pelas pernas e até chegará ao sangue. Isto e somente isto é o que importa. Observe a fisionomia dos pares num salão de dança no momento em que a música volta a tocar após uma pausa prolongada, observe como os olhos brilham, como as pernas se movem e os rostos começam a sorrir. É por isso que se faz música.
— Muito bem, Sr. Pablo. Mas não é só a música sensual que existe, existe também a espiritual. Além daquela música que se executa no momento, existe a música imortal que sobrevive mesmo quando já não é interpretada. Pode estar uma pessoa sozinha deitada e vir lhe ao pensamento um trecho da Flauta Mágica ou da Paixão Segundo Mateus, então a música se faz realidade sem que alguém precise de soprar a flauta ou de arranhar o violino.
— Sem dúvida, Sr. Haller. Também o Yearning Valencia são reproduzidos cada noite por muitas pessoas solitárias e sonhadoras; até a mais humilde datilografa tem na cabeça, quando está no escritório, os ritmos do último one-step e acompanha no teclado o seu compasso. O senhor tem razão. A todas essas pessoas solitárias eu concedo a música muda, seja ela o Yearning, seja a Flauta Mágica ou Valencia. Mas, de onde recebem, porém, esses homens a música solitária e muda? Recebem-na de nós, dos músicos, pois primeiro ela tem de ser executada e ouvida e penetrar no sangue, antes que alguém possa pensar nela sozinho em seu quarto e com ela sonhar.
— De acordo — disse friamente. — No entanto, não se pode colocar no mesmo plano a música de Mozart e o último foxtrote. E não é a mesma coisa servir ao público música divina e eterna ou música barata e efêmera.
Quando Pablo percebeu a excitação de minha voz, assumiu a expressão facial mais amável, tocou-me o braço e falou com incrível doçura:
— Ah! meu caro senhor, nisto dos planos pode ser que o senhor tenha toda a razão.
Nada tenho a objetar que coloque Mozart, Haydn e Valentia no plano que melhor lhe agrade. A mim pouco importa. Nada tenho de decidir sobre tais planos, nunca me perguntaram nada sobre eles. É possível que continuem a executar Mozart daqui a cem anos e talvez daqui a dois anos já nenhuma orquestra toqueValencia, mas isso podemos deixar tranqüilamente nas mãos de Deus. Ele é justo e tem em suas mãos a duração da vida de todos nós, até mesmo de cada valsa e de cada foxtrote. Ele saberá fazer o que é justo. Mas nós os músicos temos de fazer a nossa parte, o que é nosso dever e nosso ofício: devemos tocar o que o público pede no momento e devemos fazê-lo bem e de maneira bela e tocar com todo o entusiasmo possível.
Suspirando, assenti também a isto. Não havia jeito de enquadrar o homem. (HESSE, 1927)