"Há muitos anos este era um
planeta próspero e feliz; pessoas, cidades, lojas, um mundo normal. Exceto pelo
fato de que nas ruas altas dessas cidades havia mais sapatarias do que se creria
necessário. E lentamente, insidiosamente, o número dessas sapatarias ia
aumentando. É um fenômeno econômico bastante conhecido, mas trágico de se ver
em operação, pois quanto mais sapatarias havia, mais sapatos tinham que ser
feitos, e piores e mais imprestáveis iam ficando esses sapatos. E quanto piores
ficavam, mais as pessoas tinham que comprar para se manterem calçadas, e mais
as sapatarias proliferavam, até que toda a economia do lugar passou pelo que
creio que foi chamado de Advento da Era do Sapato, e não foi mais possível
economicamente construir qualquer outra coisa que não fosse sapataria.
Resultado: colapso, ruína e fome. A maioria da população pereceu. Aqueles
poucos que tinham o tipo certo de instabilidade genética transformaram-se por
mutações em pássaros — você viu um deles — que amaldiçoaram seus pés,
amaldiçoaram o chão e juraram que ninguém mais pisaria nele. Bando infeliz."
(O restaurante do fim do Universo. Douglas Adams, 1980.)
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