terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Fábrica de remoer...

Fico remoendo sempre as mesmas coisas, e quando paro de remoê-las, penso em quão minha condição de “remoedora” é patética. Dou aos fatos uma dimensão gigante, tanto para os ruins, quanto para os bons.
Reflito sobre aquele pensamento de que mesmo que algo te pareça bom, tanto não o é, pois poderia ser muito melhor, logo, no fim das contas sempre acaba acontecendo o pior. A gente, sempre otimista e, claro, acostumado à realidade cruel do cotidiano, nos aliviamos quando não acontece algo de tão ruim assim. Dessa forma, então, aprendemos a achar tremendamente bom, o que é uma grande merda que, claro, poderia ser muito pior também, mas que podia ser infinitamente melhor. Evidentemente há duas formas de se enxergar essa “reflexão”, tanto usando um extremo, quanto o outro. Por exemplo, se pensarmos, que sempre acontece o melhor, por que poderia ter acontecido algo muito pior.
Por mais que a senhora lógica venha nos colocar na cabeça que tanto um quanto o outro pensamento são racionalmente possíveis, dentro do contexto, mesmo assim não te parece que é muito mais aceitável e coerente o primeiro caso? A mim, sem dúvida. Talvez opinião filha da insatisfação nata do ser humano, de condicionamentos, enfim. Mas logo, considerando que os conceitos de “melhor” e “pior” são totalmente relativos transitórios, acho que todas as especulações até então não valeram de nada. Ficando mais itens para a pseudofilosofia.
Então, fico mergulhada numa incógnita, que hora sou eu, hora são os outros e tudo o que eles significam dentro da minha cabeça. Sem saber ao menos de onde vim, pra onde vou ou que diabos estou eu fazendo aqui.
Acho que pelo menos 90% das pessoas (chute) devem ter esse tipo de questionamento. A diferença é que vivo dentro desse questionamento. Sou meu questionamento. Não acho, em nada, algo que me venha favorecer o encontro com um “porquê” que me convença. Esses 90% sempre acabam encontrando esse porquê, seja de uma forma ou de outra. E não estou falando de verdade absoluta, pois aí está algo que também me angustia aos montes. Essas pessoas encontram algo para sustentar sua existência, e qual delas está certa? Talvez nenhuma, talvez todas. O fato é que encontram sua verdade, conseguem autojustificar suas existências.
O fato é que talvez todas elas estejam simplesmente sendo regidas pela imaginação. Talvez todo esse meu questionamento seja fruto de um condicionamento ao ser humano de se achar superior aos outros animais, de achar que existe algo mais, mas talvez não exista nada, e sejamos apenas animais que pensam demais, com tecnologia demais, mas iludidos pela tola mitologia que nós mesmos criamos quando ainda não conseguíamos explicar o nascer do sol.
Infelizmente, esse parecer é o que mais me vem sendo cabível. Isso sem dúvida deixa qualquer um em profundo estado alarmado, de angústia e inquietação. Por que se o for como realmente penso (por eliminação de outros), o que mais tenho a fazer aqui? Multiplicar-me? Vencer os mais fracos? Ocupar a maior parte de território possível?
Durante muito tempo, tive a impressão de que o melhor a se fazer, era procurar, pois, prazeres, sensações boas, que agradassem meu ser, de uma forma ou de outra, num frenesi hedonista. Coisas simples como beijar, fazer novos amigos, sair, escutar aquela canção ótima. Enfim, coisas que liberassem a tal substância no cérebro que te faz sentir bem (a ciência já mecanizou até o amor ora pois!). Por um tempo isso aquietou minha inquietude. Mas agora estou numa fase terrível, posso dizer. Não tenho visto perspectiva em nada. As únicas coisas que me fazem bem, e também acabo me perguntando qual é o mecanismo envolvido nisso (no universo), são estar com os amigos, pessoas de quem realmente gosto, sinto prazer de estar ao lado, conversar com tais, me envolver em suas vidas, me importar com elas e ganhar a reciprocidade, e ler, conhecimento em geral, que talvez tenha a ver com os questionamentos constantes. Disseram-me, uma vez, por ironia uma pessoa que nem me conhecia, só através do perfil do orkut, que eu devia ser uma pessoa que gosta de fugir da realidade, pelo profundo gosto pela leitura. Desde então comecei a associar essas duas informações, e sem dúvida, penso, que senão de todo, em parte ela esteve correta.
Então, em meio a tanta filosofia de boteco, venho engavetar mais um dia de minha existência. Fechado com chave de ouro devo dizer, já que encontrei no ônibus uma criatura que fez o primeiro médio comigo. Era garota, muito bem vestida, e eu me senti um lixo, absolutamente desgrenhada e desalinhada, perto daquela florzinha de jasmim, que enquanto fingia que não me conhecia, soltava aquele olhar de profunda superioridade pra cima de muá. É incrível que, por mais que tenhamos convicção de que somos melhores que algumas pessoas (negar isso é demagogia), mesmo assim, muitas vezes nos sentimos mal perto delas por motivos ridículos.
(06.06.06, data sugestiva...)

[Por mim mesma, K.]

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